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É preciso melhorar a imagem dos defensivos agrícolas

Para especialistas, risco de uso de agrotóxicos caiu muito e há dados incorretos no debate sobre o tema

Por Tania Rabello e Cleyton Vilarino
Atualização:

A discussão sobre o uso de defensivos agrícolas tem disseminado muitas inverdades, segundo especialistas presentes ao Fórum Estadão Agronegócio Sustentável, esta semana, em São Paulo. “Quando a gente analisa usando ferramentas científicas criteriosas, chegamos à conclusão de que o Brasil faz uso bastante racional de defensivos”, explica o professor Caio Carbonari, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp Botucatu.

Segundo ele, os níveis de risco de toxicidade observados nas maiores culturas do País, entre elas soja, milho e algodão, foram reduzidos em 40% de 2002 a 2015. “É totalmente injusto jogar a pecha sobre o agronegócio de que não usamos corretamente os defensivos.” 

Clarice Couto (E), mediadora; Menten, da Esalq; Venâncio, da Agricultura; Gomes, da Anvisa, e Carbonari, da Unesp Foto: Hélvio Romero/Estadão

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“Os indicadores estão sendo aplicados de forma errada”, observa o professor da Esalq-USP José Otávio Menten, presidente do Conselho Científico Agro Sustentável. Para ele, “não tem sentido falar em 5 litros de agrotóxico por habitante/ano”, uma vez que ninguém aplica defensivos por pessoas, mas em área.

Carbonari lembrou que a aplicação correta de agroquímicos está intimamente ligada à sustentabilidade no agronegócio, uma vez que está relacionada ao aumento da produtividade – o que significa produzir mais na mesma unidade de área, reduzindo a necessidade de expansão. “Se quisermos continuar produzindo na escala atual, é difícil a gente abrir mão dessas tecnologias”, destaca o professor.

A postura contrária ao uso de defensivos disseminada no País, segundo Menten, tem prejudicado o agronegócio. “Existem normas claras sobre o uso seguro de defensivos. O que a gente usa aqui em termos de unidade de área e produção nos coloca numa situação muito melhor quando comparado a países com regulação forte, como Japão, Holanda e França”, ressaltou o professor da Esalq-USP.

O benefício para pequenas culturas

O registro de defensivos para pequenas culturas deve contribuir para melhorar a imagem do setor de frutas, verduras e legumes, avalia Carlos Gomes, gerente de toxicidade da Anvisa. Segundo ele, há 1.250 novas indicações de bula para produtos que não possuíam nenhum registro até 2014. “Isso vai trazer uma nova imagem para o produto que for monitorado, além de ter mais regularidade e percepção da qualidade do alimento brasileiro”, observa. 

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Ele reconheceu a demora dos órgãos reguladores na aprovação de novas moléculas, o que gera defasagem das tecnologias aplicadas no campo. “A Anvisa vem trabalhando, tentando agilizar o processo de análise de produtos sem abrir mão da qualidade da nossa análise. Isso é fundamental”, explica Gomes.

De acordo com o gerente da Anvisa, o foco do órgão tem sido a segurança ocupacional do trabalhador rural diante do problema “crítico” das intoxicações durante a aplicação de químicos nas lavouras. “Por isso, precisamos buscar ferramentas adequadas e produtos menos tóxicos para que essa exposição não leve a algum problema ao trabalhador”, ressaltou, ao alertar sobre as subnotificações de casos.

Na visão de Menten, da Esalq-USP, o problema é “micro”, com apenas 9% dos casos de intoxicação registrados no País relacionados à contaminação pelo uso de agrotóxicos. “A intoxicação só ocorre se os equipamentos de proteção individual (EPI) não forem usados. É injusto generalizar como se fosse uma grande falha do agronegócio brasileiro”, observa Menten.

Com opinião semelhante, Carbonari, da Unesp Botucatu, ressalta que não há dados sólidos sobre o problema. “Afirma-se que para cada notificação (de intoxicação por agrotóxicos) há outras 50 não notificadas. Não encontramos dados sobre isso. Não é dado. É opinião. Temos de ter cuidado com um assunto tão importante e de tamanho impacto ao agronegócio.” 

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O peso dos agrotóxicos no custo de produção já faz com que os agricultores queiram usar cada vez menos esses produtos, mencionou o coordenador-geral de Agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Carlos Ramos Venâncio. “Em média, esses produtos representam 30% do custo de uma lavoura”, disse. “Existe, por isso, um forte movimento de agricultores para baixar custos e ter maior produtividade.” 

Venâncio acrescentou que, hoje, se vê um uso muito grande de produtos biológicos nas lavouras, por exemplo, vírus para controle de lagartas que atacam a soja ou o milho. “Os próprios agricultores desejam usar esses produtos, desde que sejam eficientes, independentemente de serem químicos ou biológicos.”

Outro ponto relevante é que nunca se registrou tanto produto de baixa toxicidade como atualmente. “Vemos tendência de registro para pequenas culturas cada vez maior.” 

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Desinformação no setor

A comunicação do agronegócio sobre suas práticas de cultivo e meios de produção foi alvo de críticas durante o evento. Para Menten, “o setor como um todo se comunica muito mal”. “Essas informações, no que se refere ao uso de defensivos, têm de ser comunicadas de maneira correta. E as melhores fontes de informação são os profissionais do agronegócio”, ressaltou o professor.

Segundo Venâncio, há muita desinformação por parte da população. “O que fazemos hoje em relação há dez anos mudou drasticamente. Imagine em relação há 30 anos, quando foi promulgada a Lei de Agrotóxicos”, ao destacar que os produtores premiados por seus índices de produtividade no País têm sido, justamente, aqueles que adotam práticas sustentáveis.  Escolhida para assumir o Ministério da Agricultura no governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS) afirmou no início do mês que a pauta sobre modificações nas regras sobre agrotóxicos “terá muito espaço” para discussões dentro da pasta.

“O setor faz muito, faz bem e comunica mal. Isso é consenso, todo mundo tem essa visão, mas muito pouco tem sido feito para reverter isso”, criticou Carbonari, da Unesp Botucatu. 

O Paraná e o agronegócio

O Paraná pode assumir o protagonismo na produção de alimentos, disse o governador eleito do Estado, Ratinho Júnior, que participou do fórum. Ele afirmou que o Paraná já é o maior produtor de alimentos por metro quadrado do mundo, colhe 20% da safra de grãos do País e é a segunda maior bacia leiteira brasileira. Além disso, nas granjas paranaenses é produzido o maior volume de proteína animal do País. “A matriz econômica do nosso Estado é o agronegócio e agora começa a surgir uma consciência coletiva forte disso.”

Ratinho Jr., governador eleito do Paraná, participa do fórum em São Paulo Foto: Hélvio Romero/Estadão

Ratinho Jr. contou ter ido à China três vezes e, na terceira, viu os chineses preocupados em como alimentar os atuais 250 milhões de idosos, que, em 2050, serão 500 milhões com mais de 60 anos. “O governo vai ter de dar alimentos para essas pessoas, que provavelmente já estarão fora do mercado de trabalho, e o Brasil contribuirá.”

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