A alta do juro no Brasil e o maior otimismo com a possível ajuda financeira à Grécia derrubaram o dólar para o menor nível frente ao real desde janeiro, provocando uma reação do governo com dois leilões do Banco Central e novas ameaças de atuação do Tesouro. O dólar caiu 1,20 por cento nesta quinta-feira, para 1,732 real. É a menor cotação de fechamento desde 8 de janeiro. A moeda chegou a cair até 1,727 real, mas retornou ao patamar de 1,73 real após o BC realizar um segundo leilão de compra de dólares no mercado à vista perto de 15h. O BC já havia realizado uma atuação dupla há duas semanas, também quando o dólar era cotado nas mínimas desde janeiro. Na ocasião, no entanto, os leilões conseguiram reverter a queda do dólar, que voltou a ser cotado acima de 1,75 real naquele dia. A autoridade monetária tem comprado dólares de forma praticamente diária desde maio do ano passado com o objetivo oficial de acumular reservas e enxugar o excesso de moeda no mercado. As reservas já superam 246 bilhões de dólares. Perto do final da sessão, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, declarou que o governo vai acelerar a compra de dólares para tentar conter as pressões de valorização do real causadas pelo aumento de juro no Brasil . Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,75 ponto percentual, para 9,50 por cento ao ano. A elevação foi apontada por vários profissionais de mercado como um dos principais motivos para a valorização do real, já que aumenta a atratividade de investimentos no Brasil em relação ao juro praticado em outros países. Outro motivo indicado foi a melhora do ambiente internacional, com alta das bolsas de valores e ligeira recuperação do euro, diante de notícias que apontam para um desenrolar mais rápido do pacote de ajuda à Grécia. Além disso, com a proximidade do fim do mês, aumenta a influência da rolagem de contratos futuros em vencimento. Como muitos agentes estão vendidos na moeda norte-americana (em uma aposta na alta do real), especialmente estrangeiros, há uma pressão extra para a valorização da moeda brasileira. Na quarta-feira, de acordo com dados da BM&FBovespa, os não-residentes tinham 3,626 bilhões de dólares em posições vendidas na divisa dos Estados Unidos nos mercados de dólar futuro e de cupom cambial. O aumento da intervenção do governo pode ter efeito limitado no longo prazo, segundo analistas. Eles afirmam que as compras podem segurar a queda do dólar por algum tempo, mas perdem efeito com a continuidade do fluxo positivo para o país, como já aconteceu antes da crise financeira . "Ou piora de vez lá fora, ou ele (governo) vai ter que brigar muito para segurar (a queda do dólar)", disse José Carlos Amado, operador da corretora Renascença.