A crise nos mercados internacionais, com perdas históricas nas bolsas européias, impulsionou o dólar nesta segunda-feira para a maior cotação em quase dois meses, acima de 1,83 real. A moeda norte-americana encerrou em alta de 2,46 por cento --maior alta diária desde agosto--, para 1,830 real. É a maior cotação de fechamento desde 27 de novembro. Em janeiro, o dólar acumula alta de 2,98 por cento. O feriado nos Estados Unidos, que comemoraram o dia de Martin Luther King, não impediu que as bolsas na Ásia e na Europa tivessem um dia de muito nervosismo. Os investidores repercutiram o desânimo com o plano de estímulo econômico esboçado na última sexta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para tentar evitar uma recessão na maior economia do mundo. A queda dos principais índices de ações da Grã-Bretanha, Alemanha e França tirou cerca de 300 bilhões de dólares do valor de mercado das empresas da região. A tempestade no exterior aumentou a aversão a risco entre os estrangeiros. No mercado de juros futuros, as principais projeções tiveram forte alta e, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o principal índice caía quase 7 por cento a duas horas do fechamento --refletindo o desmonte de posições de investidores internacionais. Com isso, "a desvalorização do real é imediata, até porque o fluxo cambial não tem sido positivo e a balança comercial vem tendo desempenho bastante discreto no início deste ano", disse Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora. De acordo com dados do Banco Central, a turbulência financeira já havia provocado a saída, em termos líquidos, de 2,18 bilhões de dólares neste ano até 11 de janeiro. Já a balança comercial, que em 2007 foi um importante canal de entrada de recursos, teve superávit de apenas 396 milhões de dólares nas três primeiras semanas de 2008 --a última semana, com saldo positivo de apenas 1 milhão de dólares, teve o resultado mais baixo desde maio de 2002. Mas Renato Schoemberger, operador da Alpes Corretora, fez questão de ressaltar que não houve pânico nos mercados brasileiros nesta segunda-feira, já que o epicentro da crise está nos Estados Unidos. "Não teve desespero nenhum, até podia estar pior... O mercado está com liquidez, isso é que é importante", frisou. A forte alta do dólar não impediu que o BC comprasse dólares em leilão no mercado à vista. Na operação, a autoridade monetária definiu taxa de corte a 1,8305 real e aceitou, segundo operadores, ao menos uma proposta. (Edição de Vanessa Stelzer)