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Diálogo entre o governo e o campo fracassa na Argentina

Governo de Kirchner rompe as negociações com os ruralistas; produtores preparam grande ato no domingo

Por Marina Guimarães
Atualização:

Inexplicável fracasso das negociações entre o governo e o agro argentino complica ainda mais a crise que já dura mais de dois meses. O governo de Cristina Fernández de Kirchner rompeu outra vez o diálogo com as entidades rurais poucas horas depois de haver retomado as negociações para tentar solucionar o conflito, na quinta-feira, 22, à noite. Enquanto o chefe de Gabinete da Presidência, Alberto Fernández anunciava, em entrevista coletiva à imprensa, a continuidade das negociações na próxima segunda-feira, 26, em outro ambiente do Ministério de Economia, os dirigentes do campo ameaçavam passar a noite no edifício e só deixá-lo após obter uma solução por parte do governo. Depois de um período de embate, os dirigentes decidiram abandonar o prédio e denunciaram que o encontro foi um fracasso. "Lamentavelmente saímos decepcionados. O chefe de Gabinete não quis tratar das "retenciones"," afirmou Luciano Miguens, presidente da Sociedade Rural. As retenciones são os impostos cobrados nas exportações de produtos agrícolas, cujas alíquotas variam de acordo com os preços internacionais dos grãos. Esse mecanismo foi adotado a partir do dia 11 de março passado, detonando a crise do agro com o governo, já que os produtores consideram que o sistema é um confisco. A alíquota da soja, por exemplo, hoje é de 45% do valor de exportação e pode chegar a ser de 95% em caso de que o produto chegue a US$ 600 a tonelada. "Não quiseram tocar o tema "retenciones". Levamos nossa proposta, nos disseram que tinham uma própria, mas que se discute somente na segunda e nós não podemos esperar mais", explicou o presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi. Para os produtores, sem negociar as retenções, não haverá acordo com o governo. Os quatro dirigentes permaneceram no ministério de economia quase duas horas, avaliando se passavam a noite lá à espera de uma resposta do governo. Enquanto Fernández informava à imprensa que a reunião tinha sido frutífera e que estavam próximos de um acordo. "A entrevista de Fernández já estava preparada para manipular a opinião pública. A reunião foi um fracasso", disse Buzzi. O clima foi tenso durante as quase três horas de reunião, na qual o chefe de Gabinete tratou os dirigentes como oposição, segundo informou Buzzi. Agora, os produtores se preparam para realizar um grande ato no próximo domingo, dia 25 de maio, feriado nacional em comemoração pelo primeiro governo pátrio do país. O ato será em Rosario, uma das principais cidades produtoras, e promete reunir produtores de toda a Argentina. As entidades anteciparam que durante o ato será realizada uma assembléia, onde votarão a agenda da próxima semana de mais protestos.

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