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Durão Barroso quer esforço de Lula na Rodada Doha

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, vai cobrar amanhã do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um "esforço construtivo" do governo brasileiro nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). De forma mais direta, a União Européia pretende pressionar o Brasil a apresentar ofertas mais ambiciosas sobre temas de seu especial interesse, como a liberalização do comércio de produtos industriais e de serviços e mudanças nas regras sobre propriedade intelectual, durante a conferência ministerial da OMC marcada para dezembro, em Hong Kong. Na próxima semana, em uma iniciativa bem mais ousada, Durão Barroso direcionará suas cobranças a Washington. "Estamos prontos a fazer concessões (em acesso a mercados agrícola e na eliminação de subsídios) se os outros parceiros também fizerem algumas concessões", afirmou Durão Barroso, hoje, à imprensa. "As negociações não são só agrícolas. Há uma parte também industrial, de serviços e de propriedade intelectual." Esse discurso é bem conhecido do governo brasileiro, que se mostra reticente a apresentar qualquer proposta mais favorável nesses setores durante as negociações enquanto não haja gestos concretos das economias mais desenvolvidas - justamente as que mais protegem e subsidiam o comércio Agropecuário. As aproximações de Durão Barroso vêm em um momento delicado das negociações, quando os principais atores da OMC tentam quase desesperadamente evitar o fracasso da reunião de Hong Kong, hipótese que poria uma lápide na Rodada Doha. "O Brasil é um parceiro muito importante e, com certeza, ativo na defesa de seus interesses", declarou Durão Barroso, referindo-se também à liderança do País no G-20, o grupo que reúne as economias em desenvolvimento que defendem a ampliação do acesso de seus produtos agropecuários aos mercados desenvolvidos, a eliminação de subsídios à exportação de bens do setor e a redução das subvenções oficiais para agropecuaristas. Na próxima terça-feira, na Casa Branca, a conversa de Durão Barroso será com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Espera-se um tom e um enfoque bem diferentes daqueles que manterá hoje com Lula. Nesse caso, trata-se de uma iniciativa para acertar os ponteiros entre os pesos-pesados do comércio internacional sobre a mesma questão agrícola, na qual mantém posições intervencionistas e protecionistas. Na última segunda-feira, na reunião de ministros de apenas 15 parceiros da OMC em Zurique, Suíça, os Estados Unidos apresentaram a proposta de cortar 60% nos seus subsídios mais distorcidos ao comércio agrícola mundial. A União Européia, por sua vez, propôs 70%. Embora aparentemente volumosos, tais porcentuais não enganaram os negociadores dos países do G-20 presentes ao encontro, que os consideraram ainda insuficientes. O corte proposto pelos europeus significaria a diminuição de somente US$ 3 bilhões nos subsídios que concedem anualmente - cerca de US$ 80 bilhões, nas estimativas da organização Oxfam. O dos Estados Unidos resultaria na redução de US$ 6,4 bilhões - de um total de US$ 19,1 bilhões. Durão Barroso ressaltou que "a economia mundial precisa de boas notícias" - daí a necessidade de "garantir o sucesso" da Rodada Doha e seus esforços de buscar o estreitamento das posições mais conflitantes na negociação. O líder europeu, entretanto, insinuou que as negociações de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia não seria tópico de suas conversas com Lula. Sua intenção seria concentrar-se na OMC e, de forma mais diplomática, em uma nova "estratégia" para as relações entre o bloco europeu e a América Latina, cujos chefes de Estado deverão se reunir em maio de 2006, em Viena, Aústria.

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