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Doméstica espera 11 dias por liquidação em Campinas

Por Agencia Estado
Atualização:

A doméstica Sirlei Maria de Jesus passou o réveillon deste ano como nenhum outro campineiro. Um dia depois do Natal, munida de uma cadeira e uma garrafa térmica, postou-se junto à porta lateral de uma loja de eletrodomésticos no centro de Campinas. Entrou 2002 tendo a filha, Priscila de Jesus Cardoso, de 12 anos, como única companhia. Não brindaram, não comemoram. Elas esperaram 11 dias, revezando-se no posto, para concluir sua missão. Entrar no Magazine Luíza, na sua liquidação de início de ano repleto de gente, escolher rapidamente o objeto de desejo antes que outro o fizesse, carregá-lo até o caixa, enfrentar outra fila para pagar a compra, ter seus pertences pessoais revistados na saída e ainda arranjar um jeito de levar a mercadoria para casa. Depois de percorrer toda a via-sacra, Sirlei conseguiu finalmente comprar sua geladeira. Aproveitou a viagem para levar ainda um pequeno rádio a pilha, uma panela de pressão e um telefone simples. O vendedor tentou convencê-la a comprar um novo fogão ou um microondas. Ela avisou que não tinha dinheiro para mais nada e parcelou a compra em dez vezes. A geladeira lhe custou dez prestações de R$ 80, mais barato que no mercado, garantiu a compradora. "Valeu o sacrifício", afirmou Como Sirlei, centenas de pessoas se aglomeraram na fila em frente à loja para tentar encontrar uma boa oferta. Mas apenas a doméstica abriu mão do ano novo. A grande maioria chegou ao local ontem para esperar a abertura da loja, marcada para às 5 horas de hoje. Por R$ 30, o eletricista Isaías Lopes conseguiu comprar um bom lugar na fila, cujos preços variavam entre R$ 10 e R$ 60. Chegou ao local na noite de ontem e logo ao entrar na loja agarrou uma geladeira. Quando conseguiu um vendedor para reservar a mercadoria, saiu à caça de um microondas. Lopes teve de pagar outros R$ 70 de frete para levar os produtos para casa, na cidade de Hortolândia. Ainda assim, garantiu que o valor gasto foi inferior ao que pagaria no mercado. Enxoval O mecânico Wanderson Praxedes e a noiva Márcia Pereira Bueno conseguiram uma geladeira e um fogão para o enxoval do casamento ainda não marcado. "Ano que vem a gente vem aqui para comprar o resto e daí tenta marcar a data", disse Pradexes, sob o olhar desconfiado de Márcia. Mas nem todos saíram no lucro. A auxiliar de enfermagem Edilse Casemiro dos Santos pagou R$ 50 a um senhor para que ficasse dois dias na fila. Ela assumiu o posto ontem à tarde. Passou a noite no local e não conseguiu comprar o videokê que queria. "Estava mais caro que em outras lojas", contou, inconformada o prejuízo. A faxineira Josefa das Neves também se frustrou ao não encontrar um multiprocessador que coubesse no seu bolso, depois de passar a noite na fila. "Está muito caro", resignou-se, antes de decidir se ia embora de mãos vazias ou se dava uma olhada nas cafeteiras. Duas mil pessoas Segundo a direção da rede, no dia 2 de janeiro havia cerca de 100 pessoas em frente à unidade de Campinas. Hoje, antes das abertura, eram duas mil. A loja funcionou até as 11 horas e os integrantes da fila foram se renovando. Antes das 7 horas, os produtos mais baratos já haviam sido todos vendidos. Porteiros cuidavam para evitar a entrada de um número maior de pessoas do que o local suportaria. Mesmo assim, alguns departamentos ficaram intransitáveis. A liquidação ocorre simultaneamente nas 111 lojas da rede, em quatro Estados (SP, RJ, PR e MS) há nove anos e já virou folclore no calendário do comércio dessas cidades. A primeira liquidação tinha como objetivo vender produtos de exposição. O sucesso foi tanto que a variedade de ofertas aumentou, com descontos entre 20% e 70%. Todo ano, a queima de estoque ocorre no primeiro sábado após o réveillon e atrai centenas de pessoas a cada loja. Faturamento No ano passado, a rede faturou R$ 11 milhões no dia da liquidação, valor equivalente a uma semana de vendas. Este ano, a expectativa era de que houvesse uma aumento de 10%. A procura maior é por eletroeletrônicos e móveis. No dia da liquidação, a loja não faz entregas. Cada comprador tem de levar seu produto para casa. Do lado de fora da unidade de Campinas, carreteiros disputavam os fregueses dispostos a pagar pelo frete. A maioria, porém, prefere ajeitar os produtos em conduções próprias ou de amigos. A doméstica Célia Maria de Amorim convocou o vizinho, e seu automóvel, para carregar o fogão recém-comprado. Os fretes estavam cotados de R$ 15 a R$ 100, para outras cidades. Segundo a direção, na segunda-feira a loja reabre com estoque renovado.

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