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Dólar cai levemente, enquanto governo argentino se divide

Por Agencia Estado
Atualização:

?O dólar não desce?ele se agacha para dar um novo pulo?. Este ditado popular, cunhado no meio da hiper-inflação de 1989, foi ressuscitado nesta quarta-feira, quando uma leve queda da moeda americana causou a impressão de que a histeria pelo dólar - ocorrida nos dois primeiros dias da semana ? já teria acabado. Nesta quarta-feira, o dólar terminou a jornada com uma cotação de 3,00 pesos. Na segunda-feira, a cotação havia chegado a 4,00, e na terça-feira a 3,15 pesos. No entanto, os analistas afirmam que ainda é cedo para cantar vitória, e que a leve queda da moeda americana foi causada pela intervenção indireta que o Banco Central fez ao longo desta semana, distribuindo dólares nos bancos e nas casas de câmbio. Milhares de pessoas voltaram a invadir o centro financeiro de Buenos Aires, ansiosas por comprar dólares. A área foi um caos, já que aos compradores acrescentaram-se grupos de enfurecidos correntistas que têm seus depósitos semi-congelados dentro do ?corralito?. Os grupos protestaram disfarçados de integrantes da Paixão de Cristo. ?Esta é nossa Via Crucis?, afirmavam. O governo respirará aliviado por alguns dias a partir de hoje (quinta-feira), quando começa o feriado de Semana Santa. Logo depois virá o fim de semana, e na segunda-feira o governo ainda estará protegido da especulação sobre a moeda americana graças ao feriado das Malvinas, data em que se comemora a invasão argentina a esse arquipélago em 1982. Somente na terça-feira o governo terá que se preocupar com a cotação do dólar na city financeira portenha. ?Isto é como deter um vulcão com a mão. Teriam que deixar que o dólar encontrasse seu teto?, disse a analista Ana Eiras, da Heritage Foundation. Segundo ela, se o governo implementar uma nova lei de conversibilidade ? como sugerem os rumores ?não vai funcionar, e vão ter que dolarizar. Mas a dolarização, sem ser acompanhada de uma flexibilização da economia, só vai piorar as coisas. Aí, a recessão vai aumentar, o desemprego vai disparar?. Divisões A possibilidade de uma nova lei de conversibilidade econômica voltou a ser o assunto de diversas especulações na city, e estaria sendo analisado seriamente na Casa Rosada, a sede do governo. Neste caso, uma nova conversibilidade não manteria a paridade um a um existente na antiga conversibilidade, que vigorou entre março de 1991 e janeiro de 2002, mas sim, passaria a ter uma relação diferente, especulada em 3,00 ou 4 ,00 pesos para US$ 1,00. Rumores no âmbito governamental indicavam que Duhalde teria entrado em contato com o ex?ministro da Economia, Domingo Cavallo, para pedir-lhe uma assessoria ultra-confidencial sobre como implantar uma nova conversibilidade econômica. Esta seria uma forma desesperada de conseguir a confiança dos ariscos argentinos, que desde o início da livre flutuação do peso correm sem pestanejar em direção ao dólar. Na Casa Rosada, teriam concluído que a desvalorização da moeda foi uma solução crassa para o caso argentino. Estes contatos com Cavallo e a falta de um apoio político ostensivo por parte de Duhalde a Remes Lenicov, fragilizam cada vez mais a posição do ministro, que declaradamente se opõe à uma nova conversibilidade. Outras opções analisadas na Casa Rosada são a criação de uma banda de flutuação e até uma cesta de moedas. Neste último caso, a cesta incluiria, além do dólar, o real e o euro. No ministério da Economia havia profunda irritação com estas possibilidades, que tirariam o rumo econômico do trajeto delineado por Remes Lenicov. Desta forma, existia a certeza que a atual equipe econômica não seria a mesma que poderia reimplantar uma modalidade de câmbio fixo. Medidas De manhã cedo, o secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, afirmou que quando a missão do FMI desembarcar na segunda-feira em Buenos Aires, o governo apresentaria um pacote de medidas que seriam elaboradas ao longo deste feriado. As medidas teriam a intenção de conter o dólar, além dos preços dos preços dos produtos da cesta básica. Na Casa Rosada, extra-oficialmente, afirmava-se que o governo poderia reduzir o Imposto de Valor Agregado (IVA) de 21% para 15% para alguns produtos alimentícios. Além disso, analisava-se elevar a retenção para todas exportações de 10% a 20%. O plano havia começado a ser chamado de ?Plano Semana Santa?. Mas no fim da tarde, no ministério da Economia, desmentia-se qualquer possibilidade de plano. Nesse edifício, separado da Casa Rosada apenas pela rua Hipólito Yrigoyen, as referências sobre Fernández variavam entre ?ele é um mero contínuo? e ?não entende nada de nada?. Futuro Joaquín Morales Solá, um dos analistas políticos mais prestigiados do país, considera que para o presidente Duhalde, o futuro ?está sendo medido em dias?. Segundo ele, com o ?inquieto? comportamento do dólar, Duhalde poderia não chegar até o fim de seu mandato provisório, em dezembro de 2003. Segundo Morales Solá, ?a prova de fogo dos dias que virão referem-se à estabilidade da política nacional e ao desafio de demonstrar que a Argentina merece ainda contar com uma moeda própria. Uma parte do destino encerra-se daqui a pouquíssimos dias?. Menos Gastos O chefe do gabinete de ministros, Jorge Capitanich, anunciou que o governo do presidente Duhalde já conseguiu aplicar uma redução de gastos de 118 milhões de pesos (US$ 39,33 milhões) na máquina estatal. Segundo Capitanich, este corte equivale a 25% do total de gastos. O chefe do gabinete de ministros explicou que os ministérios da Economia, Produção, Trabalho, Educação, Saúde e Desenvolvimento Social implementaram reduções de até 30% de suas estruturas burocráticas. Depois do anúncio, o presidente Duhalde pediu a seus ministro que sejam mais ?extremistas? nos cortes de seus ministérios e exigiu austeridade em todas as áreas do governo. Leia o especial

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