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Dona de Linhão de Tucuruí, na Amazônia, diz que 'é impossível' indenizar indígenas por impacto

Obra está travada devido a impasse financeiro entre a concessionária Transnorte Energia, dona do projeto, e os indígenas que terão suas terras cortadas pelo projeto

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – A construção da linha de transmissão de energia entre Manaus (AM) e Boa Vista (RR), uma das obras mais controversas do País, está travada devido a um impasse financeiro entre os donos do projeto e os indígenas que terão suas terras cortadas pelo projeto. Na última sexta-feira, 28, o assunto foi tema de uma reunião entre a concessionária Transnorte Energia, dona do projeto, e a diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

No encontro, a empresa formada pela estatal Eletronorte e a companhia Alupar disse que “é impossível fazer o pagamento do valor solicitado pela associação indígena” que representa o povo Kinja, da terra indígena Waimiri Atroari, por onde há previsão de passarem 122 quilômetros da rede de energia elétrica. 

Cerca de 122km do traçado dolinhão passam naterra indígena Waimiri Atroari;projeto de infraestrutura é um dos mais polêmicos do País. Foto: Bruno Kelly/Estadão - 18/6/2019

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Aos técnicos da agência reguladora, a concessionária declarou que a licença de instalação da linha que recebeu em setembro, do Ibama, e que libera o início das obras inclui uma série de custos ambientais que remontam a cerca de R$ 80 milhões. “No entanto, os índios solicitam R$ 190 milhões”, afirmou a diretoria da empresa.

Conforme mostrou o Estadão, há mais de quatro meses o início das obras foi anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas não houve nenhuma ação efetiva até hoje, porque, no entendimento dos indígenas, a Funai, que analisou o impacto do projeto aos povos indígenas, deixou de mostrar claramente quais seriam as indenizações atreladas à construção da linha.

No dia 22 de dezembro, a Justiça Federal no Amazonas determinou que a construção só poderá ter início após a concessionária atender às medidas socioambientais firmadas com os povos indígenas da região. O entendimento é que a Transnorte Energia decidiu dar início à obra de forma unilateral, sem o pagamento das compensações e que “poderá haver bloqueio da conta de empresas (públicas ou privadas) beneficiárias com a exploração da matriz energética decorrente do linhão”.

A Justiça aponta que haveria um pleito compensatório com iniciativas que chegam ao valor de R$ 133 milhões, mas há uma série de medidas que estão previstas ao longo dos anos de concessão que não tiveram resposta da empresa.

Na reunião realizada com a Aneel, a empresa declarou que deverá haver um novo pedido de reequilíbrio financeiro do contrato. A empresa, que, no passado, já tentou devolver o empreendimento ao governo, disse que pretende seguir com o projeto, mas não nas condições atuais.

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Segundo foi relatado, a implantação de benfeitorias para a comunidade indígena antes do início das obras demandará cerca de seis meses de trabalho, além da realização de três reuniões com os indígenas já previstas, para discutir as melhorias. A companhia alegou que esses encontros “não ocorreram porque os índios exigem o pagamento integral do valor solicitado”.

A Procuradoria Federal, que também participou da reunião, entende que os custos ambientais devem ser pagos durante a vigência do contrato de concessão, e não à vista. O governo avalia a instauração de um processo de “arbitragem” judicial para que a negociação avance. Segundo a Transnorte, os custos “teriam sido cobrados pós licença” ambiental e “em nenhum momento foi acordado que ela deveria suportar tais custos”.

O Ministério de Minas e Energia afirmou que, com a Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (SEPPI/ME) e a Funai, “tem buscado o diálogo com a comunidade indígena de maneira a viabilizar o início da implantação do empreendimento o mais breve possível, para reduzir o custo da geração termelétrica em Roraima”.

O Ibama negou atropelo no rito e afirmou que “a licença de instalação foi emitida após ser cumprido todo o rito administrativo determinado, com protocolo de consulta e existência de elementos suficientes para o controle e mitigação dos impactos do empreendimento planejado, incluindo o componente indígena”.

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Segundo o Ibama, medidas de fortalecimento do Programa Waimiri Atroari (PWA), já existente na comunidade, contaram com 100% de consenso da comunidade indígena. “Todas as obrigações da autoridade licenciadora foram executadas com rigor técnico e celeridade, tendo sido emitida a licença de instalação com obrigações condizentes com o impacto mensurado para a obra em questão”.

No entendimento da Associação Comunidade Waimiri Atroari, que representa os povos locais, o governo atropelou o processo de licenciamento e quer iniciar o projeto sem cumprir o acordo. A obra, planejada para conectar o Estado de Roraima ao sistema elétrico nacional, deveria ter sido entregue em 2015. O prazo atual de construção dos 720 km de rede é de três anos, quando iniciado.