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Distribuidora que abastece 900 postos em SP volta a fornecer combustível

Ponto de distribuição em São Caetano estava bloqueado por caminhoneiros havia sete dias e veículos já deixaram o local sem escolta policial

Por Isabela Palhares e Renan Cacioli
Atualização:

SÃO PAULO - Depois de sete dias sem fornecer combustível, o ponto de distribuição de São Caetano do Sul voltou a oferecer o produto nesta terça-feira. O local, que distribui para 900 postos da capital, Grande São Paulo e ABC, estava bloqueado por grevistas, que só permitiam a saída de caminhões que abasteceriam veículos dos serviços essenciais da Prefeitura e da Polícia Militar. Os veículos deixaram a distribuidora sem escolta policial.

Segundo Sílvio Seliconi Filho, coordenador do núcleo de distribuição, a operação voltou ao normal as 7 horas desta terça-feira. Em cinco horas, saíram 3 milhões de litros de combustível do local. A previsão é de que neste primeiro dia saiam 8 milhões de litros - a capacidade máxima de fornecimento do ponto. "Começamos o dia com os caminhões saindo com escolta, mas agora já não há mais necessidade porque está seguro", diz o coordenador. 

Motoristas fazem fila em posto de combustível de São Caetano do Sul Foto: Renan Cacioli/Estadão

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Dono  de um posto em São Bernardo do Campo, Fabrício de Freitas comprou 10 mil litros de gasolina para o seu estabelecimento que está desabastecido desde quinta-feira. "É pouco diante da situação que estamos vivendo, as pessoas estão desesperadas. Penso em limitar a venda a 20 litros por cliente para evitar confusões", diz.

Ele diz que ainda iria calcular a quanto venderia o litro, mas afirma que, por causa do prejuízo dos dias parados, teria que repassar os custos ao consumidor. "Ficamos parados, mas o valor dos salários, do aluguel, vai ser o mesmo. Tem muito dono de estoque sem dinheiro até para repor o estoque", declarou.

Na fila há mais de quatro horas esperando a chegada de combustível, os motoristas aplaudiram a chegada do caminhão de gasolina em um posto da avenida Professor Abraão de Moraes, na Saúde, zona sul da capital.

"Vim colocar crédito no celular por volta das 10 horas e vi uma movimentação grande no posto. Resolvi esperar para ver se chegava e deu certo", diz a empresária Kaisa Mônaco, de 31 anos. Ela abasteceu pela última vez há cinco dias e só estava usando o carro para levar os filhos para a escola.

Primeira da fila no posto, a arquiteta Márcia Bechara, de 60 anos, saiu de casa nesta terça com o único objetivo de abastecer o carro. Ela parou no local às 8 horas porque os funcionários disseram que o combustível chegaria à tarde. "Faço um tratamento de radioterapia no AC Camargo e tenho que estar lá as 4h30 da quarta. Tinha que conseguir combustível hoje", diz.

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O posto estava sem nenhum combustível desde terça-feira da semana passada, dia 22. Os funcionários foram liberados e só voltaram a trabalhar nesta terça, quando souberam que o produto chegaria. Como o local só conseguiu a entrega de 10 mil litros de gasolina, a venda estava limitada a R$ 100 para carros e R$ 50 para motos.

Fila. A notícia de que os caminhões estavam conseguindo entrar nas distribuidoras da região para carregar combustível foram suficientes para as filas se formarem em diversos postos de São Caetano do Sul. Em um deles, localizado na esquina da Rua Oriente com a Avenida Goiás (principal via da cidade), a notícia de que já havia gasolina e álcool disponíveis surgiu de mensagens trocadas por usuários do aplicativo Waze.

"A gente ficou sabendo apenas que os caminhões estavam abastecendo. Mas não há previsão alguma de horário, se realmente vai vir", diz o gerente do local, Gil Pereira da Silva. "O problema é que as pessoas já estão seguindo os caminhões no trajeto, então, quando eles entram no posto, já para uma fila de carros atrás", explica o gerente, que já começava a organizar cones para tentar orientar quem chegava para ficar na fila de carros.

Uma dessas pessoas é Victor Augusto Campos Mesquita, de 24 anos, que já havia feito uma tentativa em vão, no último sábado, de abastecer seu veículo em um posto do bairro do Ipiranga, na zona sul da capital.

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"Fiquei umas três horas na fila, mas acabou tudo. Hoje só consegui vir até aqui porque abasteci cinco litros de álcool. Agora é esperar, né?", diz o comerciante, já escaldado pela possibilidade de voltar para casa mais uma vez com o tanque na reserva.

Oferta. "Tem gente oferecendo 100 reais só para deixar o carro aqui e eu abastecer quando a gasolina chegar, você acredita?". É assim que o gerente de um posto localizado na altura do número 1.000 da Avenida dos Bandeirantes, na Vila Olímpia, em São Paulo, descreve o grau de desespero de alguns clientes ansiosos por combustível nesta terça-feira, quando o reabastecimento foi retomado em alguns pontos da cidade.

O pedido de 30 mil litros, 15 mil de gasolina comum e 15 mil de etanol, já foi até faturado pela distribuidora, garante Maciel Gonçalves de Souza, gerente do local há 13 anos. Agora, só falta o caminhão chegar.

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"Falaram que chegaria entre a tarde e a noite. Foi o suficiente para isso aí que você está vendo", afirma, enquanto aponta em direção a uma interminável sequência de veículos parados na faixa da esquerda da via, no sentido da Marginal Pinheiros.

Primeiro da fila, o motorista de aplicativo Carlos Antônio Araújo, de 34 anos, ficou sabendo por amigos que o tal caminhão-tanque estaria a caminho do posto.

"Fui eu quem fiz a fila!", diz, sorrindo. "Um pessoal que vinha atrás percebeu que eu encostei aqui e já começaram a parar também", conta o motorista, que, apesar da greve, tem dado sorte nos últimos dias.

"Meu combustível acabou ontem, só. No sábado consegui abastecer num posto ali na João Dias. Eu era o vigésimo da fila. Depois, também achei combustível em outro posto na Casa Verde. Nesse, fiquei 1h45 esperando."

Um pouco mais para trás na fila, o estudante Robert Jonas Cabral, de 27 anos, tentava garantir a viagem de volta até Minas Gerais, onde reside.

"Começou a falar de greve na semana passada, já enchi o tanque. Gastei um quarto, só, mas quero garantir a viagem sem o medo de ficar sem combustível pelo caminho", explica.

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