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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|É o galope do comércio eletrônico

Ao olhar para trás, qualquer um pode conferir a magnitude da expansão do setor no País; há sete anos, o faturamento era de R$ 18,7 bilhões

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Até 2030, mais de 80% do comércio mundial será feito pela via eletrônica, com apenas alguns cliques no computador ou com toques na tela do celular. É o que prevê Jack Ma, cofundador da Alibaba, gigante chinesa de vendas por via eletrônica.

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Somente neste 2018, o e-commerce global deve ter crescido 14% e movimentado US$ 2,8 bilhões, diz a empresa de pesquisas eMarketer.

Boa espichada recente aconteceu dia 11 de novembro, Dia do Solteiro, a versão chinesa do Black Friday. Em 24 horas, o Alibaba, site que promoveu o evento de ofertas online, vendeu US$ 30,8 bilhões em produtos de todo tipo.

No Brasil, onde as compras online ainda respondem por não mais do que 5% do volume de vendas do varejo, estimativas da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) apontam que, em 2018, as vendas online devem faturar até R$ 69 bilhões, cerca de R$ 10 bilhões a mais do que em 2017. Ao olhar para trás, qualquer um pode conferir a magnitude da expansão do setor no País. Há apenas sete anos, o faturamento era de R$ 18,7 bilhões.

Esse crescimento ajuda a entender por que 8 mil lojas foram fechadas entre 2017 e 2018 nos Estados Unidos, como demonstra a consultoria Coresight Research. Esse avanço não impõe renovação somente às lojas físicas. Até mesmo as varejistas que nasceram no mundo virtual enfrentam desafios para atender à demanda crescente. Para atender melhor o cliente, procuram descobrir a natureza de seus hábitos de consumo. Também se empenham em descobrir meios para baratear o frete e para lidar com a concorrência que passou a ignorar barreiras geográficas.

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Nos últimos anos, as empresas virtuais expandiram seus espaços físicos para expor e, mesmo, para vender produtos. A norte-americana Amazon, por exemplo, abriu algumas livrarias nos Estados Unidos e recentemente inaugurou uma loja em Nova York apenas com os produtos mais procurados em seu site. Também comprou, em 2017, a rede de supermercados WholeFoods. Estratégia similar é adotada na China pela agressiva concorrente Alibaba.

A integração entre lojas físicas e virtuais recebe o nome de omnichannel. A loja pode, por exemplo, ser apenas um show-room, onde o interessado experimenta o produto e pede informações adicionais ao atendente. A compra pode ser concluída pela internet. Pesquisa da Experian Hitwise dá dimensão da importância de estratégias como essa: no Brasil, somente 1,65% do que vai para o carrinho virtual, que aparece em toda página de vendas da internet, se transforma em compra efetiva. A integração dos canais de venda amplia as oportunidades de fisgar um cliente em potencial.

O professor do Departamento de Mercadologia da FGV-EAESP Leandro Guissoni adverte que a tendência exigirá esforço de reinvenção por parte da força de trabalho hoje alocada no varejo. Nas lojas físicas, é preciso que o vendedor seja mais qualificado do que é hoje e tenha conhecimento aprofundado do segmento em que atua. As lojas de confecção terão de contar com verdadeiros consultores de moda e estilo. Nas de aparelhos eletrônicos, os profissionais deverão responder a especificidades técnicas dos produtos. Sai o vendedor, entra o consultor.

Os profissionais que atuam virtualmente deverão ter capacidade de análise dos dados gerados pelo consumidor, avalia Guissoni. Na internet pode-se saber mais do cliente do que na loja convencional. Cada clique pode gerar informações preciosas a serem levadas em conta. Além de mão de obra mais capacitada, o varejo online cria outras necessidades, em especial na área de infraestrutura. O transporte das mercadorias no Brasil ainda tem um custo muito alto. Corresponde a 58% das despesas com logística das lojas online, como apontam dados do Sebrae.

Também é preciso encarar as dificuldades de acesso. Só é potencial comprador quem navega na internet. No Brasil, mostram dados da Pnad (pesquisa do IBGE), mais de um terço dos lares ainda não dispõe de conexão com a internet.

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Como superar o desafio? Por enquanto, a principal resposta tem sido a expressiva expansão da rede móvel, ou seja, o acesso à internet por celulares e tablets. Enquanto abala as estruturas do varejo tradicional, o e-commerce descobre a necessidade de também se adaptar às mudanças que promove. / COM RAQUEL BRANDÃO E HANNAH CLINTON, ESPECIAL PARA ‘O ESTADO’

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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