PUBLICIDADE

Publicidade

Desemprego nos EUA também nos afeta

Por Alberto Tamer
Atualização:

Devastador. Foi o termo que o presidente americano Barack Obama disse ao saber que 598 mil empregos foram eliminados nos Estados Unidos só em janeiro - o maior corte desde 1974. A taxa de desemprego é agora de 7,6%. E se prevê que pode chegar a 10% se nada for feito com extrema urgência. Os EUA acumulam hoje 11,6 milhões de desempregados, número aumenta em média 560 mil por mês. Se o ritmo se mantiver, desaparecerão em torno de 16,5 mil empregos por dia! E tende a aumentar nos próximos meses porque as medidas somente começarão a irrigar o mercado de trabalho e a economia em alguns meses, talvez antes do segundo semestre. Há ainda todo um caminho a percorrer até que o dinheiro comece a chegar ao mercado de trabalho, que se enfraquece a cada dia. Não é só grave. É gravíssimo. Não poderia ser pior, afirmou Obama. PROBLEMA NÃO É SÓ DELES Se alguém pensa que o desafio é só dos Estados Unidos, está enganado. É um problema mundial. Ninguém escapa: desenvolvidos ou emergentes e, principalmente, os mais pobres que lutam dia a dia para conseguir o que comer. POR QUÊ? VEJAM Os EUA representam 22,5% do PIB global,19% das exportações e têm uma renda per capita - leia-se consumo - cinco vezes maior do que a média mundial. As importações continuam se retraindo com a crise. A OCDE, que congrega as 30 maiores economias, afirmou que "o pior ainda está a vir". Eles importavam US$ 2 trilhões por ano e recuaram para US$ 1,8 trilhão no último ano. Se aumentar o desemprego e a recessão se aprofundar, todos sofrerão. Estão confiando em outros mercados que também serão atingidos. O PIB da China, que importa e exporta US$ 1 trilhão por ano, deve cair de 11% para 5% ou 6% neste ano. Será um golpe terrível na economia mundial. Todos importarão menos e tentarão sem muito sucesso exportar mais. Estamos ante a um traiçoeiro efeito dominó que só será contido por um vigorosíssimo aporte de recursos voltados principalmente ao estimulo à demanda. EUROPA SÓ SE REÚNE E FALA É esse o caminho que os EUA decidiram seguir, mas a Europa, principalmente a Alemanha, anuncia planos franzinos demais para o imenso desafio. Fala-se muito, convoca-se reunião após reunião. E nada... Madame Merkel propõe agora mais uma, em Berlim, antes da outra - sim, tem mais outra - marcada para abril. Agora, a chanceler alemã propõe criar um Conselho de Economia da ONU(não riam!) como o Conselho de Segurança. Seria grotesco, se não fosse grave. Os grandes líderes solenemente prometem tudo - até assinam carta de intenção - e não fazem nada. Foi o que se viu após à última reunião de novembro, em Washington. Eles se comprometeram a não pôr em prática medidas protecionistas, mas começam a adotar de forma sutil e burlam a pobre e desdentada OMC. É a pretensa salvação dos que se jogam no abismo pensando encontrar o céu... BRASIL TAMBÉM NÃO ESCAPA Ninguém escapa. Nem o Brasil. Nossas exportações já estão seguindo a retração do comércio mundial que, prevê a OMC, irá cair mais este ano. O superávit comercial dos últimos anos começa a virar déficit. Isso é gravíssimo porque só dependemos dele. O líquido capital financeiro continua saindo em valores crescentes e não podemos contar com mais investimentos diretos. EMPREGOS E MAIS EMPREGOS Isso aumenta consideravelmente o sentido de urgência nas ações do governo, como frisamos na ultima coluna. Aqui, como nos Estados Unidos, há que se investir urgentemente na criação de empregos no mais curto prazo possível. E o nosso curto prazo é ontem. Foi o que Lula reconheceu e afirmou nesta quinta-feira. Emprego, emprego o mais urgente possível. Não sabemos ainda qual será a profundidade e a duração desta crise, mas estamos em melhor condição para sofrer menos, disse ele. Conclamou os empresários a investirem. Podem contar com o governo que tem dinheiro para isso e vai financiá-los. LULA CONSCIENTE Pelo tom dos últimos pronunciamentos, nós sabemos que o presidente está consciente do desafio. Lula reconheceu que o Brasil depende das medidas que os Estado Unidos e a União Europeia vão tomar para sair da crise. Mas aqui, infelizmente, as notícias também não são nem um pouco boas. Na semana passada, numa atitude inacreditável, o Banco Central Europeu manteve a taxa básica de juro em 2%, enquanto um país após outro entra em recessão. Quem o reconhece agora é a própria Comissão Europeia e a OCDE. Isso é extremamente sério porque a U E, como os EUA, também representa 22,5% do PIB mundial. Ambos são as maiores economias e os maiores mercados mundiais. E atentem: eles respondem por 30% das nossas exportações; quando caem levam todos com eles. Nós também. Ante o cenário que escurece a cada dia, o Brasil deve concentrar-se no estímulo ao mercado interno; ele representa 60% do PIB e vinha sustentando o crescimento de mais de mais de 5% nos últimos anos. A coluna confia em uma ação urgente do governo, que soube se antecipar quando a crise financeira estourou. *Email: at@attglobal.net

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.