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Dólar alto afeta empresas aéreas e setor elétrico

Por Agencia Estado
Atualização:

A maioria das empresas do setor elétrico apresenta mais de 50% da dívida em dólar e sofrerá inevitavelmente efeitos da volatilidade dos últimos dias, mas os impactos diferem bastante entre as empresas, segundo revela levantamento feito pelo analista do banco Brascan, André Segadilha. Apesar da situação delicada, as empresas do setor aprenderam com o sufoco das repentinas valorizações do dólar no País e hoje estão bem mais protegidas em relação às oscilações do câmbio do que estavam no segundo semestre do ano passado, segundo avalia o analista do setor do BBA Creditanstalt, Marcos Severine. No entanto, ele admite que a desvalorização do real dos últimos dias vai provocar impacto no balanço das empresas, mas será "meramente contábil", já que o caixa da maior parte das companhias está protegido, sobretudo para as dívidas que vencem neste ano. As situações mais delicadas diante da recente desvalorização do real, segundo o estudo do Brascan, são as da Cemig, Eletropaulo Metropolitana, Cesp Paraná e Comgás. No caso da Cemig, Segadilha avalia que a companhia apresenta uma elevada participação de moeda estrangeira (53,5%) na sua dívida. Além disso, assim como as demais empresas do Sudeste, sofre com aumento do valor das compras de Itaipu, atreladas ao dólar. A Eletropaulo tem 80,6% da dívida em moeda estrangeira, sendo que US$ 600 milhões vencem no curto prazo. Dessa forma, a empresa sente com maior intensidade os efeitos da volatilidade atual. A Cesp Paraná apresenta a mais elevada participação de dívida estrangeira (81,2%) do setor elétrico, o que segundo Segadilha "determina uma alta exposição a variações do câmbio". Ele ressalta que a movimentação dos papéis da companhia também têm "forte correlação" com o câmbio. Já a Comgás também pode enfrentar problemas no curto prazo, prazo de vencimento de 38% do total do seu endividamento em moeda estrangeira (59,8%). O levantamento aponta que a Eletrobrás está em posição "extremamente confortável" apesar de possuir 89,5% da dívida em dólar nesse momento de oscilação do câmbio. A empresa é a única do segmento a se beneficiar com uma desvalorização cambial, já que os recebíveis da energia de Itaipu (cotada em dólar) equivalem a cerca de US$ 20 bilhões, representando cobertura de cerca de 4,9 vezes o valor da dívida. No caso da catarinense Celesc, o levantamento aponta que a empresa está em posição confortável pela reduzida participação da dívida sobre o patrimônio líquido, apesar de 74,5% do endividamento da empresa ser em moeda estrangeira. A cearense Coelce, por outro lado, será beneficiada porque não compra energia atrelada ao dólar, apesar de também ter alto nível de participação de moeda estrangeira (45,9%) na sua dívida. Já a paranaense Copel sofrerá tanto pela participação estrangeira na dívida (62%), como com o aumento das compras com Itaipu, mas como tem baixo índice de endividamento, não deverá ser das empresas mais afetadas pela desvalorização do real. Segadilha contabilizou a perda da Light, que deverá sofrer impacto negativo de R$ 90 milhões no balanço do segundo trimestre, em conseqüência da recente alta do dólar. Segundo ele, a princípio a companhia estaria livre dos efeitos sobre a sua dívida, já que realizou o ?hedge? (proteção) da porção de longo prazo dos 45,3% de endividamento em moeda estrangeira. Mas, por outro lado, a companhia possuía empréstimos de curto prazo que não estavam ?hedgeados?, pelo fato de não acreditar que haveria "desvalorização tão acentuada em curto espaço de tempo" e, portanto, deverá sofrer os efeitos dessa parcela desprotegida. Além disso, segundo o levantamento, os impactos da alta do dólar sobre a Light deverão estar concentrados no aumento das despesas com as compras de Itaipu, atreladas ao dólar. Tarifas aéreas A desvalorização do real deve provocar um aumento nas tarifas das companhias aéreas. Segundo o presidente da TAM, Daniel Madelli Matin, cerca de 40% do custos das empresas aéreas são definidos pela moeda americana. "É evidente que o dólar, a esta altura, pressiona o custo das empresas aéreas", disse ele após reunião com o ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral. "A desvalorização do real foi forte, e parte disto vai ter que ser repassado para o preço ou as empresas terão que aumentar a produtividade", afirmou. Mandelli lembrou que existem somente duas formas de elevar a receita: ou aumentando o número de passageiros ou o preço das passagens. No entanto, o porcentual de reajuste, segundo ele, dependerá do comportamento do mercado nos próximos dias. Ele acredita que o câmbio deve ser estabilizar nos próximos dias. "Uma definição maior do reajuste vai depender em que patamar o dólar vai se estabilizar", ponderou. O executivo da TAM também defendeu a criação de um fundo de proteção para o setor aéreo. Esse fundo foi proposto pelo presidente da Infraero, Fernando Perrone, para socorrer as empresas aéreas em uma eventual flutuação do real em relação ao dólar. "É lógico que seria bom, já que o dólar é um constrangimento para as empresas aéreas", ressaltou. Ele informou ainda que a TAM não tem intenção de negociar com a Varig uma parceria para operar no mercado internacional. O ministro Sérgio Amaral informou que o encontro com o presidente da TAM encerra a série de conversas que vem tendo com os presidentes das companhias aéreas. Amaral informou que já conversou com os presidentes da Varig e Vasp, com o objetivo de recolher sugestões para a adoção de medidas que ajudem na reestruturação do setor aéreo. O Ministério vem discutindo, dentro do fórum de competitividade do setor aéreo, medidas gerais de caráter regulatório ou tributário que garantam isonomia entre as empresas nacionais e estrangeiras. Amaral disse que espera divulgar o resultado das discussões em breve. O BNDES trabalha na reestruturação das companhias aéreas em um programa que, segundo o ministro, é individual, empresa por empresa, e não uma ajuda global para o setor. Até o momento, apenas a Varig apresentou uma proposta ao BNDES. Amaral explicou que o objetivo do banco é ajudar a viabilizar as empresas aéreas. Esse processo, acrescentou, leva tempo e, por isso, não tem um prazo para ser concluído.

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