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Dilma e a Petrobrás - saga de um desastre

Por ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
Atualização:

Seis meses atrás a presidente Dilma ainda não se dera conta das proporções do desastre que se abatera sobre a Petrobrás. Continuava a se autocongratular por seu longo envolvimento com a empresa: "Quem olhar o que aconteceu com a Petrobrás nos últimos dez anos e projetar para o futuro conclui que fizemos um grande ciclo. Eu estive presente em todos os momentos" (Folha de S.Paulo, 2/7). Seu envolvimento teve início em 2003, quando assumiu a presidência do Conselho de Administração da empresa, cargo do qual só se afastou em 2010, para disputar a eleição presidencial. A partir de 2005, na posição privilegiada de quem também passara a ser ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma tornou-se a figura-chave na interface da cúpula do governo com a Petrobrás. Era por meio dela que as preferências, diretivas, prioridades e urgências do Planalto se faziam sentir na gestão da empresa. E, naturalmente, toda e qualquer nomeação de diretor, fosse a escolha técnica ou política, tinha de passar por seu crivo. Com a descoberta do pré-sal, o envolvimento de Dilma com a Petrobrás tornou-se ainda mais intenso. Especialmente a partir de 2008, quando o presidente Lula, preocupado com a falta de experiência eleitoral da sua futura sucessora, decidiu transformar o pré-sal em espalhafatosa plataforma de lançamento antecipado da sua candidatura à Presidência da República. Para definir o arcabouço legal que pautaria a exploração do pré-sal, o governo poderia ter optado por um encaminhamento suprapartidário do problema, como questão de Estado. Mas preferiu partidarizar a discussão e brandir uma restauração nacionalista do controle estatal da exploração e produção de petróleo, para exacerbar diferenças que pudessem favorecer a candidata oficial no embate político. No novo arcabouço, concebido por uma comissão formada por Dilma Rousseff, Edison Lobão, Guido Mantega, José Sergio Gabrielli, Luciano Coutinho e três outros membros, a Petrobrás acabou sobrecarregada pela tríplice exigência de (a) manter o monopólio da operação dos campos do pré-sal, (b) assegurar pelo menos 30% de cada consórcio que explorar tais campos e (c) arcar com a "nobre missão" de desenvolver a indústria de equipamentos para o setor petrolífero no País. Montou-se um gigantesco cartório para distribuição de benesses a produtores de equipamentos. Uma espécie de coronelismo industrial, em que a Petrobrás passou a deter o "cofre das graças e o poder da desgraça". Sob a proteção de requisitos absurdos de conteúdo local, quem nunca construíra nem mesmo um bote foi transformado em grande produtor de equipamentos de alta tecnologia. Esse oba-oba, regado a dinheiro barato do BNDES, repassado pelo Tesouro, criou caldo de cultura propício para a proliferação das irregularidades que, agora, ganham destaque na mídia. Não bastasse a sobrecarga de investimento e a obrigação de arcar com preços escorchantes de bens de capital, a Petrobrás ainda foi fragilizada por longo represamento populista de preços de combustíveis. Na esteira da descoberta de um amplo esquema de desvio de recursos nos seus programas de investimento, a situação da empresa agravou-se rapidamente. Processada por minoritários e investigada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelas comissões de valores mobiliários do Brasil e dos Estados Unidos, a Petrobrás já nem mesmo consegue publicar balanços auditados. Marcha para a perda do grau de investimento, enquanto suas ações despencam em queda livre. É o desfecho melancólico de 12 anos de estreito envolvimento de Dilma Rousseff com a Petrobrás. Foi, de fato, um longo ciclo, durante o qual ela esteve "presente em todos os momentos". Tendo atrelado sua trajetória política à empresa, Dilma afinal se dá conta de que está fadada a ser assombrada, no seu segundo mandato, pelos desdobramentos de fatos ocorridos no longo período em que foi a principal responsável pelos destinos da Petrobrás.* É economista e professor da PUC-Rio

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