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Dieese: crise gera incerteza para o mercado de trabalho

Por Ricardo Leopoldo
Atualização:

A insegurança que paralisa os mercados financeiros e concentra a liquidez dos recursos no sistema bancário nacional nas grandes instituições do setor está provocando um cenário totalmente incerto para as perspectivas do mercado de trabalho nas principais regiões metropolitanas do País para os próximos meses. Os economistas responsáveis pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pela Fundação Seade em convênio com o Dieese ponderam, contudo, que há uma tendência dos resultados de outubro ainda registrarem uma pequena melhora na redução do patamar de desocupados e até de aumento de renda média dos trabalhadores em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Distrito Federal. "Os resultados relativos a este mês ainda podem acompanhar o quadro favorável de expansão da economia nacional. Mas daí em diante é bem provável que já registraremos os efeitos da crise global sobre o nível de atividade no País, o que certamente deve afetar o patamar de geração de empregos e de renda", comentou Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese. O coordenador de análise da PED da Fundação Seade, Alexandre Loloian, destacou que o fator que causa grande apreensão e dificuldades para avaliar os rumos do mercado de trabalho nas seis regiões metropolitanas para um curto horizonte de tempo, inferior a seis meses, é que houve uma brusca queda da concessão de crédito na economia. Em setembro, o desemprego na região metropolitana de São Paulo atingiu 13,5%, a menor taxa para o mês desde 1996. Para as seis regiões metropolitanas a taxa chegou a 14,1%, abaixo dos 14,5% registrados em agosto. "Qual cenário é possível traçar quando não se sabe quando o crédito será restabelecido?", comentou Loloian. Segundo ele, é compreensível que os empresários fiquem mais cuidadosos para expandir suas fábricas, pois não há condições razoáveis de financiamento disponíveis no mercado, dado que boa parte dos recursos em poder dos bancos está aplicada cautelosamente em títulos públicos, aguardando um momento mais claro da conjuntura. "A verdade é que ninguém sabe, hoje, para onde vai a crise. Ela pode começar a perder força, mas se piorar o que poderá ocorrer?", questiona Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese. Ele ressaltou que é possível que em abril comece a ficar mais evidente a magnitude dos impactos da crise financeira sobre os empregos e rendimentos dos ocupados no Brasil. Segundo ele, é no começo do segundo trimestre que sazonalmente pode ser delineada a tendência do mercado de trabalho para o ano, pois já teriam passado as férias de verão e o carnaval. "Contudo, se já registrarmos no próximo mês efeitos expressivos sobre a capacidade do País de criar postos de trabalho, surgir uma redução da massa real dos salários e diminuição do consumo das famílias, é porque a situação é mais grave do que imaginamos", opinou.

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