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Dólar cai após definição eleitoral, dizem analistas

Cotação da moeda americana deve ficar em torno ou pouco acima de R$ 3,00 no médio prazo

Por Agencia Estado
Atualização:

A definição do quadro eleitoral deverá reduzir, gradualmente, as incertezas da economia, mas ainda assim a cotação do dólar deverá permanecer em torno ou pouco acima de R$ 3,00 no médio prazo, na avaliação de economistas e executivos de grandes empresas. Na prática, esse novo patamar ajuda a incentivar as exportações, mas, conforme o volume de repasse aos preços - o que é dificultado pelo baixo nível da atividade econômica -, pode reduzir o poder de compra dos salários. "Esse câmbio dificilmente vai cair abaixo dos R$ 3,00, porque o financiamento externo está escasso e vai continuar assim por algum tempo", disse o coordenador do Grupo de Acompanhamento de Conjuntura (GAC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy. O modelo das previsões do Ipea indica uma cotação de R$ 3,12 no fim do ano. Este ano, o dólar médio mensal já ficou acima de R$ 3,00 em agosto (R$ 3,11) e setembro (R$ 3,34), segundo a Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto (Andima). O retorno a um patamar próximo de R$ 3,00, entre o fim deste ano e o início do ano que vem, depois da escalada das últimas semanas, também é esperado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda. Teoricamente, analisa, este nível permite equilibrar minimamente a balança de pagamentos e torna competitivas as exportações e a substituição de importações. O vice-presidente de finanças do McDonald´s no Brasil, Eduardo Mortari, afirma que é difícil prever a cotação do dólar, mas informa que o planejamento da empresa prevê R$ 3,20 no fim do ano. "Continuo acreditando que isto (as elevadas cotações recentes) representa volatilidade, devido ao problema político-eleitoral. O câmbio tende a voltar a um patamar realista, independentemente de quem ganhe a eleição", comentou o executivo. O resultado das eleições presidenciais, segundo os economistas, ajudará a reverter as perspectivas negativas quanto à economia. Para Levy, a incerteza tem movido o câmbio nas últimas semanas. "Qualquer que seja o eleito vai haver um grau razoável de continuidade e consistência com políticas de ajuste fiscal, câmbio flutuante, perseguição de metas de inflação", acredita Levy, citando a necessidade de retomada mais lenta, para impedir que a pressão do câmbio vire inflação ainda mais alta. Inflação A transformação de câmbio alto em inflação é uma das principais preocupações do diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (Iets), André Urani. Ele reconhece que a economia hoje está menos sensível aos impactos inflacionários, comparado ao passado, mas o problema ainda existe. "Se mantiver este câmbio atual, provavelmente vai ter uma redução no poder de compra dos salários", argumenta. O economista avalia que a perspectiva de um dólar a R$ 3,00 pode parecer boa, "pela teoria do ´bode na sala´, já que o câmbio tem estado em R$ 3,60". Mas, na prática, considera um câmbio a R$ 3,00 como " ruim", analisa Urani, citando o mercado de trabalho. "Caso tenha impactos sobre a inflação, os efeitos benéficos vão ser comidos e ficam os maléficos", argumenta Urani, citando a deterioração do poder de compra e o arrocho salarial. Tanto Urani quanto o coordenador do Ipea destacam a necessidade de acompanhar o que acontecerá com o chamado câmbio real, que desconta a variação da taxa de inflação no período. "O segredo é ter desvalorização cambial sem inflação, para que ela vire real e permita ajustar a balança de pagamentos. Senão, cai no problema do período inflacionário", argumenta Levy. Segundo ele, a base do cenário leva em conta que não haveria modificações do ponto de vista de controle da inflação, ainda que na hipótese de uma vitória do PT, "que diz que vai continuar preocupado com a inflação". Oposição Na eventualidade de uma vitória do principal candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, a sorte de seu governo seria definida nos primeiros seis meses de mandato: ou se reverteria o "jogo de desconfiança aguda" ou a economia caminharia para um desfecho traumático. Este cenário foi traçado pelo responsável pela conjuntura do Boletim do Instituto de Economia da UFRJ, Caio C. L. P. da Silveira, para quem há chances de superação da atual crise de confiança, gradativamente, a partir das eleições. Na avaliação do economista, seria necessário, contudo, enfrentar pelo menos quatro obstáculos. Dois deles, ainda este ano: a necessidade de anunciar os principais nomes da equipe econômica, logo após as eleições, e sinalizações de compromisso, até dezembro, com o cumprimento do Orçamento da União para 2003, sobretudo quanto ao salário mínimo e reajuste do funcionalismo compatíveis com as metas fiscais. E, depois da posse, a resistência a pressões por renegociações de dívidas de Estados e municípios, além da primeira avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), no fim do primeiro trimestre. "Esta seqüência de obstáculos será crucial para que ele supere a crise atual e consiga restaurar a confiança. Se não restaurar, no limite, a crise pode levar o País a uma moratória e a uma recessão profunda", analisa o economista. O risco, para Silveira, não é baixo, mas o mais provável é que seja possível superar o quadro de desconfiança e evitar que o "cenário temido" se concretize. Na sua projeção, o quadro, incluindo uma possível vitória do candidato do PT, aponta para um dólar a R$ 3,20 no fim deste ano.

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