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Distribuição das tarefas domésticas permanece desigual, mas cresce participação de homens

Proporção de mulheres que cuidam de serviços domésticos cresceu 1,9 ponto porcentual; já o total de homens que realizam esse tipo de tarefa subiu 4,5 pontos porcentuais, aponta IBGE

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - Depois de trabalhar 39 anos com carteira assinada, o fotógrafo Júlio César Guimarães, de 56, passou à instabilidade da vida de freelancer. Sem o vale-refeição, cozinhar virou dever diário, e outras atividades do dia a dia da casa entraram na rotina, como fazer faxina e compras. O IBGE comprova o fenômeno estatisticamente: com o orçamento familiar apertado, o homem brasileiro está participando mais dos afazeres domésticos e dos cuidados com os filhos – embora as mulheres sigam sobrecarregadas em termos do número de horas dedicadas a essas tarefas.

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Mulheres estavam à frente dos homens em todos os tipos de afazeres domésticos, exceto pela execução de pequenos reparos ou manutenção do domicílio Foto: Fábio Motta/Estadão

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A hipótese do IBGE para explicar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) – Outras Formas de Trabalho, divulgada ontem é que as dificuldades financeiras tenham levado as famílias a dispensar domésticas e babás, e que o aumento da carga de atividades em casa tenha forçado a maior atuação masculina. O fato de a taxa de desemprego ter aumentado mais entre homens do que entre mulheres seria outro fator. 

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O levantamento mostra que de 2016 a 2017 tanto eles quanto elas passaram a se ocupar mais de serviços da casa e cuidados com crianças ou idosos. Só que entre os homens, historicamente menos engajados nessas tarefas – em geral desvalorizadas e relegadas às mulheres por causa da persistência do machismo na sociedade brasileira –, a participação subiu mais. 

Segundo o IBGE, a proporção de mulheres que cuidam de tarefas domésticas cresceu 1,9 ponto porcentual em um ano, de 89,8% para 91,7%. O total de homens que realizam esse tipo de tarefa subiu 4,5 pontos porcentuais, de 71,9% para 76,4%. 

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Elas dedicaram quase o dobro de horas do que eles, média de 20,9 horas semanais, contra 10,8 horas. O fato de ambos trabalharem fora não impacta os dados: os homens ocupados gastam apenas 10,3 horas em média com o lar e filhos, ante 18,1 horas das mulheres; os não ocupados, só 12 horas, ante 23,2 das não ocupadas. O IBGE não dispõe de série histórica sobre o tema – é o segundo ano da divulgação.

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"A perda de renda pode explicar por que os homens estão fazendo mais tarefas e por que a divisão está ficando menos desigual. Mas em número de horas, nada mudou”, disse a pesquisadora do IBGE Alessandra Brito, responsável pela pesquisa. 

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As únicas atividades que o fotógrafo Guimarães não faz “são lavar a passar”, ele contou. “Das 11 horas até umas 15 horas, fico em função da cozinha”, disse ele, encarregado de preparar a marmita da filha, estudante de 22 anos. “Depois que você começa a fazer a própria comida, repara como os preços nos restaurantes são exorbitantes.”

Servidor do Ministério Público, Leonardo Marques, de 41 anos, pai de Helena, de 1 ano, divide tudo com a mulher, que tem carga horária mais pesada como professora. O casal conta com diarista duas vezes por semana. “Eu não ajudo, faço a minha parte. Só não posso amamentar. Se a gente tivesse dinheiro sobrando, poderia ter diarista mais dias, mas eu não mudaria. Não sou só genitor, sou pai”, afirmou.

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