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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Dólar vive realidades diferentes no exterior e no Brasil

Moeda cedeu terreno ante as principais rivais de países desenvolvidos, mas segue em alta em relação ao real

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Atualização:

Depois de um ganho considerável no primeiro trimestre deste ano, alimentado pelo impressionante rali da taxa de retorno dos títulos do Tesouro americano, o dólar cedeu terreno neste mês ante as suas principais rivais de países desenvolvidos, mas segue em alta em relação ao real brasileiro, que lidera o ranking mundial das moedas com o pior desempenho no ano.

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A pressão no câmbio no Brasil reflete a piora no sentimento dos investidores sobre a trajetória fiscal, o agravamento dos números de mortes e casos de covid e o ambiente político turbulento, com o imbróglio do Orçamento e a CPI da pandemia.

De janeiro a março, o dólar subiu 8,48% ante o real, e até esta segunda-feira acumulava ganho de 1,67% em abril. Parcela significativa do avanço do dólar ante o real no primeiro trimestre foi reflexo da valorização global da moeda americana.

Aqui, os fatores domésticos não ajudam o real e o dólar deve continuar em alta. Foto: Paul Yeung/Bloomberg

No primeiro trimestre deste ano, o índice DXY, que mede a variação do dólar contra uma cesta de seis moedas fortes, deu um salto de 3,66%, fechando o dia 31 de março a 93,23. Já em abril, até a segunda-feira, dia 12, o DXY recuava 1,1%.

Um dos exemplos mais ilustrativos da perda de fôlego global do dólar neste mês é o euro. No início de janeiro, o euro chegou a atingir US$ 1,2326, mas fechou o primeiro trimestre cotado a US$ 1,1727. Até o início desta semana, porém, a moeda comum europeia havia recuperado 1,5% em abril, cotada a US$ 1,1903.

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A força global do dólar no primeiro trimestre veio na esteira de uma recuperação mais forte do que o esperado da economia dos Estados Unidos, diante da aprovação de novo pacote fiscal, no valor de US$ 1,9 trilhão, da promessa do Federal Reserve (Fed) de que os juros básicos seguirão próximos de zero até 2023 e do ritmo bem mais acelerado da vacinação contra covid nos Estados Unidos.

Sem contar que o presidente Joe Biden está negociando com o Congresso a aprovação de um pacote de investimento em infraestrutura de US$ 2 trilhões ao longo dos próximos oito anos.

Diante dos estímulos fiscais e monetários e da vacinação acelerada, há quem estime um crescimento do PIB dos EUA acima de 7% neste ano. Assim, os investidores passaram a esperar um repique da inflação no curto prazo. O índice de preços ao consumidor deu um salto de uma taxa anual de 1,7%, em fevereiro para 2,6% em março no acumulado de 12 meses, enquanto a meta de inflação do Fed é de 2%.

Não à toa, os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano subiram de forma descontrolada no primeiro trimestre, uma vez que os investidores passaram a acreditar que a inflação subirá para um patamar desconfortável o suficiente para fazer o Fed quebrar a sua promessa e elevar os juros antes de 2023.

A taxa paga pelo título do Tesouro com prazo de dez anos disparou de 0,916% no fim de 2020 para 1,77% no fim de março. Em abril, essa taxa cedeu para 1,67% no início desta semana.

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Os analistas estão divididos sobre se a valorização global do dólar chegou ao fim. Há os que esperam que a economia dos EUA tenha desempenho muito superior ao de seus principais parceiros comerciais neste ano e que o Fed retire os estímulos monetários, incluindo uma redução nas compras de ativos, já em 2022. Com isso, o dólar retomaria a tendência de fortalecimento.

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Mas há quem acredite que a vacinação contra covid na zona do euro, que está mais lenta, ganhará ritmo, o que deverá acelerar a recuperação do bloco no segundo semestre. Isso ajudaria a reduzir o diferencial de crescimento entre EUA e Europa. Além disso, os juros dos papéis do Tesouro americano devem seguir subindo, porém mais moderadamente do que no primeiro trimestre.

Nesse contexto, o euro, entre outras divisas fortes, recuperaria terreno ante o dólar. Uma valorização do euro seria favorável a moedas emergentes, incluindo o real, pois, como o bloco europeu está mais ligado às cadeias mundiais de fornecimento de produtos, isso sinalizaria uma economia global – e, consequentemente, o comércio – mais saudável. Assim, lá fora, o mercado de câmbio não seria dominado por um tema só: o da força da economia americana. Mas, aqui, os fatores domésticos não ajudam o real.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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