PUBLICIDADE

Publicidade

Discurso contra globalização pode restringir comércio

Roberto Azevêdo, secretário-geral da OMC, vai usar reunião do G20 para pedir a líderes que se posicionem contra protecionismo

Por Fernando Nakagawa e Cláudia Trevisan
Atualização:

O discurso antiglobalização que ganha força na Europa e nos EUA erra no diagnóstico dos problemas da economia mundial e poderá levar a medidas protecionistas que restrinjam o comércio internacional, desacelerem o crescimento e aumentem o desemprego, disse ontem o secretário-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo.

PUBLICIDADE

O brasileiro usará sua intervenção na reunião do G20, na China, para manifestar preocupação com a retórica antiglobalização que ganha força em países desenvolvidos e pedir a governos e a empresários que se contraponham a ela. “Acusa-se o comércio de ser responsável pelo desemprego, mas o principal fator de desemprego hoje é a inovação e o aumento de competitividade, que respondem por 75% a 85% do desemprego nos países desenvolvidos”, disse Azevêdo em Hangzhou, cidade chinesa que sedia o encontro do G20.

Neste ano, a presidência do grupo está a cargo da China, que criou um grupo de trabalho para discutir comércio e investimentos. As trocas internacionais cresciam a um ritmo duas vezes superior ao do PIB mundial até a crise financeira de 2008. Desde então, os dois indicadores se movimentam em patamares semelhantes. Para Azevêdo, o ideal seria que o comércio se expandisse a uma velocidade 1,5 vez superior ao ritmo do PIB global.

A preocupação do secretário-geral da OMC é a de que a retórica antiglobalização aumente o protecionismo – o que, segundo ele, já ocorre de forma gradativa. “O cenário ainda não é desesperador, mas precisamos ficar atentos.”

O comércio internacional foi um dos principais alvos da campanha presidencial dos EUA. O republicano Donald Trump propôs a revisão de acordos internacionais, rejeitou a Parceria Transpacífico (TPP) e chegou a dizer que os EUA sairiam da Organização Mundial do Comércio (OMC) se não houvesse adequação de regras supostamente desfavoráveis ao país.

Os ataques ao comércio estiveram no centro da campanha do democrata Bernie Sanders, derrotado nas primárias por Hillary Clinton. A popularidade das críticas forçaram a ex-secretária de Estado a adotar um tom mais protecionista e a declarar sua oposição ao TPP.

O tratado, que reúne 40% do PIB mundial, foi negociado por Barack Obama, que tenta ratificá-lo no Congresso antes do fim do mandato. O sentimento antiglobalização também pautou o movimento que levou à saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

Publicidade

Azevêdo se reuniu ontem em Hangzhou com o presidente Michel Temer, que terá sua estreia em fóruns multilaterais durante a reunião do G20, hoje e amanhã. O grupo reúne líderes das 20 maiores economias global.

Depois do encontro com Temer, o secretário-geral da OMC disse que a estabilidade política é vital para a retomada da economia. “Elas andam de mãos dadas. É um momento de retomar o crescimento com as medidas que, imagino eu, estão sendo adotadas pelo governo brasileiro.” Segundo Azevêdo, já há sinais de aumento da confiança em relação ao Brasil e de melhoria das perspectivas de crescimento do País.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.