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Desequilíbrio financeiro da pandemia ameaça distribuidoras

Conta-Covid atendeu apenas uma parte da cadeia do setor elétrico

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Por Redação
Atualização:
4 min de leitura
Getty imagens 

A pandemia do novo coronavírus teve um inegável impacto econômico na vida do País e a sustentabilidade financeira das distribuidoras de energia é um dos efeitos que pode gerar graves consequências em termos de investimentos futuros e de segurança no abastecimento. Além da natural queda na receita motivada pela paralisação por meses de atividades industriais e comerciais, as empresas do setor conviveram nesse período também com uma alta na inadimplência. Contribuiu para isso a proibição de cortes de energia por falta de pagamento, determinada pela Aneel de maneira geral até junho e depois apenas para consumidores de baixa renda.

Recompor essas perdas não será uma tarefa fácil. A agência reguladora emitiu uma nota técnica partindo de um argumento que o setor considera equivocado, de que a não realização da receita esperada para o período se caracterizava como um risco do próprio negócio. “É uma imprudência da argumentação nesse sentido porque houve um resultado prático de uma ação do poder público”, opina o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, em referência a várias medidas de restrição de circulação impostas por estados e prefeituras Brasil afora.

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Sales destaca que a chamada Conta-Covid, um crédito emergencial liberado para o setor a partir de junho e que alcançou R$ 16 bilhões, atendeu apenas a uma ponta da cadeia, a das empresas de geração e transmissão e aos encargos subsidiados, conhecida como parcela A dos custos. A parcela B, que engloba os custos operacionais das distribuidoras, ficou de fora. Isso afeta diretamente investimentos para expansão da rede, a operação em si e as remunerações de capital de empréstimos e de acionistas.

Os grandes grupos de distribuição tentam no momento manejar seus negócios da melhor maneira à espera de uma nova resolução da Aneel. A CPFL Energia, que atende quase 10 milhões de consumidores em cerca de 700 cidades, informou em seu último relatório financeiro que tem negociado prazos com fornecedores de equipamentos, avaliado com bancos condições relacionadas a empréstimos, monitorado variações de indicadores que posam afetar financiamentos e instrumentos como debêntures e estudado as reduções do mercado faturado. A empresa também tomou medidas para controlar a inadimplência.

A Enel Distribuição São Paulo, que atende cerca de 18 milhões de consumidores em 24 municípios paulistas, reportou em seu último balanço uma queda de 8,2% na venda de energia nos primeiros nove meses de 2020. A companhia também tomou suas medidas para mitigar os desequilíbrios desse momento e destacou em seu relatório ganhos de eficiência nas estruturas de apoio e digitalização de processos e uma receita adicional resultante da venda de terrenos previamente destinados à alienação.

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O presidente do Acende Brasil prefere não estimar o montante necessário para reequilibrar as operações das companhias do setor e prefere esperar os resultados da segunda consulta pública da agência reguladora. “É preciso primeiro passar pelo estágio de reconhecer o impacto no equilíbrio financeiro e depois estabelecer a metodologia dessa recomposição”, pondera. O problema é que qualquer pedido de reajuste extraordinário de tarifas vai sempre lembrar o “carma” do setor de tornar-se um vilão para consumidores, órgãos de defesa como o Procon e agentes públicos. Sales atribui isso a uma corrente de desinformação. “De cada R$ 100 na conta de luz, a distribuição fica com apenas R$ 18”, calcula.

Empresas tentam segurar inadimplência

Mesmo com a revisão da resolução normativa da Aneel que permitiu às distribuidoras desde agosto a possibilidade de voltar a cortar o fornecimento de energia para consumidores inadimplentes – as empresas têm adotado uma política de cautela. A aposta é na comunicação de regras e prazos e na oferta de formas de pagamento e de renegociação de dívidas. A CPFL Energia informou à reportagem que durante todo o ano trabalhou no sentido de oferecer condições de pagamento diferenciadas aos clientes, permitindo por exemplo o pagamento de contas via cartão de crédito e parcelando os débitos em até 12 vezes. “Além de campanha de incentivo aos clientes aptos a aderirem à tarifa social, para se cadastrarem e receberem o desconto na conta de energia”, disse a companhia por e-mail. Essa diversificação de medidas tem ajudado também na operação financeira.

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Segundo a CPFL, a inadimplência caiu 42,9% no terceiro trimestre deste ano comparado ao mesmo período do ano passado. “Reforçamos com os nossos clientes a importância de manterem as contas em dia”, informou. Para os clientes B2B, a empresa aproveitou a expertise da CPFL Soluções para oferecer um serviço de estudo e busca de soluções de economia, previsibilidade e segurança energética. A mesma área oferece uma assessoria para quem quiser fazer parte do mercado livre de energia, além de projetar, construir e operar sistemas próprios de geração.

Enel, Cemig e Copel

A Enel, por sua vez, informou que tem realizado diversas ações para reduzir os níveis de inadimplência, como o envio massivo de SMS e e-mails das faturas em atraso, e incentivado a utilização de meios digitais para pagamento, parcelamento de faturas. Também foi disponibilização um canal de negociação para equacionar os valores em aberto. A Cemig inovou com uma campanha de renegociação via Whatsapp, obtendo 20,3 mil acordos de parcelamento envolvendo valores de R$27,2 milhões.

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A companhia de distribuição de Minas Gerais também passou a receber as contas com cartão de crédito e débito. Com os maiores inadimplentes e clientes do varejo foram renegociados R$140 milhões até o terceiro trimestre, de acordo com dados das demonstrações financeiras. A paranaense Copel também apostou na diversidade de canais para comunicar melhor sobre os riscos de cortes. Os avisos de contas em atraso estão sendo feitos por e-mail, SMS e nas faturas de energia. Os clientes têm uma agência virtual para atualizarem seus cadastros. É possível consultar débitos, obter segunda via de contas e até fazer pagamentos via código de barras. Os débitos até R$ 10 mil reais podem ser pagos ou parcelados no site da Copel ou por uma linha 0800.

 

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