31 de janeiro de 2016 | 19h10
O que fez o governo brasileiro diante desse quadro de bonança e promessa certa de prosperidade? Decidiu fazer novas regras para explorar o óleo do pré-sal, demorou anos para defini-las e, ao concluir, criou um monstrengo que só fez murchar o apetite dos investidores. Em outubro de 2013, sete anos depois da descoberta, finalmente o Brasil fez o primeiro (e único) leilão do pré-sal. Sem disputa e zero de ágio, já que as regras afastaram as grandes petrolíferas, o consórcio que arrematou o Campo de Libra foi formado pela francesa Total, a anglo-holandesa Shell, duas estatais chinesas e a Petrobrás, que ficou com 40% do negócio e o ônus de ser a única operadora de Libra.
Hoje o preço do petróleo desabou para menos de US$ 30/barril e analistas apostam em que vá afundar para a metade disso; o petróleo tem perdido mercado para outras fontes de energia (em sete anos os EUA aumentaram a produção em 4 milhões de barris/dia com gás de xisto); abatidas pela queda do preço, grandes multinacionais cancelaram ou suspenderam investimentos (calcula-se em US$ 380 bilhões o valor de projetos suspensos no mundo); e a Petrobrás, num buraco sem fundo, pôs à venda grande parte de seu patrimônio para sobreviver, enfrenta escassez de crédito, perdeu milhões em valor de mercado e, afogada em corrupção, vê afundar seu prestígio político e afetivo entre os brasileiros.
Afinal, o pré-sal morreu?
Esta semana o Instituto Brasileiro do Petróleo reuniu-se com a presidente Dilma, que teria dado sinal verde para empresas privadas explorarem óleo do pré-sal situado abaixo de áreas do pós-sal, onde elas já investem e produzem, processo chamado de unitização. Seria a chance de dar alguma sobrevida ao pré-sal e expandir a produção brasileira. Mas, como quase tudo neste governo, pode ficar só na intenção. Fora isso, ao menos por agora, o óleo do pré-sal está condenado a ficar no fundo do mar. Para alegria dos ambientalistas.
Com o preço do barril a US$ 30, nenhuma empresa se interessa hoje (muito menos a Petrobrás de caixa vazio) em explorar óleo onde o custo de produzir é US$ 10 maior que o preço de venda. Por isso, nos cortes administrativos que fez esta semana, a diretoria da Petrobrás extinguiu a gerência do pré-sal, suspendendo o trabalho feito em campos promissores. A única exceção é Libra, porque está em plena produção. À imprensa, o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, saudou o fato de contar no empreendimento com outros sócios, que bancam 60% do dinheiro investido em Libra.
Para o País, a Petrobrás, investidores e a população, melhor seria se as regras do pré-sal permitissem a participação de outras empresas onde a estatal não manifestasse interesse. Com o petróleo acima de US$ 100/barril na época, leilões teriam se multiplicado, a produção agilizado, milhares de empregos criados e o óleo explorado convertido em dinheiro para o governo aplicar em projetos sociais. Todos seriam beneficiados. Mas, à frente da Casa Civil na época, Dilma Rousseff e suas regras combinando autoritarismo, teimosia, xenofobia e ausência de inteligência encolheram o papel de outras empresas e obrigaram a Petrobrás a entrar com ao menos 30% do dinheiro investido em cada poço, além de torná-la única operadora. Resultado: tirou o fôlego da estatal, atrofiou a produção de óleo, não gerou riqueza nem empregos. Em vez de redenção, o pré-sal virou problema.
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