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E agora?

O que a sociedade não deseja é que as negociações sejam realizadas com objetivo de minimizar danos pessoais de políticos

Por Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti
Atualização:

Quando tomou consciência de que corria o risco de se tornar presidente, Temer convidou a oposição a Dilma para o diálogo, e o resultado encontra-se na agenda exposta na “Ponte para o Futuro”. Buscou o apoio em torno de ideias, o que foi um bom começo.

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A rigor, a sociedade não apoiou Temer, e sim a mudança de caminho por ele representada. Cansada da “agenda perversa” inventada pelo PT, que vendia a ilusão do paraíso, mas que entregava o descontrole fiscal e a economia em recessão, a sociedade deu suporte àquilo que o novo governo representava. Começamos a vislumbrar novos horizontes, que eram necessários para recuperar a confiança e recolocar o País na rota do crescimento. Uma nova equipe econômica, com um diagnóstico correto e com elevada capacidade de execução, deu conta do recado.

Havia um longo caminho à frente, com reformas que não se esgotariam em um curto governo de transição e, apesar da baixa popularidade, o governo Temer conseguiu importantes vitórias. Além de iniciar reformas no campo microeconômico aprovou uma nova lei do petróleo; teve sucesso na aprovação de uma emenda constitucional que fixou os gastos primários em termos reais; aprovou em primeira discussão uma reforma trabalhista que torna o mercado de trabalho funcional; e vinha progredindo nas negociações para a aprovação de uma reforma da Previdência, que marca um avanço.

Temer teve a virtude de endossar a agenda correta, e em grande parte devido a isso vinha conseguindo um mínimo de apoio político. Na questão ética, contudo, sempre andou sobre gelo fino. De um lado conseguiu evitar passos que pudessem ser punidos pela opinião pública, mas sempre tomando cuidado para não romper com antigos correligionários envolvidos em denúncias. Permaneciam os hábitos da velha política, com uma relação promíscua entre empresas corruptas e políticos em busca de apoio financeiro para se manter no poder a qualquer custo. Por várias vezes, esteve próximo de crises políticas que foram contornadas, mas o seu diálogo com Joesley Batista o expôs a uma crise de governabilidade que coloca em risco a continuidade das reformas, o que tira o que lhe resta de legitimidade para continuar exercendo o poder.

Era previsível que o risco de queda do governo se refletisse nos preços dos ativos, mas, ao contrário do que ocorreu quando ficou claro que o governo Dilma chegaria ao fim, a reação desta vez foi bem menos intensa. Na nossa interpretação, isso não se deve à crença de que Temer poderá sobreviver à crise, e sim à esperança de que a substituição será rápida e quem quer que seja que assuma a Presidência continuará executando a agenda de reformas macro e microeconômicas, mantendo uma equipe econômica com ampla competência para a execução das tarefas, como é o caso da atual. Esse é o passo importante que mantém o Brasil nos trilhos em busca de um futuro mais promissor.

O que a sociedade deseja é que as decisões do governo sejam tomadas visando a maximizar o bem-estar da população, criando condições para a redução do desemprego, e a manutenção das regras e dos contratos, de forma a estimular o crescimento em um ambiente de estabilidade econômica e sob o domínio da ética. O que a sociedade não deseja – e dificilmente aceitará – é que as negociações sejam realizadas com o objetivo de minimizar danos pessoais de políticos que incorreram em práticas ilícitas.

*ECONOMISTAS, SÓCIOS DA A.C. PASTORE & ASSOCIADOS

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