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Dólar cai pelo 2o dia, mercado está cético com medidas

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Por Silvio Cascione
Atualização:

O dólar fechou em queda pelo segundo dia seguido nesta quarta-feira, acompanhando o comportamento tranquilo do restante do mercado enquanto o governo prepara medidas para conter a apreciação do real. A moeda norte-americana recuou 0,59 por cento, para 1,674 real. No ano, a queda acumulada já é de 5,8 por cento. O dólar passou boa parte do dia em alta, à espera das medidas do governo contra a apreciação do real. Na terça-feira, uma fonte do Ministério da Fazenda confirmou que o anúncio poderia ser feito já nesta quarta-feira. A alta, porém, não resistiu até a tarde. "O fluxo tem tido influência nisso. Para mim, não há mudança de tendência", disse o gerente de câmbio de um banco estrangeiro, que preferiu não ser identificado. Entre as medidas mais comentadas estão o fim da exigência da cobertura cambial aos exportadores e a tributação sobre o investimento estrangeiro em títulos públicos. A avaliação da maior parte do mercado, porém, é a de que elas terão efeito apenas limitado sobre a cotação do dólar. "Um dos fatores importantes que tem contribuído para a valorização do real é o elevadíssimo diferencial de juros", comentou Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora, em relatório. A taxa básica de juros no Brasil tem se mantido em 11,25 por cento ao ano, enquanto a norte-americana, em trajetória de queda, está em 3,0 por cento. TIRO NO PÉ? Sobre o fim da cobertura cambial, a maior parte dos analistas avalia que é um passo importante para facilitar o trabalho dos exportadores, que não teriam mais que trazer, obrigatoriamente, parte dos dólares obtidos no exterior. "Estaria na direção correta de reduzir o custo das transações no mercado de câmbio, mas provavelmente não será um impedimento obrigatório sobre o fluxo de câmbio", avaliou Zeina Latif, economista do ABN Amro, também em relatório. O gerente do banco estrangeiro concorda que nem todos os exportadores terão interesse em manter os dólares fora do país. "Quem vai deixar o dólar lá fora, (remunerado) a 3 por cento, com a taxa (de juros) que nós temos hoje aqui?", perguntou. A tributação de estrangeiros, porém, enfrenta resistência no mercado. "Seria um tiro no pé", disse Júlio César Vogeler, operador de câmbio da corretora Didier Levy. Há cerca de dois anos, o governo isentou os estrangeiros de tributação para investir em títulos públicos, com o objetivo de alongar os prazos e aumentar a liquidez dos mercados. Para a economista do ABN, a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as transações de câmbio para compra de títulos públicos por estrangeiros "poderia ter algum impacto sobre a moeda, mas isso tende a se esvair rapidamente." "Se colocar no papel, mesmo a taxação pode ser diluída numa aplicação de médio prazo", completou o gerente do banco estrangeiro, que não quis ser identificado. Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, sugeriu uma possível medida para tirar parte da pressão de queda sobre o dólar. "O BC precisa interromper as rolagens dos 'swaps reversos', diminuindo assim as 'posições vendidas' dos bancos e desta forma restringindo a capacidade de atuarem como 'compradores' de dólares no mercado de derivativos", disse.

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