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Desemprego na Grande SP é o menor desde agosto de 1998

O índice ficou em 16%, ante 16,7% no mês passado; rendimento médio teve alta de 5,1% em relação a junho

Por Agencia Estado
Atualização:

A taxa de desemprego nos 39 municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo ficou em 16% da População Economicamente Ativa (PEA), retrocedendo em relação aos 16,7% verificados em julho. Em agosto do ano passado, a taxa era de 17,1%. Os dados fazem parte da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada nesta terça-feira pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que revela que a taxa de desemprego 16% é a menor verificada para o mês de agosto desde 1998. A queda da taxa está dentro da expectativa que vinha sendo mantida pelos técnicos da Fundação Seade e do Dieese, conforme informaram os especialistas das duas instituições. "O que estranhamos foi a demora de tanto tempo para o emprego crescer e o desemprego diminuir", declarou o coordenador de Análises da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) pela Fundação Seade, Alexandre Loloian. O contingente de desempregados da região foi estimado em 1,60 milhão de pessoas, uma queda de 71 mil em relação a julho ocasionada, principalmente, graças a geração de 67 mil ocupações e também da saída de 4 mil pessoas do mercado de trabalho. O nível de ocupação teve alta de 0,8%, em agosto ante julho, resultado de 45 mil postos criados em serviços; 33 mil, em outros setores (concentrado em serviços domésticos e construção civil); e "relativas estabilidades" na indústria e no comércio, com os respectivos cortes de 4 mil e 7 mil ocupações. A PED demonstra ainda que houve crescimento dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores entre junho e julho. No total dos ocupados, o rendimento médio real correspondeu a R$ 1.119, alta de 5,1% em julho ante junho. Na mesma base comparativa, o conjunto dos assalariados registrou alta de 5%, com o rendimento equivalendo a R$ 1.179. Os especialistas estimam que a taxa de desemprego deverá cair nos próximos meses. "Embora o cenário não seja dos mais favoráveis, o fato é que, no segundo semestre, tudo melhora e mantemos a previsão que a taxa de desemprego cederá mais", disse Loloian. O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ressalvou, entretanto, que a Região Metropolitana de São Paulo se encontra num "patamar elevado" de ocupação, o que poderia diminuir o ritmo de queda do índice do desemprego. PIB Além disso, os especialistas observaram ser "preocupante" as recentes revisões para baixo nas previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2006, trazendo, assim, influência direta nas expectativas empresariais e, conseqüentemente, na intenção de criar postos de trabalho. "As indicações são de um crescimento econômico muito localizado em alguns setores produtivos e algumas regiões do País. Enfrentamos ainda o problema do câmbio sobrevalorizado e juros ainda em patamares elevados, não obstante a crescentes e constantes revisões para baixo da inflação", listou Loloian. Outra dúvida sobre o comportamento do mercado de trabalho na Grande São Paulo está ainda na baixa taxa de participação da PEA. Conforme a pesquisa, considerando-se toda a População em Idade Ativa (PIA), ou seja, correspondente a dez anos ou mais de idade, 62,7% estão no mercado de trabalho, índice considerado baixo, na mesma proporção verificada durante a década de 90. "Se houver expansão da PEA, com mais pessoas procurando emprego, pode ser que a taxa de desemprego até aumente neste resto de ano", ponderou Ganz Lúcio. Teoricamente, entretanto, os especialistas lembraram que, por dois meses consecutivos, em junho e julho, tanto o rendimento médio real do total dos ocupados, como também a massa de rendimentos, apresentaram crescimento, o que poderia estimular as famílias a postergarem o ingresso de jovens no mercado de trabalho e também desestimularem idosos a procurarem trabalho. "Pode ser que as famílias segurem seus jovens e velhos e a taxa de participação se mantenha estável, favorecendo a queda da taxa de desemprego", ponderou Loloian. Reajuste Vários fatores justificariam, de acordo com os técnicos das duas instituições, o crescimento do rendimento em julho. Uma das principais razões, segundo esses especialistas, seria os efeitos provocados pelo reajuste do salário mínimo em abril, que passa a rebater sobre o restante dos salários com o passar dos meses. "Não tem como não dar valor à questão do mínimo. Há um efeito de deslocamento, no qual o mínimo atinge todas as escalas de salários", analisou Loloian. Conforme a PED, entre os 25% mais pobres da Grande São Paulo, houve aumento de 1,1% nos rendimentos em julho ante junho, equivalendo a R$ 266. Entre os 25% mais ricos, a alta foi de 7,2%, correspondendo a R$ 2.801. "Evidentemente que o aumento do mínimo foi mais sentido entre os mais pobres logo depois da correção, em abril. Agora, começa a aparecer entre os mais ricos", explicou Ganz Lúcio. Outros fatores também pesaram para a expansão do rendimento, segundo os técnicos da Fundação Seade e do Dieese: Crescimento do emprego com registro em carteira, com remuneração maior; a redução do número de autônomos no mercado, que recebem valores menores pelo trabalho; a manutenção de postos pela indústria; as campanhas salariais do primeiro semestre foram bem sucedidas, já que mais de 80% das negociações analisadas pelo Dieese apontarem para acordos com recomposição acima da inflação; e os baixos índices de inflação registrados esse ano. A queda do desemprego entre homens, com mais de 40 anos, e chefes de domicílio, foi outra condição a permitir o crescimento da renda na Grande São Paulo. "Esse tipo de emprego é, normalmente, voltado para pessoas de maior qualificação e de maiores salários", assinalou Ganz Lúcio. Há expectativa dos especialistas das duas instituições pela continuidade do crescimento da renda no restante do ano. "Tudo dependerá da manutenção de desempenho dos sindicatos nas negociações salariais, da indústria continuar mantendo o emprego, da continuidade da criação de postos com carteira assinada; e que a inflação persista em valores baixos", listou Ganz Lúcio. Se isso de fato acontecer, há a possibilidade de a taxa de participação, ou seja, o total de potenciais trabalhadores que efetivamente estão no mercado de trabalho, se manter estável na faixa de 63%, índice apurado em julho. "Teoricamente, o aumento da renda pode conter o ingresso de pessoas à População Economicamente Ativa, sustentando a taxa de participação e impedindo o crescimento da taxa de desemprego", analisou Loloian. Construção civil As medidas de estímulo à construção civil implementadas pelo governo federal ao longo deste ano parecem começar a surtir efeito no mercado de trabalho da Grande São Paulo. De acordo com a PED, em julho ante junho, 33 mil empregos foram criados no segmento de Outros Setores, concentrado principalmente em serviços domésticos e construção civil. Desses, cerca de 10 mil foram gerados especificamente no setor de construção. "Imaginamos que, após as medidas lançadas pelo governo, essa pode ser a primeira manifestação de criação de postos no setor de construção", adiantou Loloian. "Vamos aguardar se isso é sustentável nos próximos meses e se o ritmo de contratação será mantido", emendou Ganz Lúcio. Além de identificarem um possível início de contratações no setor de construção, os especialistas das duas instituições também destacaram a retomada da geração de postos de trabalho identificada em julho, com saldo de 67 mil cargos, alta de 0,8% sobre junho. "Parece que a ocupação voltou à normalidade. Não foi um crescimento nada espetacular, mas elevou o número de ocupados da Grande São Paulo, algo positivo", avaliou Loloian. Também foi bem recebida pelos técnicos a informação de que o emprego no setor industrial da Região Metropolitana de São Paulo se manteve "relativamente estável", com o corte de apenas 4 mil ocupações em julho ante junho, uma queda de 0,3%. "A indústria sofre queda das exportações e aumento de importações, por conta do câmbio valorizado, e também sofre com os juros elevados. Isso, claramente, leva as indústrias a reverem seus planos de investimento", apontou Loloian. "Essa estabilidade de emprego na indústria certamente tem a ver com o clima de revisão para baixo das estimativas de crescimento do País em 2006", acrescentou. Matéria alterada às 18h06 para acréscimo de informações

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