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Dinheiro difícil, para comprar e para vender

Incertezas do mercado levam empresas a transformar nota promissória em duplicata

Por Agencia Estado
Atualização:

Empresas estão buscando soluções alternativas para atenuar o impacto do aumento do custo dos empréstimos para bancar as despesas do dia a dia. Nos dois últimos meses, as taxas anuais para financiamento de capital de giro subiram até 3 pontos porcentuais acima do custo do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) por causa das incertezas do mercado financeiro, além do prazo médio ter caído pela metade. Cautelosas, as instituições financeiras passaram a incluir no rol de exigências para liberar empréstimos garantias reais como duplicatas e até estoques. A Philips do Brasil encontrou, por exemplo, uma fórmula para que os fornecedores de médio porte obtivessem financiamentos com taxas semelhantes às cobradas da companhia, que é tida no mercado como uma empresa de primeira linha e que, por isso, obtém custo de financiamento muito próximo à taxa de CDI, hoje em 18,4% ao ano. "Criamos um sistema no qual os nossos fornecedores são percebidos pelo mercado como se a Philips estivesse buscando os recursos. Com isso, eles passam a ser beneficiados com custos financeiros mais adequados", diz o diretor administrativo-financeiro para América Latina, Horácio Almendra. O executivo explica que, ao fechar a venda, o fornecedor emite normalmente uma duplicata contra a Philips, que se compromete a pagar numa data determinada. Os fornecedores, com esse aval - o aceite da duplicata -, procuram o banco e conseguem uma taxa de juros equivalente à concedida para a Philips. "Começamos a usar esse sistema há dois meses e temos 12 grandes fornecedores que são companhias de médio porte trabalhando como parceiros", diz Almendra. Até o fim de 2003, a meta é trabalhar com todos os cerca de 80 fornecedores nesse sistema. Além de custos menores, esse novo sistema permite maior transparência na negociação na qual são abertos os prazos e os juros embutidos no preço à vista. O aperto do crédito, especialmente para empresas menores, é explicado pelo fato de as companhias de grande porte terem conseguido renegociar apenas a metade das dívidas privadas vencidas no mês passado. Com isso, elas se voltaram para o mercado interno e aumentaram a pressão sobre o crédito doméstico. Segundo o diretor-técnico do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Keyler Carvalho Rocha, em momentos de volatilidade, os bancos preferem conceder empréstimos a grandes empresas. O governo também aumentou a remuneração dos títulos, ganhando a preferência das instituições financeiras por causa do risco menor. O resultado foi a redução do volume de crédito para as médias companhias. Oferta Uma grande indústria de bens de consumo informa que optou por ampliar o número de bancos com os quais pode obter empréstimos. O raciocínio é que, com maior oferta de instituições financeiras, pode-se negociar melhor o custo dos empréstimos, que já é elevado. Outra saída foi reduzir a hora extra para cortar custos operacionais e ter maior disponibilidade para usar esses recursos como capital de giro. Esticar o prazo de pagamento de fornecedores e cortar em 30 dias as datas de vencimento das contas a receber também são estratégias que a companhia usa para atenuar o impacto da alta dos juros. "Todos os bancos estão com um pé atrás", diz o diretor financeiro da empresa, que prefere não ser identificado. Ele conta que, indiretamente, os limites de crédito para as empresas foram reduzidos sem que as empresas fossem comunicadas explicitamente. Como? Os bancos tiraram a autonomia dos gerentes de aprovar os empréstimos. "Hoje todas as operações têm de passar pelos comitês de crédito que se reúnem semanalmente", diz o executivo. Os prazos dos financiamentos encolheram de forma sorrateira. Há dois meses, as empresas conseguiam obter crédito para capital de giro para quitá-lo de uma só vez após um ano. Hoje as operações podem até ser por um ano, mas o empréstimo acaba sendo amortizado mensalmente, de forma que o prazo médio cai de 12 para seis meses. "Nós não somos grandes tomadores de dinheiro no mercado, mas os empréstimos para um período superior a 12 meses estão escassos", afirma o presidente da Adria Alimentos, Sérgio Almeida. Ele argumenta que a maior dificuldade nesse tipo de operação é definir a taxa de juros. Na prática, as empresas estão tomando financiamentos para 30 dias, repactuados no fim do período. Diante das incertezas, foram ampliadas as garantias dos empréstimos. A nota promissória dada como aval do pagamento foi substituída pela duplicata. Em alguns casos, até o estoque mercantil entrou como garantia da operação de capital de giro

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