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''É da natureza humana buscar culpados''

Fabio Barbosa, presidente da Febraban, rebate acusações de que bancos sejam gananciosos

Por David Friedlander e Leandro Mode
Atualização:

Há meses, o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fabio Barbosa, pendura o braço direito numa tipoia por causa de uma tendinite. Mas nada o incomoda tanto quanto a acusação de que os bancos estariam tirando vantagem da crise para ganhar ainda mais dinheiro. "A única coisa que eu não aceito é que eu ou o sistema financeiro sejamos sacanas", disse. Semana passada, em entrevista ao Estado, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pediu cadeia para os banqueiros. Barbosa prefere não bater boca. Nas últimas semanas, empenhou boa parte do tempo em visitas a formadores de opinião, empresários e autoridades, para discutir tecnicamente o spread (diferença entre a taxa que o banco paga na captação do dinheiro e a que cobra do cliente), principal razão das críticas. "É um assunto complexo. A busca de soluções fáceis não vai nos levar a lugar algum." O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, pediu cadeia para banqueiros. O governo pressiona pela queda do spread. São injustas as críticas? Não vou cair nesse negócio de que são injustas. O spread no Brasil é o mais elevado do mundo e não tenho como dizer que não é. O spread subiu e não tenho como dizer que não subiu. Mas a questão é: não existem interesses antagônicos entre o que o sistema financeiro busca e o que o comércio, a indústria e o governo buscam. Nossos interesses são convergentes. Não é o que parece. Se são convergentes, por que, então, tanta pancada nos bancos? A crise, no mundo, foi causada por bancos. Portanto, há um clima contra os bancos. Aqui, é diferente. O sistema financeiro não criou problema nenhum, não pegou dinheiro público, não parou de emprestar. A discussão de spread no Brasil não vem de hoje... Não tenho o que fazer. Tomo porrada porque o spread brasileiro é mais alto do que em outros países. Ou a gente mexe nos impostos, mexe no cadastro positivo, mexe no direcionamento de crédito e no compulsório ou não vai baixar. Antes da crise, os juros eram altos. Veio a crise e subiram mais. Mas o que é alto? Comparado com o quê? Com outros países e a Selic. Ninguém pode dizer o que é alto ou baixo sem referência. Em relação a outros países, não dá para comparar (o spread) porque aqui há imposto sobre a intermediação financeira: IOF, PIS/Cofins e CSLL diferenciada (para o setor). Segundo ponto, não temos cadastro positivo. Terceiro: temos crédito direcionado. Quarto, temos compulsório. O assunto é de grande complexidade. A única coisa que eu não aceito é que eu ou o sistema financeiro sejamos (acusados de) sacanas. Tem gente séria do lado de cá. O sr. dá a entender que os bancos são bode expiatório. Mas do quê? De uma crise internacional que acomete o Brasil. Empresas que demitem também estão sendo acusadas, a imprensa de vez em quando é acusada. Como está a agenda de reformas? O cadastro positivo está parado no Congresso. Tem gente que diz que não queremos o cadastro positivo, mas eu, Fabio, presidente da Febraban e do Santander, digo: somos favoráveis ao cadastro positivo. Sei que é algo difícil, mas há a questão da tributação do sistema financeiro. Quer arrecadar imposto na intermediação financeira e quer que o spread seja baixo? Não dá. Estaria propondo acabar com (esses) impostos e cobrar de vocês. Ou seja, aumentar o Imposto de Renda para baixar o spread. Você quer? As pessoas não querem porque vai pegar no bolso. O governo optou por um caminho tributário na intermediação financeira. Tirar isso agora é difícil. Mas é por isso que você paga um pouco menos de imposto ou tem um serviço um pouco melhor. A sociedade em geral tem dificuldades para entender esse assunto, mas quem bate nos bancos sabe. Por que, então, banco vira lobo mau no meio da crise? A questão é: vamos buscar entender o assunto e tomar decisões que encaminhem o problema. Precisamos gastar mais tempo no diagnóstico. O problema não é má vontade dos bancos. Se fosse, estaria facilmente resolvido. Banco no Brasil é parceiro na solução. Muita gente ainda se queixa da falta de crédito. A sociedade não quer aceitar, mas o crédito não vai voltar a ser como antes. O que se faz? Busca-se um culpado. Não vai voltar, não adianta. Foi o excesso de crédito que criou o problema que temos hoje. Não tem dinheiro para todo mundo. O crédito está voltando, mas não como antes. Cobrem do (George W.) Bush, do (Barack) Obama, mas não de mim. Não consigo criar dinheiro. As empresas que antes pegavam dinheiro no mercado internacional agora estão pegando aqui dentro. Não tem dinheiro para todo mundo. Agora, se a minha carteira de empréstimos está crescendo, como é que alguém pode dizer que o banco não está emprestando? É lógico que estamos emprestando. Como os associados da Febraban encaram essas críticas? Estão preocupados ao ver que vai ganhando vulto uma visão que não corresponde ao que entendemos ser o problema. Os bancos nunca estiveram tão acuados... Nunca tivemos uma crise tão grande e nunca tivemos uma crise tão globalizada em cima de bancos, como agora. Vamos arranjar um culpado, é da natureza humana.

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