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Diretor da Globo não vê ameaças na concorrência

Segundo Octávio Florisbal, queda da audiência média registrada pela rede no horário nobre é cíclica

Por Marili Ribeiro
Atualização:

Na ampla sala com vista panorâmica do mais recente destaque arquitetônico de São Paulo - a ponte Jornalista Roberto Marinho, em construção na Marginal do Pinheiros -, Octávio Florisbal, diretor-geral da Rede Globo de Televisão, garante que a perda de audiência não ameaça a emissora. O executivo, há 25 anos na Globo, dos quais cinco no atual cargo, reconhece, entretanto, que cada ponto perdido representa cerca de R$ 100 milhões a menos no caixa. Um ponto corresponde a mais de 1 milhão de telespectadores. ''''Portanto, é para ser disputado aguerridamente.'''' Manter a audiência significa participação na receita publicitária, o que é vital no negócio da televisão. Acontece que, no último ano, a Globo perdeu 2 pontos porcentuais em relação ao índice médio de audiência no horário entre 7 horas e meia-noite. Nos últimos dez anos, a emissora mantinha esse índice em torno de 24 pontos. Hoje, está em 22. ''''Isso é cíclico'''', relativiza. ''''Essa perda já foi vivida no passado pela emissora.'''' Tudo, diz, depende do sucesso da programação em cartaz. A concorrência, em particular a TV Record, com sua declarada disposição de alcançar a liderança - para isso, já investiu cerca de R$ 300 milhões apenas em dramaturgia -, ainda não incomoda, admite Florisbal, sem, entretanto, mencionar o nome de qualquer outra emissora. Na Globo, elas são tratadas por A, B ou C. Mas, se a concorrência direta não importuna, existe a expansão de outras plataformas de comunicação. A migração para a TV paga, que intensifica sua abrangência e chega agora a 5 milhões de assinantes, depois de amargar anos no patamar dos 3 milhões, divide público. ''''A TV paga representa menos de 10% dos domicílios com aparelhos de televisão'''', compara Florisbal. Cresce também o número de usuários de internet. O Brasil atingiu a marca de 32 milhões de pessoas com acesso à web. Dora Câmara, do Ibope Mídia, pondera que as novas gerações são multimídia e assistem televisão conectadas à internet. Florisbal não vê essa divisão de atenção como ameaça. Em relação ao ''''inimigo'''' virtual, a emissora faz parcerias. No site de vídeos YouTube, por exemplo, há edições resumidas da novela ''''Malhação'''', que é dedicada aos jovens. Em programas como o ''''Fantástico'''', a emissora chama no ar os telespectadores para conversarem, no portal da emissora, sobre os temas apresentados. ''''Do ponto de vista estratégico, entendemos que nosso conteúdo deve ser estendido a outras plataformas de mídia eletrônica, para que o nosso público nos veja em outros momentos'''', explica. A perda de audiência da televisão aberta não é um fenômeno nacional. Pesquisa patrocinada pela IBM, feita nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão e Austrália e divulgada na semana passada, revela que a internet avança sobre a tevê como mídia de entretenimento. Mostra, por exemplo, que 19% dos pesquisados passam seis horas ou mais por dia usando a web, ante 8% que dedicam o mesmo tempo à televisão. Nos EUA, as grandes redes de tevê já acusaram o golpe e tentam se adaptar à concorrência multimídia. Apostam, por exemplo, no potencial de interatividade que veio com a introdução da televisão digital para disputar a atenção do espectador. A situação no Brasil ainda é confortável, especialmente para a Globo: a rede detém cerca de 70% das verbas do bolo publicitário para televisão, estimado em R$ 10 bilhões por ano. Apesar disso, avalia-se que nunca a tevê aberta esteve tão vulnerável, já que, além do crescimento da internet, a implantação da televisão digital, mesmo que lenta, deve mudar a maneira de o telespectador ver televisão. Com ela chegam equipamentos que permitem pular os intervalos comerciais, o que poderia levá-los à extinção. Nesse caso, Florisbal acha que se trata de um prognóstico precipitado. ''''Pesquisa no mercado americano sobre o avanço do break comercial mostra que dois terços dos usuários do sistema não pulam os anúncios.'''' Mais do que isso, ele garante ser impossível o desaparecimento da propaganda na TV. ''''Atendemos 4 mil agências de publicidade e mais de 50 mil clientes. Se todos abandonarem os comerciais para fazer merchandising ou qualquer outra ação de conteúdo, como dizem, não existirá grade de programação suficiente para abrigar toda essa demanda.'''' Para Florisbal, a estréia da televisão digital em dezembro não significará uma mudança radical, porque o processo de implantação vai se dar em etapas. Apenas no final de 2009 o País deverá ter uma cobertura do sistema em todas as capitais e nas principais cidades. A televisão digital vai entrar primeiro nas casas. Depois, chegará ao celular e aos ambientes móveis (ônibus, táxi, metrô). E só aí resultará em mudança na forma de se assistir à televisão. ''''A era digital é uma realidade'''', diz. ''''Mas exige pesados investimentos. Para digitalizar todas as retransmissoras do sistema Globo, vamos gastar US$ 300 milhões.'''' A maneira de recuperar parte desse capital virá da publicidade. E Florisbal já prepara os espíritos dos anunciantes e agências: ''''Se tivermos mais audiência dentro e fora do lar, poderemos cobrar um adicional da publicidade.''''

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