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Diretores do BC defendem desindexação da economia

Governo discute mudanças em mecanismos de correção de preços e da caderneta de poupança

Foto do author Adriana Fernandes
Por Fabio Graner , Adriana Fernandes , Ricardo Leopoldo e BRASÍLIA
Atualização:

Em meio ao debate sobre a mudança da rentabilidade da poupança, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Mario Torós, defendeu ontem uma desindexação maior da economia para permitir a queda mais forte dos juros. Poucas horas depois da divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), ele afirmou, em São Paulo, que a economia brasileira atingiu um nível de estabilidade econômica diferente do que havia na adoção do Plano Real, em 1994, e requer um novo padrão de desindexação. A declaração de Torós explicita uma discussão que o governo vem mantendo nos bastidores a respeito dos mais diversos mecanismos de correção de preços, que conservam a engrenagem da indexação na economia a todo o vapor. Os entraves são muito maiores do que apenas a correção da poupança. O posicionamento do BC foi interpretado como uma cobrança ao Ministério da Fazenda, que defende queda mais acelerada da Selic. No entanto, fora a discussão da poupança, não há avanços no debate sobre o desmonte dessa herança, admitiu um assessor da Fazenda. "Não se pode esperar uma euforia com a queda de juros. É preciso um esforço maior para desmontar essa cadeia econômica atrelada à cultura da inflação. É isso o que o BC está dizendo", disse uma fonte. Esse é o motivo pelo qual apesar de o País estar vivendo uma forte desaceleração da economia há resistência na queda mais forte dos índices de inflação. É que parte da inflação presente é contaminada pela inflação do passado derivada dos reajustes com correção pelos diversos índices de inflação, principalmente os chamados preços administrados (telefonia, luz, água, pedágios) e salários. Boa parte das amarras foi criada pelo próprio governo, como a definição de uma política de reajuste de salário mínimo, previdência e salários dos servidores públicos acima da inflação. Na economia real, além dos preços administrados por contratos, os aluguéis, mensalidades escolares e salários das empresas privadas seguem fortemente conectados à inflação do período anterior. A rentabilidade garantida pelos fundos de pensão (de inflação mais 6%) também é outra amarra para a queda dos juros. Essas entidades de previdência complementar, que administram a maior parte da poupança brasileira, terão dificuldades cada vez maiores de obter investimentos de renda fixa que garantam essa rentabilidade. Para isso, terão de migrar para ativos de maior risco, sob pena de comprometer a segurança do sistema de previdência fechada. Na defesa da desindexação, Torós ressaltou que quando o processo de estabilização da economia começou, a equipe econômica partiu do pressuposto de que a desindexação seria feita de forma plena. Desde então, o processo vem sendo feito paulatinamente e, agora, a economia chegou a um novo padrão. Por isso, o diretor do BC considera que a economia tem de assumir um novo nível de desindexação, "sob pena de prejudicar avanços na gestão da política econômica". COM COLABORAÇÃO DE CÉLIA FROUFE

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