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Duhalde sofre derrota no Congresso nacional

Ameaça de renúncia do presidente não consegue efeito esperado

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo do presidente Eduardo Duhalde sofreu uma dura derrota nesta quinta-feira de madrugada, quando, depois de dez horas de debates, a oposição conseguiu eludir a tentativa governamental de eliminar a lei de subversão econômica, e conseguiu ? em seu lugar ? a aprovação de uma reforma dessa mesma lei. A lei de subversão econômica permite que a Justiça processe com facilidade empresários e banqueiros envolvidos em fraudes, e por isso é criticada intensamente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que exige sua eliminação, como uma das várias condições para liberar a ajuda financeira que a Argentina necessita. A aprovação de uma reforma desagradou o governo, já que as alterações implementadas, em vez de eliminar os efeitos da lei, os intensificam, estipulando penas de prisão mais prolongadas para aqueles que violarem a lei. A falta de votos para revogar a lei de subversão econômica não era esperada, já que horas antes, as principais lideranças da União Cívica Radical (UCR), o maior partido da oposição, haviam declarado que não colocariam obstáculos ao governo do presidente Duhalde. Além disso, o presidente Duhalde considerava que havia conseguido assustar os parlamentares com sua ameaça de renúnciar ao cargo, realizada na véspera. O comportamento dos deputados poucas horas depois causou especulações de que a ameaça ? acompanhada de comentários de assessores e até da esposa de Duhalde de que o presidente estava ?farto? ? não havia tido o efeito calculado. Desta forma, Duhalde poderia estar em suas derradeiras horas sentado no ?sillón de Rivadavia?, como é conhecida a cadeira presidencial. Para o ministro do Interior, Jorge Matzkin, a reviravolta na Câmara de Deputados não consistiu em ?uma derrota? para o governo. Matzkin criticou a UCR, que à tarde havia declarado seu apoio, e que à noite havia votado contra. Com a inesperada aprovação de uma reforma da lei, a medida terá que retornar ao Senado. Ali, Duhalde espera poder contar com a confortável maioria que seu partido, o Justicialista (Peronista) possui. A intenção do governo é a de eliminar a reforma, e imediatamente, com maioria simples, suprimir a própria lei, atendendo assim a exigência do Fundo. O líder do bloco peronista no Senado, José Luis Gioja, sustentou que a lei de subversão será revogada. A votação no Senado ocorreria na terça-feira. No entanto, antes disso, Duhalde terá que esperar os resultados da crucial reunião de cúpula que realizará com os governadores peronistas, na segunda-feira. O encontro será na cidade de Santa Rosa, capital da província de La Pampa. Não se descarta que nessa reunião será discutida detalhadamente a possibilidade de convocar eleições presidenciais antecipadamente. As eleições estão marcadas para setembro do ano que vem. O período de Duhalde ? que está completando o mandato inacabado do ex?presidente Fernando De la Rúa (1999-2001) ? concluiria em dezembro de 2003. ?Se esse assunto das eleições está nas ruas, é preciso falar sobre isto?, disparou o governador da província de Buenos Aires, Felipe Solá. O governador de La Pampa, Rubén Marín, diversas vezes especulado como um eventual sucessor de Duhalde para um novo período de transição, admitiu que na reunião de Santa Rosa será discutido o ?crononograma eleitoral?. Mas os governadores estão divididos. Alguns, como o governador da província de Salta, Juan Carlos Romero, consideram que a transição dever ser completada por Duhalde. O chefe do gabinete de ministros, Alfredo Atanasof, afirmou que ?seria uma irresponsabilidade antecipar as eleições?. O ministro Matzkin, complementou: ?Duhalde não pensa ir embora. Não é de seu feitio?. Mas, para a senadora Cristina Fernández de Kirchner, ?Duhalde está procurando uma desculpa para ir embora?. Comentando as exigências feitas pelo FMI que o presidente tenta cumprir e que estão colocando seu governo em xeque, afirmou: ?a próxima exigência do Fundo será que Duhalde suba no obelisco (monumento símbolo de Buenos Aires) todo ensebado?. Neste sábado, o presidente teria que participar das comemorações do dia 25 de maio, data da revolução que deu início ao processo de independência argentina, em 1810. Tradicionalmente, o presidente transita a pé os cem metros que separam a Casa Rosada, a sede do governo, até a Catedral, para participar de um Te Deum. No entanto, com a baixa popularidade do presidente, esta tradicional cerimônia poderia não contar, pela primeira vez na História, com a presença do presidente.

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