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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|É a vontade de apostar na melhora

A 'vibe' do mercado está propensa a mudar, mas a velha ciclotimia não foi revogada

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Atualização:

Anote os seguintes fatos:

  •  A Bolsa brasileira, que acumula alta de 14% neste ano e de 39% em 12 meses, fechou a última quarta-feira no seu recorde nominal (sem levar em conta a inflação), acima dos 100 mil pontos.
  • Em apenas cinco semanas, a cotação do dólar no câmbio interno caiu 6,2% e pode recuar ainda mais.
  • O Copom reconhece que a inflação corre abaixo da meta, mas avisa que só espera pela aprovação da reforma da Previdência para examinar a redução dos juros básicos (Selic).
  • Aumenta a probabilidade de que a reforma da Previdência seja aprovada.
  • Está em queda a principal medida de risco da economia brasileira, tal como percebido pelo mercado internacional, o CDS5 (Credit Default Swap), que é o adicional sobre os juros cobrado pelo investidor para ficar com títulos do Tesouro do Brasil de cinco anos. Atingiu os 157 pontos ao ano na última quinta-feira, o nível mais baixo desde março (148 pontos). 
  • O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) comunicou na quarta-feira que prepara nova redução dos juros (Fed funds) nos Estados Unidos, que hoje estão nos 2,25% ao ano. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, anunciou que deverá lançar estímulos para reanimar a atividade econômica. O Banco do Japão (BoJ, banco central) também anunciou disposição para novo afrouxamento da sua política de juros, “caso necessário”.
  • No próximo fim de semana, na reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), está previsto encontro entre os presidentes Donald Trump (Estados Unidos) e Xi Jinping (China). A aposta é a de que algum entendimento sairá. Se sair, outra fonte de tensão, a da guerra comercial, poderá ser afastada. 

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Apesar dos graves problemas nas contas públicas (questão fiscal) brasileiras; apesar da prostração da atividade econômica; e apesar dos 13,4 milhões de desempregados, há alguma melhora na percepção sobre o comportamento da economia brasileira.

Sobra dinheiro no mundo e os sinais que vêm dos grandes bancos centrais, como se viu acima, é de que haverá mais cortes dos juros para tentar puxar para cima a atividade econômica global. Juros em queda no mundo rico empurrarão os investidores para a renda variável, especialmente para as ações, o que deverá beneficiar países em desenvolvimento, como o Brasil.

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Se prevalecesse o climão ruim que ainda permeia muitas análises, a Bolsa brasileira não teria chegado aonde chegou. Seu movimento conta com redução dos juros também por aqui, apesar do pão-durismo do Copom. E o investidor brasileiro, que já se ressente com o baixo retorno das aplicações em renda fixa, parece mais propenso a arriscar mais em ações.

Como fica a economia brasileira nesse emaranhado que tende a melhorar as condições da economia? Não há como negar, tudo por aqui se equilibra precariamente. O investimento na atividade econômica não dá sinais de reação; o consumidor, que já enfrenta desemprego alto e quebra de renda, continua endividado e parece mais propenso a se manter na retranca.

E há o jogo político, muito confuso, sujeito a produzir surpresas, sabe-se lá em que direção. O presidente Bolsonaro ainda não conseguiu consolidar um modelo de atuação que substitua o desgastado presidencialismo de coalizão. O Congresso já aumentou e parece disposto a aumentar ainda mais seu protagonismo e a impor uma agenda econômica distinta da agenda do governo.

A conclusão é de que a vibe do mercado está propensa a mudar. Mas a velha ciclotimia não foi revogada. Assim também como pode mudar para melhor, pode mudar para pior.

Mercado financeiro acompanha discussões sobre queda de juros no Brasil e nos EUA. Foto: Renato S.Cerqueira/Futura Press
Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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