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Dólar é o mais baixo desde 1999. E deve cair ainda mais

Elevação da Selic traz mais dólares ao País, o que valoriza o real e torna exportações menos competitivas

Por Fernando Nakagawa e Leandro Mode
Atualização:

O primeiro efeito da alta do juro já pôde ser sentido antes mesmo do início da segunda parte da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim da tarde de ontem. A expectativa de elevação da taxa Selic fez o dólar cair para R$ 1,663, menor valor desde maio de 1999. Compare a evolução da Selic e o juro ao consumidor Veja o resultado da enquete sobre o consumo a prazo Para analistas, a alta do juro deverá reforçar a tendência de ingresso de recursos de curto prazo no País, contribuindo para maior valorização do real. Como a queda do dólar estimula as importações e torna as exportações menos competitivas, o efeito da pressão sobre a taxa de câmbio pode ser uma piora nas contas externas. A entrada de recursos será estimulada porque vai aumentar a diferença entre os juros no Brasil e os cobrados nos principais mercados externos. Assim, os investidores serão incentivados a fazer as chamadas operações de "arbitragem", em que captam recurso lá fora e aplicam no mercado brasileiro, ganhando com a diferença. O fluxo de dólares ao Brasil vem se mantendo forte, apesar da turbulência internacional. Nas duas primeiras semanas deste mês, segundo informou ontem o Banco Central (BC), entraram US$ 5,435 bilhões no País, valor maior que os US$ 4,362 bilhões de igual período de abril de 2007, quando a crise americana ainda não existia. O aumento ocorreu até nos investimentos financeiros, os mais vulneráveis ao nervosismo do mercado. Nas duas primeiras semanas do mês, ingressou no País US$ 1,714 bilhão para aplicações financeiras, como títulos da dívida e ações. O volume foi 70% maior que o US$ 1 bilhão do mesmo período do ano passado. As operações de câmbio ligadas à balança comercial trouxeram US$ 3,721 bilhões, já que as exportações superaram as importações. Para os especialistas, o resultado se explica pelo aumento da diferença entre o juro do Brasil e a taxa dos Estados Unidos, situação que será reforçada a partir agora com elevação da Selic. Até ontem, o BC pagava juros anuais de 11,25% e os EUA, de 2,25%. A diferença era de nove pontos porcentuais a favor do investimento no Brasil. Em abril de 2007, a Selic estava em 12,75% e o juro dos EUA era de 5,25%. Na época, a diferença era menor, de 7,5 pontos. "A queda das taxas nos EUA e o aumento do juro no Brasil são um tremendo atrativo para o investidor estrangeiro, que continua ingressando no País", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "Não conheço nenhum país com o mesmo nível de risco do Brasil que pague juros tão altos", reforça o gerente de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel. Diante disso, nem mesmo a alta de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) afugentou o estrangeiro. "O aumento do diferencial de juros anulou completamente essa alíquota maior", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas André Luiz Sacconato. O economista da GAP Asset Management Alexandre Maia lembra que, além do juro, outros dois fatores pressionam para baixo a cotação do dólar no País: a forte alta das commodities no mercado internacional e a tendência de queda da moeda americana no mundo todo, em razão da crise econômica no país.

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