Embora a indexação de preços seja um obstáculo para que a inflação perca força mais rápido neste começo de ano, especialmente no setor de serviços, a queda na demanda está fazendo com que prestadores cortem alguns preços para reverter esse quadro. Faz 20 dias que o restaurante e choperia Bier & Bier, em São Paulo, por exemplo, dá desconto de 50% no preço da cerveja nacional e de outras bebidas importadas no horário da happy hour, entre 17 horas e 20 horas. “Fizemos isso porque o movimento caiu muito e queremos chamar o cliente para a casa”, conta o gerente, Adriano Lucena Gomes.
Ele diz que cobrar R$ 3,95 pelo chope compensa quando o cliente pede um petisco, que não tem o desconto. Além disso, a promoção atrai mais clientes para a choperia, o que pode ampliar o volume de vendas. “É melhor pingar do que secar”, diz, lembrando que há meses positivos e outros negativos e um compensa o outro.
Além de cortar o preço da bebida na happy hour, o restaurante trocou o atendimento a la carte pelo buffet por um valor fixo ou por quilo na hora do almoço. Com isso, conseguiu multiplicar por quatro o número de clientes. “Estamos conseguindo sobreviver”, diz Gomes. Ele lembra que a pressão de custo neste ano é muito forte. Só pelo consumo de água, pagou uma multa de R$ 1,2 mil. A água é um preço administrado que, de certa forma, acaba pesando na formação de outros preços de serviços prestados.
Aluguel. Outro segmento cujos preços são indexados, porém formalmente, e que enfrenta problemas de queda de demanda, é o de locação. Depois de ficar quase oito meses com cinco imóveis residenciais vazios para locação na zona leste de São Paulo, a comerciante Débora Ferreira Campanhã decidiu reduzir o valor pedido, entre 15% e 20%, dependendo do bairro. “Nunca tinha acontecido isso antes”, diz ela, lembrando que, em outras épocas, demorava entre um e dois meses para conseguir um novo inquilino.
Os apartamento vazios representam uma despesa extra para a locadora que, além de não receber a renda do aluguel, precisa arcar com o condomínio e o IPTU. Temendo perder inquilinos, Débora avisou a imobiliária que administra outros cinco imóveis para não reajustar os aluguéis que deveriam, por contrato, ser corrigidos pelo IGP-M (de 10,54% em 2015).
Roseli Hernandes, diretora da imobiliária Lello, conta que, em janeiro, 35 dos contratos de locação administrados pela imobiliária tiveram redução do valor do aluguel. Em janeiro do ano passado, 0,4% dos contratos tiveram corte no preço.