24 de março de 2010 | 00h00
No contexto atual de nossa economia há dois fatores contribuindo para favorecer a aceleração da demanda: as transferências governamentais, que se fazem acompanhar pelo déficit primário das contas públicas, e a expansão do crédito sob todas as formas. A publicação pelo Banco Central dos dados relativos ao crédito no mês de fevereiro nos dá uma visão mais abrangente dos problemas.
Em 12 meses, o total das operações de crédito cresceu 16,6%, muito acima do crescimento do PIB. Costuma-se destacar o fato de que o crédito representa uma porção reduzida do PIB: 44,9%, ante 45% no final do ano passado, enquanto em outros países ultrapassa 100% do PIB. Convém, entretanto, levar em conta que estamos num país em construção e que a profunda desigualdade na distribuição de renda não permite ainda que uma grande parte da população tenha acesso ao crédito bancário.
É preciso verificar que existe entre nós uma estrutura de crédito totalmente diferente da de outros países. As pessoas físicas recebem créditos equivalentes a 15,05% do PIB, ante apenas 13,5% para as pessoas jurídicas. Os créditos destinados à habitação, que em 12 meses aumentaram 46,4%, representam, no entanto, apenas 20,5% dos outros créditos destinados às famílias, que no mesmo período aumentaram 17,8%. Existe, como se vê, um desequilíbrio no financiamento familiar, com preponderância para o consumo, sem falar ainda do uso dos cartões de crédito, que permite realizar compras financiadas por um ano ou mais.
Existem outras anomalias quando se leva em conta a taxa de juros: uma empresa paga um juro de 29,1% ao ano para capital de giro, mas seu empregado consegue crédito consignado a taxa de 27,5%.Todas as operações de crédito no Brasil são excessivamente caras, mas não se justifica o estímulo que foi dado aos consumidores em detrimento das atividades produtivas. Essa política creditícia se podia explicar num período de crise para estimular a economia. Hoje é tempo e hora de se pensar na sua revisão e forçar a população a comprar com parte da sua própria poupança.
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