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E o dólar vai continuar caindo

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Por Redação
Atualização:

O dinheiro que estava escondido, assustado, com medo da crise, voltou a circular no mercado financeiro internacional. Saiu do abrigo e passou a correr o mundo em busca de rendimentos lucrativos em países de baixo risco. Como o Brasil. Os dólares invadem nosso mercado atestando o acerto da política econômica, reforçada pelo que estamos fazendo para superar a recessão sem os traumas que abalam outros países. O mundo está vivendo uma terceira fase da crise, o retorno da liquidez no mercado financeiro internacional provocado pela enorme injeção de recursos feita pelo governo americano. O Deutsche Bank estima que, entre gastos fiscais e demais socorros para conter a recessão, o governo injetou a "astronômica soma de US$ 14,9 trilhões, mais do que o próprio Produto Interno Bruto! Além disso, o juro básico está praticamente zero e a base monetária aumentou assombrosos 350%. Tudo isso representou uma avalanche de dólares na economia para afogar de vez a recessão. Hoje, os bancos americanos têm reservas ociosas de US$ 800 bilhões que estão depositadas no próprio Federal Reserve (Fed, o banco central americano), informa Yoshiaki Nakano, diretor e professor da FGV, em artigo publicado na terça-feira no Valor. Os bancos retomaram as operações de crédito, mas com juros próximos de zero há pouco atrativo no mercado interno. Esses recursos estão sendo destinados mais a investidores financeiros (Nakano os chama de especuladores) que estão acorrendo a países emergentes, onde obtêm mais lucro. Aqui, entramos nós. E por cima. Somos o destino principal dessas aplicações por dois motivos: taxa básica de juros de 10,25% e a política econômica fortalecida pelas eficientes medidas anticíclicas. Essa conjugação de rentabilidade elevada e segurança explica o crescente afluxo de dólares e a alta recente na bolsa. DÓLAR DE MAIS FAZ MAL Até aí, tudo bem. Os bilhões de dólares estão entrando no País com quatro efeitos positivos: 1 - permitem aumentar as reservas; 2 - compensam a o recuo do superávit comercial; 3 - equilibram as contas externas; e 4 - proporcionam ao governo recursos para financiar as exportações. Mas o fato negativo é a desvalorização do dólar provocada pelo excesso de oferta, o que torna menos competitiva essas mesmas exportações. Em um único dia, terça-feira, o dólar recuou 1,5%. No ano, a desvalorização já chega a 17,6%. DÓLAR VAI RECUAR MAIS Nakano projeta um cenário cambial nada animador. O dólar deve continuar caindo. O mercado estima que venha para R$ 1,80, mas ninguém pode afirmar que fique aí. Por que esse pessimismo com relação à cotação da moeda americana? Porque enquanto os investidores financeiros tiverem lucros que jamais obteriam no exterior continuarão vindo para o Brasil, trazendo mais dólares. E quanto mais dólares, maior oferta e maior desvalorização do dólar ante o real. O que fazer? O governo não sabe ainda. Por enquanto, sabe apenas que seria uma imprudência mudar agora a política de câmbio flutuante. O desafio do momento não é como afastar, mas como controlar o afluxo de capital especulativo que não para de entrar no País. Nakano não alimenta a menor dúvida: é o diferencial entre o juro interno e o externo que atrai esse capital. Ele recomenda a redução da taxa básica, origem do lucro excessivo. Nos países desenvolvidos, o juro beira 1% ou quase zero, e aqui é de 10,25%. Assim, conclui ele, o lento ritmo da queda dos juros e a expectativa de valorização tornam o real "uma aplicação de altíssimo retorno em meio a uma grande crise financeira". E QUAL A SAÍDA? Para Nakano, o Tesouro e o Banco Central não podem evitar a valorização do real sem alterar o regime de câmbio flutuante. A saída é reduzir os juros para reduzir também o rendimento e a voracidade por lucro dos investidores externos. JUROS INTERNACIONAIS Mais uma questão em aberto. Mesmo que os juros caiam, digamos, para 5% ou 6% ao ano, o diferencial entre a taxa interna e a externa continuará proporcionando ao investidor externo lucros maiores no Brasil. Eles não só não sairão daqui, mas continuarão vindo. Entrarão menos dólares, sim, mas continuarão entrando. O real continuará sendo a commodity do momento. Isso só mudará se o cenário externo se alterar e se os juros nos EUA e na Europa voltarem a subir este ano, no que ninguém acredita. Depois da recessão, o mundo levará ainda muito tempo para voltar a crescer. O dólar vai continuar a cair enquanto nada se decide. E, acreditem, não há pouco para se decidir no momento. Vamos continuar sofrendo, ainda por algum tempo, as dores do sucesso. *E-mail: at@attglobal.net

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