Publicidade

Doleiros ficavam no Credit Suisse, dizem testemunhas|

Segundo depoimentos de ex-funcionários e de um doleiro, as remessas aconteciam dentro do banco

Por Jamil Chade
Atualização:

Documentos, depoimentos e agendas pessoais de banqueiros suíços apreendidos pela Polícia Federal (PF) apontam para suspeitas de violações cometidas pelo escritório do Banco Credit Suisse (CS) em suas operações no Brasil. Em depoimentos à Justiça Federal, testemunhas e réus na investigação conduzida no Brasil confirmaram que as operações de entrega e retirada de valores eram feitas por doleiros dentro do escritório de representação do próprio Credit Suisse no Brasil. Procurado pelo Estado, o banco negou que trabalhe com doleiros. Desde 2007, o Ministério Público Federal (MPF) apreendeu milhares de páginas com documentos de bancos suíços. Só agora, com depoimentos e análise de cada dado, é que a investigação começa a avançar. O conteúdo dos depoimentos foi passado à reportagem do Estado por fontes em Genebra próximas ao processo e confirmam que operações eram feitas no escritório de representação. O responsável pelo escritório era o português Carlos Martins. Sua casa foi alvo de uma ação da Polícia Federal e centenas de documentos foram apreendidos. Entre agosto e setembro, a Polícia Federal ouviu uma série de testemunhas, entre elas duas ex-funcionárias do Credit Suisse e um doleiro que foi identificado na Operação Kaspar I. As suspeitas preliminares são de que, com a ajuda dos doleiros, o banco conseguiu fazer transações de evasão fiscal e, dentro do escritório de representações, eles movimentavam e abriam contas no exterior, sem declarar, à margem da fiscalização. As investigações da 6ª Vara Federal, conduzidas pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, agora aponta para os bancos. Algumas das declarações mais contundentes foram dadas pelos ex-funcionários do banco em São Paulo, em depoimentos no dia 23 de setembro. D.S.N. e M.M.S. descreveram como os doleiros agiam dentro do banco. A pedido da Justiça suíça, que acompanha as investigações no Brasil e está preocupada com a segurança dos autores dos depoimentos, a reportagem do Estado optou por não publicar os nomes completos das testemunhas. O ESQUEMA Tanto os dois ex-funcionários, que viam a movimentação no escritório de representação do banco na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, como o doleiro, confirmaram na Sexta Vara Criminal que as operações com doleiros para envio de dinheiro ao exterior ocorriam dentro do próprio escritório de representação do Credit Suisse. O anúncio das operações e a prisão dos banqueiros fez com que, na época, o Credit Suisse alertasse que não tinha nenhuma relação com os doleiros. O Estado apurou ainda que doleiros conheciam bem os funcionários do Credit Suisse, que, de fato, operavam de dentro dos escritórios de representação e que os pedidos de transações vinham da gerência do banco. O banco, porém, voltou a negar que trabalhe com doleiros. "O banco adota os mais altos padrões éticos e segue as diretrizes rigorosamente, em conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis, que proíbem especificamente qualquer contato com doleiros", afirmou o Credit Suisse, por meio da assessoria. Em novembro de 2007, os bancos suíços foram acusados pela PF de usar doleiros para fazer remessas ilegais para seus clientes. Três executivos desses bancos e cinco doleiros foram presos. Onze empresários foram acusados de usar o suposto esquema para enviar recursos para a Suíça. O Credit insistiu que nunca havia recorrido a doleiros e que banqueiros presos haviam agido de forma independente. Mas, para os investigadores, os doleiros eram apenas um instrumento que o Credit usava para fazer transferências. Mas as ordens vinham do próprio banco e a alta cúpula da gerencia na Suíça estaria ciente disso. Em 2006, a PF ainda prendeu o suíço Peter Schaffner no Aeroporto de Cumbica, quando tentava sair do País. Schaffner é tido com um dos supervisores dos negócios do CS no País. Quando foi preso, o banco retirou imediatamente, em Zurique, suas informações de seu site pessoal.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.