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Dos vídeos de funk no Guarujá à meca da criatividade global

Cineasta formado na cena funk do litoral paulista, Kondzilla foi a Cannes como diretor da Conspiração Filmes

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:
Konrad Dantas, o Kondzilla, cineasta formado na cena funk do litoral paulista Foto:

Nome conhecido entre os artistas dos movimentos funk e hip hop de São Paulo, o diretor Kondzilla “pulou” para a publicidade há pouco mais de um ano, ao ser contratado como diretor de cena de uma das principais produtoras do País, a Conspiração Filmes. Criado na periferia do Guarujá, no litoral de São Paulo, Kondzilla – nome artístico de Konrad Dantas, 28 anos – fez este ano sua estreia no Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade. Foi levado ao evento pela produtora para mostrar seu estilo e, quem sabe, começar uma carreira internacional.

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Cineasta autodidata, Konrad estreou atrás das câmeras em 2011, aos 21 anos, mas já circulava no movimento funk desde a adolescência. Depois de uma curta tentativa de compor e cantar, decidiu enveredar pelo audiovisual, inspirado pelos clipes americanos. A família de Konrad conseguiu comprar um computador, mas não havia dinheiro para ter uma assinatura fixa de internet – por isso, o acesso era comprado apenas eventualmente, quando havia sobra no orçamento.

Foi a partir dessa conexão intermitente que o cineasta começou a dar conta da própria educação. Toda vez que tinha acesso à web, usava um programa para baixar o maior número de clipes possível. Depois, já offline, assistia um a um, metodicamente, anotando em uma folha de papel tudo o que lhe agradava e lhe repelia nas escolhas dos diretores gringos.

Após desenvolver seu apuro visual, ele conseguiu juntar dinheiro para comprar uma câmera Canon. O estilo de filmar foi desenvolvido na base da necessidade – era preciso trabalhar rápido e gastar pouco. A produção tinha ritmo industrial. Somente em 2012, Konrad produziu, praticamente sozinho, nada menos que 60 clipes. 

Da quantidade, veio a qualidade: alguns dos artistas com os quais trabalhou viraram estrelas da noite para o dia, entre eles Mc Kevinho e Mc Guimê. Junto com eles, os clipes de Kondzilla – feitos, muitas vezes, com orçamentos de R$ 5 mil – ganharam vida própria e milhares de seguidores nas redes sociais.

Diante do êxito dos vídeos de Kondzilla, nem todos os artistas foram fiéis ao diretor. À medida que os clipes faziam sucesso, lembra Konrad, teve gente que achou que poderia terceirizar o trabalho a preços mais baixos. “O problema foi que os clipes não tiveram a mesma repercussão, então eles voltaram para mim”, diz o cineasta.

Foi justamente nesse retorno que se deu o “pulo do gato” de Kondzilla em termos de negócio. “Para aceitar os trabalhos de volta, passei a exigir 50% dos royalties sobre os vídeos”, conta. “A marca Kondzilla passou a validar o conteúdo.” Hoje, a página do diretor no YouTube tem 15 milhões de seguidores.

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Publicidade. Toda a empreitada dos videoclipes foi uma forma de Konrad chamar a atenção das agências de publicidade para se arranjar um emprego. “Era uma forma de ser percebido, já que eu não sou de família conhecida e não fiz faculdade de cinema.” Nos últimos dois anos, Konrad afirma ter recebido cinco propostas para trabalhar em propaganda. Acabou aceitando a da Conspiração – onde tem oportunidade de comandar produções bem mais caras.

Apesar disso, ele não tem intenção de parar o trabalho com música, que continua a ser feito com pequenas equipes e orçamentos apertados. Na Conspiração, no entanto, tem tido a chance de alçar voos mais altos: uma campanha que dirigiu para a Nestlé, estrelada pela cantora Karol Conka, teve orçamento de R$ 1 milhão e ares de superprodução: a equipe de apoio de Kondzilla tinha nada menos do que 137 pessoas.

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