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Taxa de desemprego recua no trimestre, mas renda média é a menor desde 2012

Rendimento médio real caiu para R$ 2.444 ao mês, o menor desde o início da série histórica do IBGE

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - O mercado de trabalho brasileiro se aproximou ainda mais do “normal” de antes da pandemia, com o avanço de 3,2 milhões no total de trabalhadores ocupados, entre formais e informais, em apenas um trimestre. Com mais esse aumento, o total de ocupados (94,9 milhões) no trimestre encerrado em novembro ficou praticamente igual ao da virada de 2019 para 2020, antes de a covid-19 chegar ao País, e a taxa de desemprego caiu a 11,6%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

A renda média do trabalho caiu 11,4% em um ano e chegou a R$ 2.444 ao mês, menor patamar da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Esta queda reforça que o “novo normal” é de pior qualidade, com salários menores, corroídos pela inflação.

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Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, o quadro não voltou completamente à situação anterior à pandemia porque o contingente de trabalhadores com carteira assinada ainda é menor, assim como o total de ocupados em algumas atividades, como alojamento e alimentação. Mesmo assim, o fim de 2021 foi marcado por uma “consolidação” da recuperação do mercado de trabalho, com criação generalizada de vagas entre as atividades econômicas e também de empregos formais.

O economista da GO Associados Lucas Godoi destacou que a queda da taxa de desemprego para 11,6% (ante 12,1% no trimestre móvel até outubro e 13,1% no trimestre móvel imediatamente anterior, até agosto) “de fato representa uma melhora do mercado de trabalho, principalmente em relação ao número de pessoas ocupadas, bem próximo ao pré-pandemia”.

“As condições do mercado de trabalho voltaram para uma situação de normalidade após a covid-19, e isso não é observado em outros países”, afirmou o coordenador do Departamento Econômico do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, após destacar que a “taxa de participação” ficou em 62,3% no trimestre até novembro, convergindo “para a média de longo prazo”.

A taxa de participação mede a proporção de trabalhadores na força de trabalho (somando empregados e desempregados, ou seja, aqueles que estão em busca de uma vaga) em relação ao total da população em idade ativa. Um dos efeitos da pandemia foi fazer esse indicador cair abaixo da média, já que muitos trabalhadores que perderam seus empregos ou ficaram impedidos de trabalhar desistiram de procurar um trabalho, saindo, portanto, da força de trabalho.

Carteira de trabalho; ataxa de desemprego caiu a 11,6%, segundo o IBGE Foto: Nilton Fukuda/Estadão

 

Vagas formais

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Um sinal positivo foi o aumento dos ocupados com carteira de trabalho assinada, apontando para a geração de vagas formais. Em um trimestre, foram criadas 1,330 milhão de vagas no setor privado com carteira, alta de 4,0% ante o período imediatamente anterior, avanço recorde na série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Na comparação com um ano antes, são 2,645 milhões de trabalhadores com carteira assinada a mais, alta de 8,4%.

Com isso, as vagas formais passaram a puxar a geração de empregos. Segundo Beringuy, do IBGE, os empregos informais tiveram papel crucial na recuperação da ocupação durante a pandemia, puxando a geração de vagas, especialmente nos primeiros meses após o impacto inicial da covid-19. Desde o trimestre encerrado em novembro de 2020, quando o total de ocupados voltou a crescer na comparação com o trimestre imediatamente anterior, as vagas informais sempre responderam pela maioria da expansão. O peso no número de novas vagas ficou entre 61% e 79%.

Agora, na passagem do trimestre encerrado em agosto para o trimestre encerrado em novembro, as vagas informais responderam por 43% do total de novas ocupações. Ainda assim, as ocupações informais cresceram 3,7% em um trimestre, com 1,372 milhão de vagas a mais. No total, o País tem 38,578 milhões de trabalhadores informais, segundo o IBGE. Com isso, a taxa de informalidade ficou em 40,6%, ante 40,7% em igual trimestre móvel de 2019.

“Após o impacto inicial, nos primeiros trimestres de 2020, a ocupação informal era que estava realmente puxando a recuperação. Agora, já percebemos que há uma participação maior também do emprego com carteira, que passou por uma certa inércia no início, mas, ultimamente, vem crescendo”, afirmou Beringuy.

Queda na renda média

Mesmo as vagas formais, com carteira assinada, estão pagando menos. Com isso, o rendimento médio real habitual do trabalho renovou o recorde de baixa. Tanto a queda de 4,5% em um trimestre quanto o tombo de 11,4% em um ano são recordes.

Conforme a pesquisadora do IBGE, a culpa é tanto da inflação elevada, que corrói o valor de compra dos salários, quanto das remunerações oferecidas pelos empregadores. 

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No início da recuperação das vagas perdidas na crise, ainda em 2020, a queda no rendimento vinha sendo marcada por um efeito composição. Como a geração de empregos vinha sendo puxada por vagas tidas como informais, que tradicionalmente pagam menos, o rendimento médio de todos os trabalhadores vinha caindo.

Agora, as pressões inflacionárias persistem, mas a geração de mais empregos formais não mudou o jogo. “Até mesmo os trabalhadores com o carimbo da formalidade estão trabalhando com rendimentos mais baixos. A entrada ou participação maior de trabalhadores com carteira ainda não é suficiente para mudar o movimento de queda no rendimento”, afirmou Beringuy.

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Os dados mostram isso. Os ocupados com carteira assinada experimentaram um tombo de 8,7% no rendimento médio ante o trimestre móvel até novembro de 2020, apenas um pouco abaixo da média geral de 11,4%. O rendimento médio dos empregados com carteira assinada ficou em R$ 2.343 ao mês, ligeiramente abaixo da média total, de R$ 2.444.

“A velocidade de crescimento da população ocupada acima da atividade econômica sugere uma menor produtividade para o trabalho, o que acaba pressionando também a questão dos salários”, disse o economista Gabriel Santin, do banco Rabobank. / CÍCERO COTRIM E MARIANNA GUALTER

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