Desde que o governo estadual do Rio anunciou que atrasaria até 12 de maio o vencimento de março dos servidores aposentados e pensionistas que ganham mais de R$ 2 mil líquidos, no último dia 12, a tensão marca o dia a dia da dentista Djaura dos Santos de Oliveira, aposentada após 34 anos de trabalho em hospital público. Após a Justiça mandar bloquear R$ 649 milhões de contas bancárias do Estado e obrigar o pagamento, na última segunda-feira, Djaura passava no banco diariamente, checando o extrato duas, três vezes ao dia. Na quinta-feira, a aposentadoria de R$ 2.430 entrou.
“Por coincidência, a fatura do cartão de crédito vencia hoje (quinta)”, disse Djaura. O débito somava R$ 5 mil. Pagar despesas gerais no cartão, como os cerca de R$ 300 mensais em remédios, foi uma estratégia para lidar com os atrasos na aposentadoria. Djaura mora com o marido, aposentado pelo INSS. Gasta pouco mais de R$ 1.000 com plano de saúde, R$ 1.200 com condomínio.
Outra saída: quitou a primeira parcela do IPVA do carro, mas atrasou a segunda e a terceira. Para aumentar a renda, passou a atender emergências, nos fins de semana, no consultório particular que mantém há cinco anos na Tijuca, zona norte do Rio.
Aos 67 anos, a rotina pesa. No dia em que falou ao Estado, Djaura contou que dispensara duas consultas à tarde, após uma crise de pressão alta, controlada com medicação. Para piorar, o alívio de ver o depósito da aposentadoria na quinta-feira passa longe de acabar com a incerteza. “E o mês que vem? Como será?”