Dez anos de práticas de baixo carbono na lavoura e no pasto 

Plano ABC, do governo federal, já conta com 27 milhões de hectares de cultivos que reduzem ou sequestram emissões 

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Por Roberto Nunes Filho
3 min de leitura

Política nacional focada em estimular a agricultura sustentável e fomentar tecnologias com alto potencial para reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE), o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) completou, em 2020, dez anos colecionando resultados animadores e superando as metas do Brasil ligadas à agropecuária sustentável no âmbito do Acordo do Clima. A iniciativa contempla crédito rural a juros subsidiados para atividades agropecuárias que comprovadamente sejam sustentáveis e contribuam para mitigar emissões. 

Solo protegido. Plantio direto é uma das técnicas do ABC Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

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Dados mostram que, entre 2010 e 2018, foram recuperados 26,8 milhões de hectares de pastagens que possuíam algum nível de degradação – área bem superior à meta do plano, que era de 15 milhões de hectares, conforme estudo da Universidade Federal de Goiás. A área recuperada equivale a pouco mais do que o tamanho do Reino Unido, que tem 24 milhões de hectares. “Deste total, 10 milhões de ha estavam totalmente degradados”, diz o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Celso Manzatto. 

Outro indicador de sucesso é o de financiamento de soluções voltadas à redução de gases do efeito estufa. Conforme o Ministério da Agricultura, somente no primeiro trimestre do atual ano-safra 2020/2021, que se iniciou em 1.º de julho, as áreas financiadas pela linha de crédito do Plano ABC passaram de 245 mil para 485,1 mil hectares, notável salto de 97,9%, em comparação com igual trimestre do ano-safra anterior. Além disso, as operações totalizaram R$ 1,068 bilhão, aumento de 36,8%. O número de contratos subiu, passando de 796 para 1.202, ou 51% a mais. Desde que foi criado, o Plano ABC já financiou mais de R$ 20,8 bilhões. 

Mais resultados

De 2010 a 2018, mais de 40 milhões de hectares no País adotaram as tecnologias previstas no Plano ABC, segundo o relatório da Embrapa. Os dados consideram as áreas financiadas tanto com recursos do plano, quanto investimentos dos próprios produtores e outras linhas de crédito. Considerando apenas o financiamento do ABC, a área contemplada soma quase 10,5 milhões de hectares. 

Todos esses avanços, consequentemente, reduziram significativamente as emissões de GEE. Os resultados mapeados indicam que, entre 2010 e 2018, o Plano ABC permitiu sequestrar entre 100,21 milhões e 154,38 milhões de Mg CO² equivalente, contribuindo de maneira significativa com os compromissos nacionais de redução de emissões até 2020. Este dado integra um amplo estudo realizado pela consultoria Agroicone. 

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Para a diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Mariane Crespolini, o grande diferencial do Plano ABC, como política pública, é que ele traz ganhos ambientais, sociais e econômicos – caráter que estimula a adesão dos produtores. “As tecnologias que integram o Plano ABC aumentam a produtividade das fazendas e, consequentemente, a renda do produtor.” 

“Todas as tecnologias que estão no Plano ABC fazem sentido do ponto de vista produtivo”, corrobora Celso Manzatto. “Além do ganho econômico, outro fator que está estimulando a adesão é a exigência do próprio mercado. “Todo o sistema financeiro está mobilizado em reduzir riscos e a investir com segurança. Os grandes frigoríficos também estão com essa agenda por pressão do mercado. Essa é a nova lógica e um caminho sem volta.” 

Novo plano deve contemplar também a irrigação

O Plano ABC está passando por uma revisão para a próxima década. No foco do Comitê Diretor, abrigado no Ministério da Agricultura, está a definição de novas metas e medidas, como a inclusão de novas tecnologias mitigadoras de gases do efeito estufa. “Atualmente, as soluções envolvem recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta, sistema de plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, plantio de florestas e tratamento de dejetos”, revela a diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Mariane Crespolini. “Agora, estamos discutindo a adoção de novas tecnologias, como a agricultura irrigada, por exemplo”, cita. “Há também discussões em torno de avanços para o sistema de integração lavoura-pecuária e no sistema de confinamento de bovinos”, complementa o pesquisador Celso Manzatto, da Embrapa. 

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