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Desvalorização pode ajudar agronegócio brasileiro

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro da Produção da Argentina disse nesta segunda-feira que não taxará a importação de produtos agrícolas. ?Em nenhum momento as taxas foram propostas. Pelo contrário, o presidente Eduardo Duhalde disse que tais impostos não estão em seus planos?, garantiu. Os rumores que circulavam entre os grupos de produtores era que a tarifação poderia variar entre 5% a 20%. Após o detalhamento do pacote de Emergência na Argentina, análises davam conta de que a desvalorização do peso deve ser positiva para o agronegócio brasileiro. O especialista em economia agrícola Fernando Homem de Melo, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), acha que o comércio bilateral deve ser incrementado no curto prazo. E nos nichos em que os dois países competem no mercado internacional - caso da soja - o impacto imediato deve ser pequeno. Melo lembra que a forte sobrevalorização do peso frente ao real levou a Argentina a impor salvaguardas e barreiras tarifárias às exportações brasileiras de aves, suínos, têxteis e calçados. Ele observa que o regime cambial da Argentina vinha inviabilizando a existência do bloco econômico. "A desvalorização deve acabar com isso e fortalecer o comércio no Mercosul", acredita. Curto prazo Em relação às exportações de soja, o especialista não acredita que o Brasil seja prejudicado imediatamente pela desvalorização argentina. "As lavouras já estão plantadas no Brasil e na Argentina, e as produções já estão praticamente definidas, a não ser que o clima tenha efeitos adversos no volume da safra", explicou. "É claro que a Argentina terá condições de vender a produção a preços um pouco mais baixos, mas a soja brasileira é bastante competitiva." Melo também acredita que a desvalorização deve ampliar a produção de carne na Argentina, o que pode afetar as exportações brasileiras. "Mas tanto para a carne quanto para a soja, o impacto da desvalorização para o Brasil será maior no médio prazo", afirmou. Soja Analistas do mercado da soja não acreditam que a desvalorização do peso possa afetar as exportações brasileiras. A avaliação é de que os argentinos poderão estabelecer preços um pouco menores em dólar, uma vez que receberão mais pesos por volume exportado. Contudo, isso não será suficiente para causar danos aos brasileiros. "Precisamos ver a reação dos consumidores, que poderão retardar um pouco as compras da Argentina, à espera deste preço menor em dólar. Ao mesmo tempo, não há muito espaço para um corte do preço em dólar, pois as cotações internacionais já estão em patamares muito baixos", avalia o analista Antônio Sartori, da Corretora Brasoja, de Porto Alegre. Além do aspecto do preço, outros fatores influem na concorrência entre Brasil e Argentina no mercado internacional de soja, como frete, qualidade, e época de colheita. "Os argentinos começam a colher um pouco mais tarde, e sua soja têm menor teor de óleo. O frete para a Europa também é um pouco mais caro", avalia o analista Tony Silva, da Granoforte. Uma variável importante é o tamanho da safra em cada país, uma vez que o clima seco ameaça a produtividade das lavouras na Argentina e no Sul do Brasil. "A safra argentina será, no máximo, igual à do ano passado. Mesmo que eles tenham melhor preço, não terão produto além do usual a oferecer", afirma Silva. Milho No caso do milho, o cenário é mais complexo. O Brasil já fechou contratos de exportação do grão para embarque no primeiro semestre do ano. Sartori, da Brasoja, também dá como certo que o Brasil vai importar grão no segundo semestre. E deve ser milho argentino. Justamente por essas importações ocorrerem no segundo semestre, Sartori acha prematuro fazer uma avaliação do impacto da desvalorização cambial. "O Brasil vai importar em 2002, mas ainda não sabemos em que quantidade, pois a safra principa l não está definida, muito menos a safrinha", diz. Para César Borges de Souza, vice-presidente do Conselho de Administração da Caramuru Alimentos, uma oferta de milho argentino a preço baixo pode minar a base de sustentação dos preços do grão no Brasil. "O consumidor terá mais folga nas compras com milho a bons preços na Argentina. A desvalorização do peso favorece a entrada de milho argentino", avalia. Para Tony Silva, da Granoforte, a concorrência argentina não deve afetar as exportações já agendadas pelo Brasil, por outro lado. "O milho brasileiro atende a nichos específicos de mercado, que preferem o grão convencional, não transgênico", ressalta. Na Argentina, é disseminado o plantio de sementes transgênicas do cereal. Trigo O preço do trigo argentino não deve cair, mesmo com a desvalorização do peso em 29%. O Brasil é altamente dependente das exportações argentinas. Das 10 milhões de toneladas que o país consome anualmente, 7 milhões vêm da Argentina, de acordo com a Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo). No mercado, a avaliação é de que a Argentina já leva vantagem no momento em relação a outros países produtores, pois seu trigo é cotado US$ 10 abaixo do preço praticado nos Estados Unidos, com o qual compete diretamente. A aposta na estabilidade do preço deve-se também ao fato de que a Argentina registrou queda de produção. A previsão inicial da safra 2001/02 era de 20 milhões toneladas, mas por causa do mau tempo durante as fases de plantio e colheita o governo reviu os números no final de novembro, fechando em cerca de 17 milhões de toneladas. Suínos e aves Exportadores de carne suína e de frangos acham que o quadro recessivo da economia argentina manterá retraído aquele mercado para os produtos brasileiros. Em 2001, a Argentina aplicou medidas antidumping contra as exportações brasileiras de frango, reduzindo os embarques brasileiros entre 35% e 45%, segundo dados da Associação Brasileiras dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). Já as exportações de suínos caíram 50% em 2001. Depois de exportar 50 mil toneladas para o país vizinho em 2000, a indústria suinícola brasileira não chegou a vender 30 mil toneladas no ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Para o presidente da Abipecs, Alfredo Felipe da Luz Sobrinho, as exportações de suínos podem cair mais 40% em 2002. Leia o especial

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