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Coronavírus encontra mercado de trabalho em ritmo lento; desemprego deve subir nos próximos meses

No trimestre encerrado em fevereiro, desocupação estava 11,6%; até janeiro, taxa estava em 11,2%

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus se abaterá sobre um mercado de trabalho que começou o ano no mesmo ritmo de lenta recuperação visto ao longo de 2019: no trimestre móvel encerrado em fevereiro, antes, portanto, da covid-19 paralisar o País, a taxa de desemprego ficou em 11,6%, abaixo dos 12,4% de um ano antes, com geração de 1,8 milhão de vagas, a maioria informais, informou nesta terça-feira, 31, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Carteira de Trabalho. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Com o avanço da covid-19 e as medidas de isolamento social para tentar conter a pandemia, economistas preveem aumento do desemprego nos próximos meses. Por outro lado, pesquisadores do IBGE alertaram que, num primeiro momento, a taxa de desocupação poderá até cair, mas isso não significará melhora do mercado de trabalho.

A GO Associados projeta crescimento da taxa de desemprego média do ano para 13,8% em 2020, dos 11,9% em 2019, com forte retração no emprego informal. “Nos próximos dois a três meses, vamos ter um pico de desemprego que depois, talvez, vá reduzindo, a depender da velocidade da recuperação. Mas, pelo que estamos vendo, uma taxa abaixo de 10% se tornou uma perspectiva muito distante”, afirmou o economista Lucas Godoi, da GO.

O economista-chefe do ASA Bank, Gustavo Ribeiro, que viu sinais de desaceleração no ritmo de melhora no mercado de trabalho nos dados até fevereiro, projeta um aumento entre 1 e 2 pontos porcentuais em relação ao nível atual da taxa de desemprego – considerando a estimativa de retração de 3,0% na economia este ano, nos cálculos da equipe do ASA Bank.

“Quanto mais o mercado de trabalho piorar, mais lenta será a recuperação. Neste sentido, as medidas (de apoio à manutenção de empregos anunciadas pelo governo até aqui) também são essenciais para minimizar as perdas”, afirmou Ribeiro.

Godoi, da GO Associados, estima que os primeiros efeitos serão uma redução no emprego, tanto formal quanto formal. O emprego formal vinha se recuperando lentamente – das 1,830 milhão de pessoas que encontraram trabalho no período de um ano até o trimestre móvel encerrado em fevereiro, 646 mil foram em vagas com carteira assinada. Já o trabalho informal ocupou 38,081 milhões no trimestre encerrado em fevereiro. Em um ano, 670 mil pessoas entraram para esse grupo.

Os pesquisadores do IBGE alertaram, por outro lado, que a redução no emprego poderá não ser acompanhada de uma alta do desemprego num primeiro momento. Isso poderá ocorrer não por fatores positivos, mas sim porque, com todos confinados, parte dos trabalhadores que perderá seus empregos talvez não consiga sair de casa para procurar uma nova oportunidade. Pela metodologia do IBGE, que segue recomendações internacionais para as estatísticas do mercado de trabalho, só é considerada desempregada a pessoa que está ativamente procurando emprego.

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“Podemos ter uma queda na taxa de desocupação, mas não podemos, em tempos de confinamento, acreditar que uma taxa que caia seja em função de uma melhora no mercado de trabalho”, afirmou Cimar Azeredo, diretor adjunto de Pesquisas do IBGE. “As pessoas não estão saindo para trabalhar, quanto mais para procurar trabalho”, completou.

Em casa, esses trabalhadores podem entrar em situação de desalento, quando a pessoa desiste de procurar emprego porque acha que não conseguirá. No trimestre terminado em fevereiro, 4,693 milhões de brasileiros estavam nesse grupo, queda de 2,5% em relação a um ano antes. Os trabalhadores em casa também podem entrar na força de trabalho potencial, quando a pessoa não está em busca de emprego, mas estaria disponível para trabalhar se tivesse chance.

A força de trabalho potencial; o grupo das pessoas que trabalham menos do que gostariam ou poderiam; e os efetivamente desempregados são consideradas pelo IBGE na taxa de subutilização da força de trabalho, espécie de taxa de desemprego ampliada, que deverá subir de imediato a partir de março. Sem efeitos da covid-19, no trimestre encerrado em fevereiro, essa taxa ficou em 23,5%, ante 24,6% um ano antes. Isso significa que, incluindo os 12,343 milhões de brasileiros que estão efetivamente desempregados, faltava trabalho para 26,783 milhões de pessoas.

/COLABORARAM CÍCERO COTRIM E THAIS BARCELLOS

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