Publicidade

Discurso irrita ruralistas argentinos e locaute continua

Por MARINA GUIMARÃES
Atualização:

O discurso ofensivo contra os produtores e dirigentes rurais que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, proferiu ontem à tarde diluiu o pequeno efeito positivo que havia conseguido com o gesto de enviar ao Congresso o projeto de lei que aumenta as alíquotas e modifica o sistema de cobrança dos impostos sobre as exportações (chamadas de retenções) do setor agropecuário. As entidades ruralistas ficaram irritadas e decidiram manter o locaute (greve patronal), que estava previsto para terminar à meia-noite, para até a sexta-feira da próxima semana. O plano de ação dos ruralistas prevê visitas aos parlamentares de suas províncias, no fim de semana, para explicar a problemática do campo e os motivos pelos quais o setor se torna inviável para os pequenos e médios produtores com alíquotas acima de 50% das retenções. Como o projeto enviado pelo governo está "blindado" (à prova de alterações), e sujeito apenas à sua ratificação ou rejeição, os produtores querem convencer os parlamentares da base governista a votar contra a medida. O projeto será debatido no Congresso na próxima segunda-feira. Durante entrevista à imprensa, ontem à noite, o presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, pediu à presidente Cristina Kirchner que tenha mais "respeito" pelos representantes do setor. "É tempo de acabar com as desqualificações e agressões. Não somos desestabilizadores, nem golpistas, nem desabastecedores. Pedimos à presidente mais respeito", disse Buzzi. Embora Cristina tenha chamado ao diálogo, em seu discurso fez fortes referências aos líderes das entidades do campo. Definiu-os como "quatro pessoas às quais ninguém votou, nem escolheu, que decidem quem pode andar pelas rodovias do país e quem não, com intenções de interferir na construção democrática". Sem repetir a palavra "golpistas", como tem qualificado os produtores rurais desde o início do conflito, há três meses, Cristina insinuou que "os quatro" líderes atuam como desestabilizadores de seu governo. A propaganda oficial veiculada desde sábado até ontem na televisão era ofensiva contra Mario Llambias, Eduardo Buzzi, Fernando Gionio e Luciano Miguens. Pela quarta vez, em cadeia nacional de rádio e televisão, Cristina usou seu discurso para aprofundar a crise e piorar o clima de divisão no país.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.