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E no que vai dar tudo isso aí?

Por Marco Antonio Rocha
Atualização:

A pergunta que aflige a opinião pública consciente neste momento é se o governo Dilma acaba logo ou vai até 2018. Na boca do povo, a indagação é mais direta: o que é que vai sair de tudo isso aí e o que vai acontecer com a gente? Brasileiros jovens, universitários e pais de família com filhos pequenos devem estar se perguntando o que é que se pode ou se deve esperar para este país. Não no futuro abstrato, de longo prazo, mas no que as expectativas humanas normais abrangem. Crises políticas e econômicas o País já atravessou várias. Não ficou incólume, como costumam dizer os inocentes, mas sofreu solavancos nas suas instituições que sempre tornam os horizontes incertos e o chão, instável. Há pouco mais de 60 anos uma instabilidade política nascida com o suicídio de Getúlio Vargas e encerrada com a deposição de João Goulart nos mergulhou numa ditadura que durou formalmente 20 anos. Saímos dela para uma democracia que já tem 30 anos, codificada numa Constituição que completou 27, mas ainda estamos nos indagando se realmente temos instituições confiáveis. E não são poucos os que pregam, à vista dos últimos acontecimentos, o retorno dos militares. Seriam apelidados, em tempos idos, de "vivandeiros do caos". Mas vamos aos fatos concretos: 1) não há resposta para "o que é que vai sair de tudo isso aí?". Ninguém sabe, e ninguém tem condições nem de tentar responder; 2) mas há elementos para dizer o que vai acontecer com a gente: muito maiores dificuldades econômicas pela frente. Olhando os dois lados da crise que o País atravessa, o econômico e o político, o que se pode dizer com certeza é que, quanto mais tempo levar para desatar o nó político, mais difícil e prolongada será qualquer possível recuperação da economia. O Brasil andou para trás nos últimos anos, depois de ter andado para a frente. Não faz muito tempo, o ex-presidente Lula proclamava com euforia que o Brasil era a 6.ª economia do mundo, a caminho de se tornar a 5.ª e, talvez, ultrapassar a França. Se chegarmos ao fim deste ano em 15.º lugar, já será menos mal. Mas a economia mundial não perdoa quem se atrasa. É como numa corrida de Fórmula 1. Tem o pelotão da frente, com os campeões habituais - Europa Ocidental, América do Norte (cada vez mais absorvendo o México), China, Austrália, Nova Zelândia e Japão. Tem o pelotão dos esforçados - Brasil, Argentina, América do Sul em geral, África do Sul, Índia, Rússia, etc. E tem o pelotão dos retardatários, envolvidos em guerras, internas ou entre si, ou em situação de miséria tal que só sobrevivem com muita ajuda internacional. E o padrão do mundo econômico, das instituições financeiras, dos fundos, etc., é de favorecimento de quem está na frente na Fórmula 1 da Economia mundial. Quanto melhor vai uma economia, mais recursos de investimentos e de financiamentos ela recebe. Há dez anos falecia, aos 76 anos, Andre Gunder Frank, economista doutorado na Universidade de Chicago, de linha ortodoxa, onde foi aluno de Milton Friedman. Não obstante, tornou-se um economista "de esquerda" nos EUA, num tempo em que todo economista que não rezasse pela cartilha de Chicago era tido como "de esquerda". Além disso, foi colaborador da Monthly Review, publicação alegadamente do Partido Comunista americano. No seu livro O Desenvolvimento do Subdesenvolvimento, Gunder Frank mostrava que o subdesenvolvimento de uma economia se autoalimenta. Hoje em dia, é visível que o desenvolvimento também se autoalimenta, como ficou claro com a China nos últimos 20 anos. O Brasil está numa perigosa curva do espaço-tempo econômico. Com as quedas do PIB nos últimos anos e a perspectiva de ele tornar-se negativo, atrasou-se na corrida da Fórmula 1 Econômica mundial, e esse atraso se pode autoalimentar, deixando o País de oferecer o futuro promissor que sempre apresentou.* Marco Antonio Rocha é jornalista. E-mail: marcoantonio.rocha@estadao.com

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