‘É olhar o mercado e buscar oportunidades’
Com o mercado ainda‘nebuloso’ por conta do coronavírus, executivo vê chances de ganhosna área de consumo
Entrevista com
Will Landers, chefe da área de renda variável da BTG Asset Mamagement
Entrevista com
Will Landers, chefe da área de renda variável da BTG Asset Mamagement
16 de março de 2020 | 04h00
Completando um ano à frente da área de renda variável da BTG Asset Management, e em meio à turbulência global causada pelo coronavírus, Will Landers afirma que o impacto da pandemia ainda é uma incógnita. “Ainda está tudo nebuloso e a volatilidade é muito grande”, diz ele. Apesar disso, avalia que a Bolsa brasileira está relativamente barata, além de enxergar com bons olhos o setor de consumo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Acho que não dá para chamar de fantasia. Sem dúvida tem uma questão financeira para o mercado, de qual vai ser o impacto econômico mundial dessa crise. Aqui nos Estados Unidos já vemos o fechamento de escolas e pessoas tendo de trabalhar de casa. Muitos dos bancos brasileiros e americanos estão tendo restrições de viagens. Isso tudo tem um impacto primário e secundário nas economias. É difícil quantificar para cada setor e companhia porque não sabemos qual vai ser a duração desse pânico.
É bem diferente. O coronavírus afeta as pessoas fisicamente. Não sabemos se vai ter uma vacina até o próximo inverno. Em 2008, o quantitative easing (política de flexibilização monetária do Fed) foi uma bomba atômica na crise. Agora, esse mecanismo vai ajudar o mercado, mas não cura o vírus. A grande incerteza é quanto tempo isso vai durar. E ainda há a Arábia Saudita afetando o preço do petróleo.
Nossa capacidade de ter um hedge é limitada. É olhar o mercado e buscar oportunidades. E esperar que o cotista tenha paciência também. Ainda está tudo nebuloso e a volatilidade é muito grande. Estamos fazendo ajustes pequenos no portfólio, comprando companhias que gostamos e tendo um pouquinho mais de caixa do que o normal.
Continuamos com posições menores em outros países (da América Latina) do que no Brasil, com preferência por companhias de consumo, e-commerce. Reduzimos a exposição a petróleo e commodities pela crise na Arábia Saudita e pelo que está acontecendo na China. Mas o Brasil continua bem e agora o valor no setor de consumo discricionário (consumo sensível aos ciclos econômicos) baixou a níveis mais interessantes.
Relativamente. A Bolsa agora negocia a múltiplos bem abaixo da média histórica da última década. Apesar do barulho político recente, o Brasil está com risco país bem abaixo da média desse mesmo período, com a aprovação de várias reformas nos últimos quatro anos. Isso me leva a crer que a Bolsa merece voltar a negociar a um prêmio versus sua história quando essa crise de covid-19 passar e o mercado de petróleo se recuperar um pouco dessa guerra comercial.
Vi dinheiro saindo da Bolsa, mas também entrando através das operações de IPO (oferta pública inicial de ações) e secundárias (em 2019). O que não houve realmente foi um monte de investidor vindo para o mercado brasileiro depois da reforma da Previdência, ao contrário do que se esperava.
Porque os investidores não viram até agora o crescimento econômico como resultado das reformas. Está demorando porque está havendo a transferência de liderança no crescimento do governo para o setor privado. Esse período de transição faz com que o PIB não cresça tanto. Mas está na direção certa, com uma situação fiscal e monetária melhor, uma taxa de juros mais compatível com a do resto do mundo. É um processo de normalizar uma economia e muitos ainda não se acostumaram a essa nova realidade.
Acho que, neste momento de mercado, é muito difícil uma companhia começar esse processo de fazer road show (com investidores) e, de outro lado, é difícil saber quando a precificação vai ser boa. Tem de deixar o mercado se acalmar.
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