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É difícil combater o protecionismo

Por Alberto Tamer
Atualização:

A recessão se agravou nesta semana e o protecionismo se acirrou no mundo. Não há muito como combatê-lo agora. O efeito positivo - aumento da produção interna e do emprego -, aparece antes do negativo - a retração do comércio mundial, globalizando a pobreza. Os países em recessão querem primeiro reanimar seus mercados para só depois pensar nos parceiros comerciais. Preferem não lembrar que, agindo assim,podem jogá-los na mesma recessão em que hoje se afundam.E isso se voltará contra eles quando precisarem exportar mais para sustentar seus frágeis crescimentos. Primeiro, nós; depois, os outros. É o lema atual deles. Nada racional, mas que, para eles, pode funcionar por algum tempo. Mas não o suficiente para estabilizar suas economias. CONSUMIR É UM CAMINHO Os economistas já admitem que este será um ano perdido.Uns ainda não condenam medidas protecionistas; outros, como o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan, afirmam com grande lucidez que "empobrecer o vizinho ( com o protecionismo) acaba empobrecendo a todos." Enfraquecer o comércio entre as nações é abalar a economia mundial. TODOS SABEM MAS... Todos, economistas ou não, entendem e admitem isso, mas os governos estão assustados. Para eles, não é hora de ser racional, é de salvar a sua economia. E depois? Ora, dizem eles, o depois sempre vem depois. Quando o depois chegar, a gente vê... Um raciocínio simplório, mas eficiente no momento de pânico em que a ordem parece ser salve-se quem puder. ELES VÃO SE ENTENDER Duvido muito pelo que aconteceu até agora. Os países dos G-7, G-20 e todos os "gês" do mundo reuniram-se em novembro passado, em Washington, e se comprometeram oficialmente a não adotar medidas protecionistas. Brasil estava lá, num "gê"também. Pois bem. Quando voltaram para casa, os chefes do governo se assustaram com o que viram e foram os primeiros a proteger contra importações que estavam roubando espaço dos seus produtores agrícolas e industriais. O G-7 e mais a Rússia decidiram deixar de lado os outros "gês" menores, reuniram-se agora e certamente vão prometer tudo de novo. Por que não cumprem? Porque estão pressionados pela brutal realidade que assola seus países. Estados Unidos e Europa, que representam a metade do comércio mundial, afundam cada vez mais na recessão, seus trabalhadores estão sendo jogados na rua aos borbotões. Só nos Estados Unidos, são 3,6 milhões em apenas um ano. Hoje a média mensal de demissões está em torno de 500. Diante da magnitude da crise, em um momento de pânico, os países mais atingidos só irão deixar de se proteger quando equilibrarem suas economias. E ponto final.Tudo o mais são promessas que serão aprovadas e descumpridas. Não há como esperar muito daqueles que lideram o comércio mundial. E OBAMA TAMBÉM E querem saber? Obama se não está, vai figurar entre eles. Pode ser ideologicamente um defensor do livre mercado, mas enfrenta o tremendo desafio de salvar a economia de um país que depositou a última esperança no presidente que elegeu. Então é obvio ululante que, infelizmente, agora alguns governantes, desnorteados, decidiram ver. Então, é primeiro fortalecer suas próprias economias para que voltem a crescer. Como? Após muitas discussões acadêmicas, professores e economistas descobriram o óbvio. Para recuperar a economia de um mundo em recessão que derruba os mercados mundiais, é urgente, primeiro, aumentar o mercado interno, financiando direta ou indiretamente o consumo e a produção.Só agora os EUA estão fazendo isso e a Europa ensaia em começar. Facilitar o crédito ao consumidor, ao comprador de imóvel, de carro, de televisão, geladeira, liquidificador, tudo, enfim, que ele ainda precisa ou deseja, a produção e o emprego aumentar. É o caminho mais rápido para evitar ou sair da recessão. E só pode ser feito pelo Estado em um primeiro momento. Acho muitas vezes que os empresários se esquecem de que seus empregados também são compradores. Pode ser de outros, não do que produzem, mas o efeito em cadeia é o mesmo: consumo,investimento, produção,emprego gerando renda e demanda. E tudo recomeça. É um espécie de círculo virtuoso que a crise financeira e econômica bruscamente rompeu. É preciso reconstruí-la para que tudo volte à normalidade. E só o governo pode fazer isso injetando liquidez no sistema, investindo maciçamente e financiando os principais setores da economia. Se todos fizerem isso, mesmo que seja à custa de aumento de gastos, a economia mundial começará a se recuperar. O grande erro de Bush e sua equipe econômica foi concentrar-se mais no socorro ao sistema financeiro e deixar de estimular o mercado interno com o mesmo vigor e urgência. O DESAFIO O novo presidente decidiu fazer isso logo após ter sido eleito. É a peça chave mais urgente da recuperação econômica do país. O Brasil já vinha seguindo essa linha mesmo antes de se confirmar a recessão nos EUA e na Europa. Só falta agora mais a urgência e intensidade que o agravamento da crise exige. O novo desafio de Obama, neste momento, é conseguir apressar a execução do seu plano de salvação nacional.Quanto mais demorar, mais a recessão irá se prolongar. E isso pode levar anos e até transformar-se em depressão - uma tragédia. A salvação da economia mundial depende do sucesso urgente dessa tarefa. E nós fazemos parte dela. *E-mail : at@attglobal.net

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