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Dólar fecha acima de R$2,25 pela 1º vez em 6 semanas, por aversão a risco

Por BRUNO FEDEROWSKI
Atualização:

O dólar saltou mais de 1 por cento nesta quinta-feira e fechou acima do teto informal de 2,25 reais pela primeira vez desde o início de junho, por preocupações com o aprofundamento da crise na Ucrânia e expectativas de menor ingresso de recursos no Brasil. A moeda norte-americana avançou 1,64 por cento, a 2,2588 reais na venda, maior patamar desde 5 de junho, quando fechou em 2,2608 reais. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1,7 bilhão de dólares. "Tivemos mais notícias relevantes hoje do que em toda a semana passada e absolutamente nenhuma delas foi favorável ao real", resumiu o operador de câmbio da corretora Intercam Glauber Romano. A aversão ao risco foi generalizada nos mercados globais. Um avião de empresa aérea da Malásia foi derrubado no espaço aéreo ucraniano, perto da fronteira russa, causando 295 mortes e aprofundando drasticamente o conflito entre o governo de Kiev e os rebeldes pró-Rússia. A notícia piorou ainda mais o humor dos investidores, já abalado após os Estados Unidos e a União Europeia anunciarem na véspera sanções mais duras contra a Rússia por conta da crise na Ucrânia. As novas sanções afetam empresas russas importantes, como o terceiro maior banco do país, o Gazprombank, e a Rosneft Oil, maior produtora de petróleo da Rússia. "Não temos informações detalhadas sobre o avião, então todo mundo está com medo de que isso seja sinal de que a crise geopolítica na Ucrânia vai piorar", afirmou o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos. Nesse contexto, investidores evitaram ativos mais arriscados e buscaram outros considerados mais seguros, como o dólar e o iene. A aversão ao risco também derrubou os rendimentos da dívida pública dos EUA e os preços das ações em Wall Street. No Brasil, a alta do dólar também refletiu expectativas de menor fluxo de entrada de divisas para a economia brasileira, após o BC manter na véspera a taxa básica de juros em 11 por cento ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve no comunicado divulgado após a reunião que a expressão "neste momento", o que foi entendido por especialistas como uma indicação de que o futuro da política monetária está em aberto. No mercado de juros futuros, a curva de DIs passou a embutir apostas de aumento menor da Selic em 2015, diante do cenário de atividade mais fraca, o que poderia contribuir para redução no ingresso de divisas no país. "Uma mudança na expectativa de juros afeta o dólar, porque torna os ativos brasileiros menos atraentes", explicou o economista da corretora H.Commcor Waldir Kiel. O avanço do dólar ganhou mais tração na reta final da sessão, após a moeda dos EUA superar o teto da banda informal de flutaçao da moeda norte-americana, entre 2,20 a 2,25 reais. Boa parte do mercado acredita que esse intervalo agradaria ao BC por não ser inflacionário e não prejudicar as exportações. Segundo operadores, quando a cotação superou essa resistência, disparou pedidos automáticos de compra de divisa, colocados por investidores vendidos em dólares com objetivo de limitar suas perdas. Mas analistas afirmam que a moeda dos EUA deve voltar a patamares mais baixos em breve, com investidores se antecipando a uma possível ação do BC para trazer o dólar para baixo. "Já vimos isso antes: quando o dólar bate em 2,25 reais, o mercado logo se assusta", disse um operador de uma corretora internacional. Pela manhã, a autoridade monetária vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, com vencimento em 2 de fevereiro de 2015, no valor correspondende de 198,8 milhões de dólares. Também foram ofertados swaps para 1º de junho de 2015, mas nenhum foi vendido. O BC vendeu a oferta total de até 7 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em agosto. Ao todo, o BC já rolou cerca de 36 por cento do lote total, que corresponde a 9,457 bilhões de dólares.

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