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Dilma mostra contrariedade com gestão do setor elétrico

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Por Redação
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Mauro Zanatta

O apagão registrado em 13 Estados nesta semana acentuou a contrariedade da presidente Dilma Rousseff com seus auxiliares no setor elétrico. De maneira reservada e informal, Dilma já vinha ouvindo conselhos de especialistas do setor elétrico sem cargo no governo. O objetivo é aprofundar diagnósticos e planejar ações para um eventual segundo mandato.

Ninguém fala do assunto em público para não alimentar desconfianças, mas um auxiliar da presidente considera "algo natural, nada demais" o recurso de Dilma a esses especialistas. O "Estado" ouviu três pessoas que já colaboraram com a presidente. Uma delas, que pediu discrição total na abordagem, disse que "eventualmente" manteve conversas com ela sobre o setor. No mercado, essas conversas são lidas como sinal de insatisfação de Dilma com os principais dirigentes do setor. Entre eles, o ministro Edison Lobão e seu secretário executivo, Márcio Zimmermann; o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim; e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino. Oficialmente, o Palácio do Planalto nega a insatisfação e as consultas a especialistas de fora do governo.

No governo, avalia-se que um novo apagão, sobretudo de proporções maiores, abalaria a candidatura de Dilma, cuja fama de boa gerente nasceu exatamente em um momento de crise energética no fim dos anos 1990. Há, ainda, uma disputa "palmo a palmo" entre PT e PMDB por influência no setor elétrico. "Há, ainda, muitos interesses conflitantes entre distribuidoras, transmissoras, geradoras. É difícil", diz o auxiliar.

No meio das incertezas, a figura central do atual diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, pode ter abortado pelo governo sua recondução ao posto. Nos bastidores, começou um movimento para renovar seu mandato, que expira neste ano. Para isso, porém, é preciso alterar o estatuto, cujo artigo 26 limita a gestão a dois períodos. Há resistências de empresas e associações do setor a um eventual novo mandato para Chipp. Consultado, Chipp disse, via assessoria, que "tem conhecimento" do movimento, mas rejeita tê-lo incentivado. Disse que o tema é "tratado" pelo ministro Lobão.

À parte a guerra partidária, a avaliação do setor é que os investimentos têm sido insuficientes. O grupo Eletrobrás, por exemplo, deixou de investir R$ 1,5 bilhão do previsto em 2013, segundo dados do Ministério do Planejamento. A estatal atribui o resultado ao atraso nas licenças ambientais e na licitação da eletromecânica da usina Angra 3. "Não fosse o 'pibinho', seria bem pior", diz um diretor de associação do setor.

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Houve atrasos em linhas de transmissão. Deixaram de entrar no sistema nacional 800 megawatts de usinas eólicas (Chesf), houve atraso no linhão das usinas do rio Madeira e o leilão de termoelétricas, cuja carga deveria entrar até 2013, causou déficit de quase 8 gigawatts. Com isso, deixou-se de elevar de 14 GW para 23 GW a capacidade de geração térmica.

A falta de chuvas é só um pedaço da história. Na gestão Dilma, a média do chamado MLT, índice de energia possível de ser produzida a partir do regime de chuvas, chegou a 102% do histórico de 80 anos, segundo o ONS. Ou seja, ficou acima da média entre 2011 e 2013. Mesmo assim, o preço de liquidação da energia no mercado livre sofreu forte escalada: passou de R$ 29,42 megawatt/hora em 2011 para R$ 166,69 em 2012 e R$ 263,09 no ano passado. Em janeiro, foi a R$ 378,22 e atingiu R$ 822,23 em fevereiro.

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