Há 10 ou 15 anos, se alguém falasse que dava para trocar de operadora de celular a qualquer momento, levando o próprio número e escolhendo o que consumir, soaria como algo distante ou impossível. É este o momento vivido pelo setor de energia elétrica, hoje um mercado cativo para os consumidores residenciais, mas com um horizonte de livre negociação e preços menores. O caminho está sendo pavimentado pela crescente digitalização do setor, o que dá mais eficiência a toda a cadeia.
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“A digitalização é um viabilizador de abertura de mercado ao contribuir para elevar o nível de automação e dos canais de relacionamento, assegurando menos desperdício e mais produtividade”, explica Rene Abrantes, gerente-geral de Relacionamento com Cliente da Votorantim Energia, empresa que atua na comercialização e geração de energia renovável. A empresa passou a orientar sua gestão para dados visando à transformação de todo o setor elétrico. Os ganhos com a adoção de processos digitais já são uma realidade em várias partes da cadeia de energia.
Na geração, a análise de dados permite mais eficiência na operação, possibilitando mais energia nos momentos de maior consumo, evitando desperdício. O projeto de parque híbrido da Votorantim Energia, que vai combinar energia solar e eólica, é um bom exemplo. “A usina eólica já em operação e a solar que será construída para gerar em associação são plantas já com tecnologia embarcada, inteligência de dados e algoritmos que permitem combinar as duas fontes, otimizando a produção e reduzindo o custo”, explica Abrantes.
Na comercialização, é possível combinar o perfil do consumidor com o perfil de geração, com melhor precificação da energia. “Posso ter um produto que incentive o cliente a mudar seu perfil de consumo e demandar mais energia nos horários em que é mais barato comprar da geradora.”
Os ganhos vão chegar até o consumidor residencial após a abertura de mercado no futuro próximo. A velocidade dos dados vai abrir o leque de opções de produtos, simplificando termos como sazonalização do consumo ou taxas por excedente contratado. “Se eu tenho uma inteligência por trás da geração e da comercialização, que permite encontrar o melhor preço para aquela unidade do cliente, posso fornecer um produto de fácil entendimento pelo cliente, simplificando as terminologias técnicas que podem ser barreiras de entrada”, diz Abrantes.
Ao mesmo tempo em que abre a possibilidade de operar em um novo modelo de captação de consumidores e atendimento escalável e de baixo custo, a tecnologia dinamiza os processos de cocriação e inovação entre parceiros, a fim de proporcionar novas soluções para as demandas dos clientes.
O executivo da Votorantim Energia prevê uma abertura do mercado para o consumidor residencial mais soft, sem “tecniquês”, com precificação mais adequada e relacionamento por meio de canais digitais. “A digitalização vai ajudar a encontrar o ponto ótimo do ecossistema. No futuro, espera-se que o consumidor trocará de fornecedora de energia com um clique, como hoje já faz na telefonia.”