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E a velha senhora voltou

Por ALBERTO TAMER
Atualização:

Estamos encerrando o ano com a volta da velha senhora, a inflação, que retorna após nos ter dado três meses de trégua, mas ainda não faz perder o sono. O Banco Central saiu na frente para enfrentá-la; reduziu a liquidez no sistema financeiro e deu raros mas inequívocos sinais de que vai aumentar os juros para conter o excesso de demanda mais cedo que se pensava. Pode ser na primeira reunião do ano, em 19 de janeiro. O BC espera medidas fiscais complementares do novo governo, já prometidas pela equipe econômica.A questão é saber se tudo isso será suficiente para derrubar o índice atual de 5,7%. Parece que ainda não. Seria pouco eficiente elevar os juros sem reduzir os prazos de pagamento hoje de sete anos ou mais, pois a elevação do custo financeiro acaba por ser absorvido ao longo das prestações. Pode até surgir a situação paradoxal de custo financeiro maior e prestações iguais ou menores. E o consumidor poderá continuar sustentando essa situação caso se confirme a tendência de aumento da renda decorrente de um mercado de trabalho vigoroso.O nosso "Homem do Ano" (o consumidor brasileiro, eleito pela coluna) continua animado, colhendo o preço de haver tirado o País da recessão, mas enfrentando o custo de uma inflação que ameaça corroer seu novo padrão de vida. Ele quer que sejam atacados os pontos centrais das pressões inflacionárias, sem afetar seu poder de compra que tornou mais agradável a sua vida. E aqui a pergunta: quais são os vilões da inflação? Alimentos. Este é o vilão principal que todos apontam porque o sentem mais diretamente no dia a dia. Os preços do item alimentação subiram 10,3% este ano, principalmente nos últimos meses, depois de terem ficado estáveis de julho a agosto.Francisco Pessoa, economista da LCA, aponta como principal fator o aumento da demanda interna, o clima desfavorável a partir de setembro no período de entressafra e a persistente alta dos preços das commodities no mercado internacional, acentuada pela quebra na safra na Rússia, na Argentina e em diversos outros países. "O problema é que há muito pouco o que o governo possa fazer no momento", afirma Pessoa.A LCA estima que a inflação do item alimento deverá cair de 10,3% este ano para 5,6% no próximo, graças ao efeito da entrada de novas safras, das medidas do BC e de uma demanda menos aquecida devido a um reajuste real menor do salário mínimo. A previsão está alinhada com outras do mercado. Para 2011, a LCA prevê uma inflação de 4,5%, com crescimento menor do PIB.Problema internacional. Os maiores aumentos são de fato os dos preços dos alimentos. O problema é internacional. Não faltam alimentos, mas a oferta está mais apertada num cenário de maior demanda puxada pela China, que continua a fazer estoques. Bastam alguma redução da oferta e perspectivas às vezes exageradas de estoques menores para as cotações subirem. Além disso, os juros internacionais estão muito baixos, em termos reais negativos na União Europeia e, nos Estados Unidos, há dinheiro sobrando e os aplicadores (fundos e outros) têm jogado muito, investindo e especulando no mercado de commodities. Tudo isso puxa os preços para cima. De acordo com o levantamento tradicional da revista britânica The Economist, nos últimos doze meses as cotações das commodities agrícolas aumentaram 22,8%, dos quais 8,7% só em dezembro. Além dos alimentos. Para a coluna, o problema não está só no mercado de alimentos. O índice de difusão do IPCA está acima de 60%. Em outras palavras, mais de 60% dos componentes do índice de preços estão subindo no Brasil. Há, sim, um forte componente de demanda porque o emprego aumentou, a massa de rendimentos cresceu e há muito crédito no mercado, muito mesmo. O crédito ao consumidor continuou aumentando em novembro e dezembro, mesmo depois das medidas do BC para restringir os empréstimos. O que se pode esperar são novas medidas para estimular a produção e conter o aumento da demanda. Mas não deve ser nada que faça roubar o sono neste fim de ano tão feliz no Brasil.

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