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Desemprego fica em 11,1% em março; renda média cai 8,7% na comparação anual

No mesmo período de 2021, taxa de desemprego estava em 14,9%

Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - O desemprego no Brasil foi de 11,2% no trimestre terminado em fevereiro para 11,1% no encerrado em março, a mais baixa para o período desde 2016, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta sexta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado ficou bem perto do piso das expectativas dos analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, que estimavam uma taxa de desemprego entre 11,0% e 11,7%, com mediana de 11,4%.

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"Ao contrário dos dados anteriores, em que, apesar de a taxa mostrar uma surpresa para baixo, a composição mostrava uma piora, o número de hoje está muito melhor do que o esperado, na taxa, na composição e nos salários", opinou Mirella Hirakawa, economista-sênior da AZ Quest. "A gente começa a entender que o mercado de trabalho está mais aquecido, e muito mais aquecido, do que o anteriormente esperado."

A surpresa contraria a tendência de alta na taxa de desemprego no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre do ano anterior. Ao fim de 2021, a taxa de desocupação também estava em 11,1%. Segundo o IBGE, o mercado de trabalho manteve a tendência sazonal de dispensa de trabalhadores temporários no primeiro trimestre, mas houve menos demissões do que em anos anteriores.

“De modo geral, a ocupação caiu menos do que costuma cair em primeiros trimestres de anos anteriores”, afirmou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A pesquisadora lembra que a pandemia congelou por meses a demanda de estabelecimentos por mão de obra, especialmente em atividades como comércio, alojamento e alimentação, transporte e outros serviços, que são os serviços prestados às famílias. Com a melhora na crise sanitária, o setor de serviços viu deslanchar seu funcionamento e absorção de trabalhadores no fim do ano passado. O último trimestre de 2021 teve forte geração de ocupação, mas nem todos foram dispensados no primeiro trimestre de 2022, então a taxa de desocupação ficou estável, explicou Beringuy.

“Eles tiveram um período bem intenso de retração. No terceiro trimestre de 2021, em função do avanço da vacinação, flexibilização do funcionamento das atividades e toda a demanda reprimida de consumo das famílias por bens e serviços, isso levou essas atividades a absorverem mais trabalhadores. Então a gente está ainda vivendo nesse primeiro trimestre um efeito de uma expansão muito vigorosa da ocupação no final do ano passado”, justificou Beringuy. “Isso, somando a todo esse cenário que ainda não chega a ser um pós-pandemia, mas, em termos econômicos, a gente sente uma retomada bastante importante. E tende a acabar se refletindo no mercado de trabalho, no fluxo de ocupação e desocupação”, acrescentou.

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472 mil vagas a menos

Houve extinção de 472 mil vagas no primeiro trimestre de 2022 ante o quarto trimestre de 2021, enquanto 62 mil pessoas desistiram de procurar trabalho. A taxa de desemprego não aumentou porque 929 mil cidadãos decidiram aderir à inatividade, ou seja, nem trabalharam nem buscaram uma vaga.

“Com relação à ida para a inatividade, a gente tem que olhar com certo cuidado, porque essa ida não necessariamente é processo de desistência ou desalento”, ponderou Beringuy, lembrando que também há uma tendência sazonal para o fenômeno. “Isso tem muito a ver com o próprio período de férias em si. Muitas pessoas interrompem essa busca (por emprego). Está muito relacionado às mulheres, em função de férias dos filhos, não ter uma creche funcionando, uma escola funcionando. Pode ter recorte por gênero. E também estudantes em férias”, exemplificou.

O primeiro trimestre foi marcado ainda por uma redução na informalidade, com 742 mil pessoas a menos trabalhando nessa condição, e por uma abertura de 380 mil vagas com carteira assinada no setor privado, o que fez a renda média do trabalhador subir 1,5%. No entanto, o salário de quem se manteve empregado ficou 8,7% menor em um ano, R$ 241 a menos.

Pessoas em busca de emprego; IBGE divulgouos resultados da Pnad referentes ao trimestre encerrado em março Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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"A gente vê que a ocupação subiu, que gerou-se empregos, inclusive formais, o que é uma boa notícia. De fato, uma surpresa positiva para a economia brasileira", opinou o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles.

Apesar do cenário melhor no curto prazo, Salles alerta que a queda da renda real ainda é uma preocupação na dinâmica do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, em que pese o desemprego abaixo do esperado nesta leitura, a tendência ainda é de aumento da desocupação no segundo semestre, quando os efeitos do aperto monetário brasileiro devem se refletir com mais força na atividade.

"Na segunda metade do ano, a economia deve sofrer uma desaceleração, pelos efeitos de uma política monetária contracionista, e o desemprego deve voltar a subir", previu o economista do C6 Bank.

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Mão de obra subutilizada

O País ainda tinha 11,949 milhões de desempregados no primeiro trimestre de 2022. Considerando toda a mão de obra subutilizada, ainda faltava trabalho para 26,812 milhões de pessoas.

A economista Marina Helena Santos, diretora-executiva do Instituto Millenium, calcula que, descontados os efeitos sazonais, o desemprego tenha descido a 10,9%, o que seria o menor nível desde abril de 2016, mas corrobora a avaliação sobre a necessidade de cautela.

“Porém, é um retrato de março e sabemos que as condições têm se deteriorado, no Brasil e no mundo. Temos que ser cautelosos quando olhamos à frente, porque o aumento das taxas de juros no Brasil e no mundo indica que a recuperação da atividade e do mercado de trabalho deve continuar tímida. No caso do Brasil, ainda seguimos com patamares historicamente altos", frisou a economista Marina Helena Santos, em nota.

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