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Discurso do BC reforça alta de 0,50 ponto na Selic

Reviravolta nas projeções veio após duro discurso feito por diretor do banco dizendo que, no momento atual, é preciso ‘manter a cautela’

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Por Redação
Atualização:

Inclinados a acreditar que o Banco Central poderia reduzir o ritmo de alta dos juros na próxima quarta-feira por causa da economia debilitada, analistas do mercado financeiro voltaram a rever suas projeções às pressas nesta sexta-feira. O estopim da reviravolta foi um discurso extremamente duro feito pelo diretor de Política Econômica da instituição, Luiz Awazu Pereira da Silva, para quem, é preciso “manter a cautela” neste momento em particular.

Diante das projeções cada vez piores para o Produto Interno Bruto (PIB) tanto de 2015 como de 2016, uma parte do mercado chegou a trabalhar com a possibilidade de que a Selic – atualmente em 13,75% ao ano – poderia subir 0,25 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas, agora, a alta mais provável é de 0,50 ponto porcentual.

 Foto: Infográficos/Estadão

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“É primordial ser vigilante para se certificar de que a política monetária reflete o balanço de riscos a partir de agora e continua a ser devidamente calibrada para atingir o nosso objetivo”, disse Awazu em seminário realizado no Rio de Janeiro.

A cinco dias do anúncio do rumo da taxa básica de juros, o diretor salientou que, apesar de alguns inegáveis resultados positivos, dados recentes mostram que existem novos riscos para a inflação de 2016 que podem afetar os horizontes de longo prazo.

Awazu não deixou claro quais seriam esses riscos, mas o fato novo mais recente e forte da economia dos últimos dias foi a mudança feita pelo Ministério da Fazenda de redução da meta de superávit primário de 2015 de R$ 66,3 bilhões (1,13% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB). Além da economia menor, o governo passou a permitir um abatimento de R$ 26,4 bilhões se houver frustração nas receitas, o que ao governo fechar o ano com um déficit de até R$ 17,7 bilhões.

“As políticas monetárias e fiscal estão ligadas”, afirma Caio Megale, economista do Itaú Unibanco. Nessa semana, o banco reduziu projeção para alta da Selic de 0,50 ponto para 0,25 ponto, mas agora não descarta que o Copom possa subir os juros em 0,50 ponto diante das mudanças na política econômica. Na avaliação dele, independentemente do tamanho da alta da Selic, o ciclo de aperto monetário acaba na próxima semana.

Na quinta-feira, de acordo com levantamento realizado pelo AE Projeções, 44 de 71 instituições estimavam que os juros iam subir 0,50 ponto porcentual e 27 viam redução do ritmo para 0,25 ponto. Neste último grupo, ao menos sete já informaram que revisaram sua expectativa para alta de 0,50 ponto.

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Discurso. Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, aparentemente, Awazu quis sinalizar, com o tom duro, que o mais provável é uma alta de 0,50 ponto. A ARX Investimentos também elevou sua projeção, após o discurso mais “hawkish (conservador) e surpreendente” de Awazu, disse o economista Henrique Santos. “Esperava um tom duro, mas não tão duro”, disse.

O economista-chefe do banco Fator, Jose Francisco Lima Gonçalves, o Copom acredita numa alta de 0,50 ponto porcentual. “Esse aumento foi fortemente sugerido e, portanto, deve ocorrer. Essa sinalização vem tanto do Banco Central como da Fazenda”, diz.

O banco Santander também trabalha com uma elevação de 0,50 ponto porcentual. “O BC deve ser conservador para garantir que a credibilidade alcançada não seja arranhada”, afirma Everton Gomes, economista do banco. / CÉLIA FROUFE, VINÍCIUS NEDER, LUIZ GUILHERME GERBELLI E MARIA REGINA SILA

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